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    Cine PE 2019: Balanço final do festival

    Reflexões sobre como a maioria dos curtas e longas da programação conversaram entre si nesta 23ª edição.

    Felipe Maior

    Ao longo dos dias 29 de julho e 04 de agosto, o AdoroCinema realizou a cobertura de mais uma edição do Cine PE - Festival do Audiovisual, no Recife. Assistimos a 6 longas-metragens e 26 curtas-metragens na 23ª edição do já tradicional festival que promove o espaço de discussão sobre obras pernambucanas independentes e também de produções que, posteriormente, podem entrar no circuito nacional.

    Cada vez mais uma janela para a produção audiovisual no Brasil, a curadoria do Cine PE 2019 fez uma seleção muito interessante, com longas dialogando com curtas e vice-versa. Desde o filme de abertura, um documentário sobre Frei Damião, uma das figuras mais conhecidas do Recife, até o último dia de exibição com a também obra documental O Corpo É Nosso, que traça um panorama da liberdade do corpo da mulher, a programação trouxe uma boa cartela de diversade de temas.

    Dentre os 6 longas na mostra competitiva nacional, 3 são documentários e 3 são ficções. A igualdade de espaço foi bem realizada em relação a obras que abordam situações extremas do Brasil (como é o caso de Vidas Descartáveis (filme sobre a escravidão que persiste em nosso país) e aquelas que, mesmo trazendo à tona temas atuais e políticos (como vimos em Abraço, sobre a luta dos direitos dos professores), ainda possuem um teor ficcional, possibilitando diversas leituras sobre o mesmo tipo de situação: a factual.

    Houve também a exibição de longas que abraçam completamente o ficcional. Teoria do Ímpeto (que venceu quatro categorias na premiação do festival) e Um e Oitenta e Seis Avos se conectam pelo simples fato de ambos falarem sobre a solidão que o mundo moderno pode nos impor. O primeiro longa, mais bruto e direto sobre questões familiares, traz em sua direção e fotografia a estagnação daqueles que ainda sonham, mas que se mantém presos a uma realidade mais poderosa. O segundo, com atmosfera fantasiosa e colorida, fala sobre as mesmas questões enquanto trabalha o vazio interno na metáfora contido na protagonista, que "perde" seus órgãos internos devido ao seu isolamento pessoal.

    Enquanto O Corpo é Nosso fala da mulher enquanto indivíduo e não objeto, e Vidas Descartáveis sobre um problema social enraizado e escondido da sociedade até hoje, o também documentário Espero Tua (Re)Volta, grande vencedor desta edição do Cine PE, aborda o movimento estudantil que tomou conta de São Paulo há uns anos e mantém-se atual diante dos rumos do governo. Além de possuir uma bela estética e dar voz a três alunos de locais diferentes, mas unidos pela mesma causa, o filme de Eliza Capai é um exercício de cidadania e da busca por direitos básicos através dos olhares de jovens que representam o futuro.

    Com relação aos curtas, claramente houve o cuidado da programação em escolher muito bem quando cada um seria apresentado. Em um dos dias, o gênero que se sobressaiu foi o terror, enquanto em outros a temática do feminino foi mais espaçada - talvez para deixá-los ainda mais intensos diante de questões como a sexualidade (O Mistério da Carne), traumas do passado (Apneia), autoconhecimento (Vivi Lobo e o Quarto Mágico) e a perda da infância (A Pedra). Dentre outros temas, pudemos conferir curtas que falam sobre preconceito e o amor a si próprio, como é o caso de Cor de Pele e Tommy Brilho, ambos com atmosferas mais leves mesmo tratando de assuntos densos sob outra camada.

    Ainda mais renovado do que no ano passado, o Cine PE entregou ao público uma programação variada em gêneros e temas, indicando novos nomes do audiovisual e abrindo espaço para que os cinéfilos refletissem tanto sobre questões mais gerais de nosso país como sobre sentimentos internos e dificuldades a serem superadas. Cinema e humanidade: uma excelente combinação.

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