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4,4
1528 notas
Você assistiu A Onda ?

40 Críticas do usuário

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17 críticas
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4,5
Enviada em 25 de fevereiro de 2025
Dirigido por Dennis Gansel, A Onda é um filme que transcende a mera adaptação literária, transformando-se em um perturbador espelho das fragilidades democráticas. Baseado no experimento real de Ron Jones, o longa explora como um professor alemão, Rainer Wenger (Jürgen Vogel), conduz uma turma de estudantes a recriar os mecanismos de um regime autocrático. O resultado é uma narrativa tensa e reflexiva, que questiona a imunidade das sociedades modernas ao fascismo. Esta resenha analisa os elementos-chave do filme, desde sua construção narrativa até seu impacto social, destacando suas virtudes e contradições.

O enredo de A Onda estrutura-se como uma tragédia moderna, onde a didática pedagógica se converte em um jogo perigoso. A premissa — um professor que simula um regime autocrático para ensinar sobre seus perigos — é ironicamente subvertida quando o experimento escapa ao controle. A progressão do plot é meticulosa: pequenos gestos de disciplina (como exigir que os alunos se levantem para falar) evoluem para símbolos de poder (saudações, uniformes) e, finalmente, para a violência coletiva. A tensão cresce de forma orgânica, refletindo a sedução do autoritarismo para jovens ávidos por pertencimento.

No entanto, a trama peca por acelerar a transformação dos personagens, especialmente Marco (Max Riemelt), cuja agressividade surge abruptamente após conflitos com Karo (Jennifer Ulrich). Ainda assim, a escalada narrativa é eficaz ao ilustrar como a busca por identidade e ordem pode degenerar em fanatismo, culminando no trágico desfecho de Tim (Frederick Lau), cujo desespero simboliza o vazio deixado pela desilusão ideológica.

Jürgen Vogel brilha como Rainer Wenger, equilibrando carisma e arrogância. Sua transformação de professor descontraído em líder messiânico é gradual e convincente, especialmente em cenas como o discurso no auditório, onde seu tom paternalista revela uma ambiguidade moral. Entre os alunos, Frederick Lau rouba a cena como Tim: sua interpretação vulnerável e obsessiva humaniza o personagem, tornando sua tragédia pessoal a mais comovente do filme. Jennifer Ulrich, como Karo, personifica a resistência ética, embora seu arcabouço emocional pareça às vezes rígido, limitado pela escrita que a reduz a "a voz da razão".

O elenco coletivo, porém, falha em aprofundar personagens secundários, como Lisa (Christiane Paul), cuja motivação para aderir à Onda permanece superficial. Essa superficialidade, contudo, pode ser interpretada como uma metáfora da massificação — os indivíduos diluem-se no grupo, perdendo singularidade.

O roteiro de Gansel e Peter Thorwarth é ambicioso ao discutir temas complexos como conformidade e poder. Os diálogos iniciais, que estabelecem o ceticismo dos alunos ("O nazismo nunca voltaria aqui!"), são eficazes em criar ironia dramática. A estrutura em atos — da formação da Onda à sua dissolução — segue uma lógica clássica, mas a força do texto está em suas nuances psicológicas. Por exemplo, a cena em que Tim queima suas roupas é uma metáfora visual potente de renúncia à individualidade.

Contudo, o roteiro oscila entre o subtil e o didático. Certos momentos, como a discussão entre Rainer e Anke (Christiane Paul), sua esposa, soam expositivos, como se o filme desconfiasse da capacidade do espectador de captar subtextos. Além disso, a representação dos "inimigos" (a turma da anarquia) é simplista, reduzindo o conflito ideológico a uma rivalidade de gangues.

A direção de fotografia de Torsten Breuer merece destaque pela forma como traduz visualmente a evolução da Onda. No início, as cores são naturais e as cenas em sala de aula têm composições caóticas, refletindo a liberdade individual. À medida que o movimento se fortalece, o visual torna-se mais uniforme: planos simétricos, tons de branco e azul dominam, e closes nos rostos dos alunos destacam sua homogeneização.

Cenas-chave, como o tumulto no jogo de polo aquático, são filmadas com uma câmera dinâmica, transmitindo o caos daquela ruptura. Já o clímax no auditório utiliza iluminação contrastante (luzes frias contra sombras) para enfatizar a dualidade entre o líder e a massa. A escolha de enquadrar Tim isolado em vários planos reforça sua solidão existencial, preparando o terreno para seu trágico desfecho.

A trilha sonora, composta por Heiko Maile, mescla eletrônica industrial com elementos punk, ecoando a contradição entre rebeldia e controle. As guitarras distorcidas associadas a Rainer (que ouve punk) simbolizam sua identidade anticonvencional, enquanto batidas rítmicas marcam a ascensão da Onda, evocando marchas militares.

No entanto, a música por vezes é sobreutilizada, como na cena do suicídio de Tim, onde o silêncio poderia ter sido mais impactante. Ainda assim, a trilha cumpre seu papel ao sublinhar a atmosfera de tensão crescente, principalmente nas cenas de confronto entre os grupos.

O desfecho é o ponto alto do filme, sintetizando suas temáticas de forma visceral. A reunião final no auditório, onde Rainer desmascara a manipulação, é uma crítica mordaz à cumplicidade da audiência: os alunos, antes entusiasmados, percebem-se cúmplices de um sistema opressor. A morte de Tim, no entanto, é o golpe mais contundente — sua arma, símbolo de uma falsa proteção, vira instrumento de autodestruição.

A escolha de incluir um suicídio (inexistente no experimento real) é controversa: enquanto alguns podem vê-la como melodramática, ela serve para chocar o espectador, lembrando que o autoritarismo não é um jogo intelectual, mas uma força destrutiva. A imagem final de Rainer algemado questiona onde reside a culpa: no indivíduo que inicia o experimento ou na sociedade que o permite.

A Onda é um filme necessário, mas não imune a críticas. Como estudo sobre a psicologia de massas, é brilhante: mostra como a necessidade de pertencimento, a disciplina e o medo do "outro" podem ressignificar valores éticos. Sua relevância é inegável em tempos de polarização política e ascensão de líderes populistas.

Por outro lado, o filme simplifica questões complexas. A velocidade com que os alunos aderem à Onda pode parecer implausível, e a representação maniqueísta de "bons" (Karo) versus "maus" (a Onda) reduz nuances. Ainda assim, essas escolhas são justificáveis no contexto de um thriller que prioriza o impacto emocional sobre a análise sociológica profunda.

A Onda não é apenas um filme sobre o passado; é um alerta para o presente. Ao retratar a facilidade com que jovens supostamente esclarecidos reproduzem comportamentos autoritários, Gansel nos confronta com uma pergunta incômoda: estamos realmente imunes ao fascismo? A força do filme reside em sua capacidade de transformar uma aula de história em um espelho distorcido — e assustadoramente familiar — da condição humana. Imperfeito, mas indispensável, A Onda permanece como um dos mais relevantes filmes europeus do século XXI.
5,0
Enviada em 29 de janeiro de 2025
Um filmaço filme mostra muita atualidade muito legal muito legal de assistir muito bom ser incrível ótimas atrações ótimos diálogos boa história muito legal
Fabiovr

8 críticas

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5,0
Enviada em 3 de janeiro de 2025
Simplesmente excepcional. Lamentavelmente e eternamente atual.
Há uma receita para controlar e manipular pequenos e grandes grupos.
Quem não viu deve correr pra ver! OBRIGATÓRIO!!
4,0
Enviada em 14 de agosto de 2023
Filme interessante, tem alguma semelhança com o filme Sociedade dos Poetas Mortos. Pontos fracos que podem ser apontados são o engajamento forçado dos alunos no movimento e alguns personagens clichês. Como ponto forte, pode ser mencionado a tensão crescente, que tem o seu clímax na cenas finais.
4,5
Enviada em 3 de abril de 2021
Filme atemporal, mais que necessário, um filme didatico usado em salas de aula como estudo no mundo inteiro. Arrebatador!
4,0
Enviada em 10 de fevereiro de 2021
Muito Bom! Filme alemão baseado em fatos reais, com bom elenco e performances, Roteiro baseia- se no autoritarismo fascista, apesar de faltar capricho nas cinematografia, o filme nos dar a oportunidade de refletir sobre muitas coisas e ser uma pessoa melhor. Vale muito a pena assistir.
4,0
Enviada em 16 de setembro de 2020
Outro filme alemão extraordinário. Quando um experimento acadêmico foge ao controle e explicita a essência do autoritarismo. Como as pessoas em grupo perdem a personalidade, passam a ser envolvidas pelo autoritarismo!
5,0
Enviada em 9 de setembro de 2020
Ótimo Roteiro, filme Mostra a todos que o fascismo e suas múltiplas facetas estão muito mais perto que todos possam
Imaginar !
3,5
Enviada em 19 de julho de 2020
Um ótimo filme para você colocar uns trechos no Facebook !
É um filme exótico que que exagera mas não deixa de expor a realidade,não é spoiler que o enredo desse filme é uma sala de aula cujo os alunos viram fascistas a mando do professor,e o filme força muito,e força propositalmente.
O final do filme é previsível,quando chega no começo segundo ato qualquer pessoa com 2 neurônios já consegue adivinhar o final,o filme possui tantos personagens,que não conseguimos decorar o nome de ninguém e nem se importar com alguém,pois o roteiro não trabalha tão bem a profundidade de nenhum personagem.
O elenco trabalha bem, destaque para o ator Jürgen Vogel interpreta muito bem um professor que se perde no oque está fazendo,e o resto do elenco é bastante competente.
Um bom filme porém cheio de falhas.
NOTA:3.65
4,0
Enviada em 17 de abril de 2020
Muito interessante,serve para a gente perceber que o passado talvez não esteja tão longe assim e como podemos ser facilmente influenciáveis,ainda mais quando somos jovens.
Logo no início,ele já explica o significado de Autocracia(governar a si próprio)e ainda teria muito mais por vir.
A casa dele ser um barco,achei demais (até pensei em viver assim),mas só mais pra frente percebi o seu real significado combinando com o título do filme e a situação que se formaria.
A ideia do experimento é um máximo,mas será que tem a opção desinfluenciar para parar?!
Só depois de assistir que notei que era baseado em fatos reais e realmente teve um professor,Todd Strasser que fez essa experiência nos EUA,ele chegou até a escrever um livro,deve ser interessante,mas parece que não tem tradução para o Brasil (deve ser para não dar ideia)
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