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    Música Para Morrer de Amor: Diretor comenta o fato de lançar um filme sobre afeto em tempos de isolamento social (Entrevista)

    Rafael Gomes apontou quais mudanças aconteceram na sociedade de dez anos para cá, desde quando a peça que inspirou o filme entrou em cartaz.

    Música Para Morrer de Amor, filme dirigido por Rafael Gomes, chegará às plataformas digitais para aluguel e compra a partir do dia 20 de agosto, após passar pelo circuito de cinema drive-ins pelo país.

    Adaptado da peça Música Para Cortar os Pulsos (também dirigida por Gomes), a história é centrada na vida de três jovens: Isabela (Mayara Constantino), que sofre de um coração partido, Felipe (Caio Horowicz), que quer desesperadamente se apaixonar, e Ricardo (Victor Mendes), seu melhor amigo, que por sua vez está apaixonado por ele.

    Com a estreia de Música Para Morrer de Amor prestes a chegar, o AdoroCinema teve a oportunidade de conversar com Rafael Gomes sobre os significados desta história sobre amor e afeto, as diferenças entre a peça e o filme, assim como possíveis caminhos para ampliar ainda mais esta história. Leia a entrevista completa abaixo:

    AC: O que você mais tentou trazer da peça, com relação a roteiro e a dinâmica dos personagens, por exemplo?

    Rafael: Vida interior. Queria fazer um filme sobre sentimento, que falasse sobre a vida afetiva das pessoas. Não só, mas principalmente. Isso já estava na peça e foi o eixo central desta transposição para transformar em filme. E, claro, a ideia de educação sentimental. O que nós experimentamos ao longo da vida que nos pauta como seres afetivos? No filme, o eixo principal é a música - como as canções que escutamos nos moldam, traduzem e nos preenchem, criando um universo de referências que acaba nos dando identidade na lógica do amor. Em termos de história, a peça já tinha os três personagens com histórias parecidas com o que vemos no filme, então isso foi aproveitado.

    AC: Qual você acha que é o maior apelo dessa história para o público atual? É até irônico uma história sobre afeto e amor estrear em tempos de distanciamento...

    Rafael: É realmente irônico e foi um dos motivos pelo qual topamos estrear o filme agora, durante o isolamento, como se fosse um "antídoto", um acolhimento para suprir a carência das pessoas neste momento. Ao trazer essa sensação que parece tão distante - mas que é a nossa realidade -, lançar o filme agora não deixa de ser irônico, mas acredito que é uma ironia calculada. Sobre o apelo e diferencial é justamente o de ser uma história que constitui a nossa vida interior, a nossa afetividade.

    Para quem mora em São Paulo, o filme certamente traz muitas sensações familiares. O café no Petra Belas Artes, a Paulista... Você diria que, no caso do filme, a cidade é um personagem?

    Rafael: Ela é um personagem muito forte, sim, porque todos esses amores que o filme expõe se dão na convivência, na cidade. Eles são o mundo fora de nós. Música Para Morrer de Amor é um filme sobre o mundo interno da pessoas se coincidindo com o externo. As baladas, os cinemas, as ruas por onde a gente anda, os lugares onde os jovens vão... Todas essas características compõem este personagem que é São Paulo.

    AC: As músicas são muito importantes para o desenvolvimento da narrativa, fazem parte dela. Qual é a sua favorita do filme e da peça, e o que elas representam?

    Rafael: São tantas músicas! Na peça, tocava uma música do The Smiths, "Please, Please, Please, Let Me Get What I Want", que era central ali na história. No filme, eu gosto de todas que estão lá. Mas eu diria que, talvez, a música que abre a história, "Maior Abandonado", sintetiza muito algumas apresentações do filme - essa pulsação sentimental, a maneira como gostamos de provocar em nós mesmos uma certa tristeza... Essa música sintetiza tal ideia, de certa forma.

    AC: Você já chegou a dizer que sua ideia inicial era fazer um filme e depois uma peça. Hoje, você pensaria em fazer uma série de TV?

    Rafael: Eu adoraria. É um projeto que eu mais gostaria de fazer no momento. Gostaria de transformar o universo da história em uma série. Mas isso depende de um streaming, um canal para que o projeto aconteça. Mas o projeto está pautado e organizado. Acredito que o lançamento do filme consiga dar um impulso para levarmos a ideia adiante. Além dos três protagonistas, há outros personagens que dão margem para uma exploração mais detalhada, como é o caso dos personagens de Denise Fraga e Ícaro Silva.

    AC: Da estreia da peça para cá, o que você acha que mudou na sociedade em termos de lidar com o amor e as possíveis ilusões ou conquistas que vêm junto dele?

    Rafael: Um fator decisivo mesmo - que na peça nem era citado - foi o smartphone e a vivência com redes sociais. Isso já existia em 2010, mas ainda não era tão difundido, tão central em nossas vidas. A tecnologia muda muitos mecanismos do afeto e de nossas relações, além de modificar mecanismos mais profundos da sociedade. Eu não sei se dá para chamar de 'evolução' porque, ao mesmo tempo em que evoluiu tecnologicamente, uma série de coisas talvez tenha involuído na maneira de nos relacionarmos e conectarmos em relações face a face, corpo a corpo. As telas e celulares são mediadores das relações. O que eu também sinto que foi uma involução de 2010 para cá, é que parecia que naquela época as pessoas surfavam em uma onda mais liberal, com mais liberdade de amor e vivências... Mas uma onda conservadora, contrária a isso, foi engolindo a todos desde então.

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