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    Hunters: Crítica da 1ª temporada

    Al Pacino e Logan Lerman estrelam o ambicioso projeto da Amazon.

    Nota: 3,0/5,0

    Algumas séries são fáceis de serem vendidas. Em apenas uma frase, é fácil convencer qualquer um a ver Hunters: "Al Pacino matando nazistas". É uma premissa atraente demais para ser ignorada, mas quando se tem um nome como Jordan Peele dentre os produtores, é possível esperar uma crítica social por trás de toda uma analogia bem elaborada.

    Ambientada em 1977, a trama gira ao redor de Jonah (Logan Lerman), que mora em Nova York com sua Safta, Ruth (Jeannie Berlin), uma sobrevivente judia do Holocausto. Ele não é tão religioso, mas sua vida muda com a morte misteriosa de sua avó. É quando ele conhece Meyer Offerman (Al Pacino) e acaba descobrindo uma trupe de caçadores que buscam matar nazistas vivendo escondidos nos Estados Unidos.

    A série de David Weil já sofreu críticas de grupos judáicos pela liberdade poética que Hunters teve ao contar histórias do Holocausto, mas essa não é a primeira vez que uma obra de ficção usou sua criatividade para dramatizar a vida real. Mesmo sem ser verdade, uma partida de xadrez humano que surge no piloto é capaz de embrulhar o estômago de qualquer um, a partir de um sentimento odioso de uma ideologia real — cuja crítica é a intenção da obra, afinal de contas. O verdadeiro problema surge numa espécie de hipocrisia na falta de sutileza.

    Por ser um jovem de 19 anos, Jonah passa a comparar o mundo absurdo dos caçadores de nazistas com os quadrinhos que tanto lê. Sempre questionando qual é o limite moral do herói ou o nível de culpa que devemos dar para alguém criado no ódio, acreditando estar no lado do bem. Essa é uma questão interessante e que sempre move o protagonista impulsivo a debater seus atores e daqueles ao redor. Mas tal dúvida nunca é transferida para sua própria narrativa.

    Ok, infelizmente vivemos numa realidade onde, mesmo estando em 2020, ainda precisamos deixar bem claro como o nazismo é uma das piores atrocidades criadas pelo ser humano. Tendo dito isso, chega a ser incômodo ver a construção maniqueísta e estereotipada dos vilões da história. Preso num arco bem inútil, o político Biff Simpson (Dylan Baker) solta tantas barbaridades, por exemplo, que só falta retorcer o bigode como um daqueles antagonistas clichês de época. Travis (Greg Austin) é um psicopata com potencial para se transformar num personagem interessante, mas sempre apresenta o mesmo nível de mentalidade.

    Talvez a forma de tratar o assunto dessa forma seja proposital, para realmente incomodar o público, mas parece desperdício tratar isso sem a sutileza necessária. Pois não é impossível falar do nazismo sem ser um drama que faça qualquer pessoa com alma chorar. Recentemente, tivemos Jojo Rabbit, que é uma comédia, mas ainda trata a situação com respeito às vítimas e com emoções humanas em seus protagonistas — estejam do lado certo ou errado da história.

    Tal questão se torna ainda mais complicada quando percebemos que a série apresenta nove episódios com desnecessários 60 minutos cada, além de um piloto com surpreendente uma hora e meia de duração. São poucos os personagens que apresentam algum tipo de evolução além de Jonah e Meyer: os amigos do jovem protagonista são desperdiçados, enquanto a relação de Roxy (Tiffany Boone) e Joe (Louis Ozawa) pode ser resumida em 3 cenas; assim como o vício de Lonny Flash (Josh Radnor).

    A exceção fica pelo casal Mindy (Carol Kane, espetacular) e Murray (Saul Rubinek), cujo arco ajuda a construir o lado emocional da história, assim como os flashbacks de Ruth e Meyer no Holocausto. Por outro lado, Harriet (Kate Mulvany) fica enrolada numa série de cenas editadas para confundir o espectador, mas sua intérprete é tão magnética em tela que isso é perdoado. Por falar em reviravoltas, os vinte minutos finais da temporada mudam completamente o jogo, te deixando intrigado por mais episódios.

    O grande trunfo de Hunters é justamente o jogo que proporciona para o espectador. Não pela série de reviravoltas, mas pela brincadeira com formatos televisivos ou o uso de ferramentas do audiovisuais — tudo para inserir criativas quebras da quarta parede, que trazem um ângulo sarcástico e realista para a narrativa, mas ainda estiliza a produção. Principalmente ao abordar questões reais, como a convocação de cientistas nazistas pela NASA, apontando o absurdo de uma sociedade norte-americana que se vende como a salvadora da guerra.

    Suas conexões com a cultura pop transformam Hunters numa mistura de Bastardos Inglórios e X-Men. Se você gosta de pura pancadaria, essa série irá te agradar; mas uma ideia tão boa poderia ser muito mais. 

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