Minha conta
    Coisa Mais Linda: Crítica da 2ª temporada na Netflix

    Produção brasileira mantém em alta suas questões atemporais, ainda que com menos impacto.

    NOTA: 3,0 / 5,0

    ATENÇÃO! O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS DE COISA MAIS LINDA.

    O primeiro ano de Coisa Mais Linda trouxe um comovente lembrete do que foi (e ainda é) dito e feito com relação às mulheres, sejam elas negras ou brancas. Ao costurar questões atemporais como o papel da mulher em uma sociedade machista, abuso físico e mental, preconceito racial e a independência que pode ser facilmente conquistada uma vez que a liberdade torna-se uma realidade, a série original Netflix alcançou altos níveis de camadas e reflexão. E tudo com um belo contraponto: o colorido Rio de Janeiro dos anos 50/60, regado pela novidade da Bossa Nova.

    Portanto, para além de todos os elementos-chave que formaram a identidade e o propósito da série, a 2ª temporada de Coisa Mais Linda contava com diversas ferramentas de desenvolvimento futuro: junto com o chocante cliffhanger (gancho que fará ligação com a próxima etapa da história) no último capítulo, havia a expectativa de como Malu (Maria Casadevall), Adélia (Pathy Dejesus), Thereza (Mel Lisboa) e Lígia (Fernanda Vasconcellos) se adaptariam a tantas mudanças que apareceram em suas vidas repentinamente com a abertura do clube de música.

    SÉRIE PERMANECE TRAZENDO REFLEXÃO SOBRE QUESTÕES ATUAIS, MAS ELAS SÃO REDUZIDAS DIANTE DE CONFLITOS AMOROSOS E INCERTEZAS

    Sonhos foram interrompidos na season finale mas, querendo ou não, um novo horizonte também se abriu no novo ano - especificamente com relação à protagonista Malu. Após sair do coma devido ao tiro que levou do marido de Lígia, Malu acorda em um mundo sem a melhor amiga e sem a esperança de que ela realizaria um grande sonho profissional, tal como a dona do Coisa Mais Linda.

    Porém, a amargura do feminicídio e o desamparo das três mulheres logo é deixado de lado nos primeiros capítulos da temporada, sendo retomado apenas próximo ao desfecho (escolha essa que repete o conflito das personagens com Augusto de forma pouco natural, pois houve um grande espaço em branco até chegarmos ao julgamento). A própria Malu ganha contrastes vívidos entre sua vida como profissional e como mãe - algo que a série provoca para mostrar como as mulheres são resilientes.

    Coisa Mais Linda: Elenco comenta sobre feminicídio em 2ª temporada (Entrevista Exclusiva)

    Ao optarem por "deixar de lado" o luto por Lígia nos primeiros episódios, é inevitável ter a impressão de que a equipe criativa de Coisa Mais Linda preferiu focar nos dramas cotidianos do grupo. A vida continua, no fim das contas. Assim, temos o retorno de Pedro (Kiko Bertholini), marido de Malu que sumiu por meses, e a volta do arco romântico envolvendo Adélia, Capitão (Ícaro Silva), Nelson (Alexandre Cioletti) e Thereza. Tal escolha não muda o ritmo narrativo - muito menos torna-o menos interessante - mas o fato é que o impacto da produção diminuiu com relação ao primeiro ano.

    É importante ressaltar que o conteúdo de Coisa Mais Linda permanece relevante para escancarar os problemas do machismo enraizado na sociedade. Além disso, todas as personagens são tridimensionais: possuem defeitos, qualidades, receios e determinação. São mulheres lutando por espaço e pela importância de usarem a voz quando e onde bem entenderem. Isso é um dos fatores que se solidifica ainda mais na nova temporada, porque tanto Adélia quanto Malu rebelam-se do status quo e aprendem a ouvir mais o que dizem suas intuições com mais atenção - especialmente nas questões do coração.

    No entanto, parte do que há de mais surpreendente na série em sua 1ª temporada (e em sua abordagem) se deve ao fato do formato ter sido uma grande novidade do streaming em 2019. Em 2020, o cenário pouco se modifica e isso traz um questionamento: isso é bom porque as personagens já foram devidamente desenvolvidas, ou é ruim porque existe a sensação de que o roteiro poderia ir muito mais além?

    Coisa Mais Linda retoma seu enredo cativante com personagens interessantes, mas ainda assim não ousa como o que era esperado nos pontos principais - com exceção de Thereza, que mais uma vez é quem se destaca de forma brilhante. Seu próprio trabalho (agora como radialista) impulsiona mais dinâmica à trama, incluindo um momento emocionante com Malu. No mais, não deixa de ser bonito ver como as personagens estão caminhando rumo a uma vida sem tanta injustiça, com a esperança (ainda que tímida) de um futuro mais feliz.

    facebook Tweet
    Comentários
    Back to Top