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"Não sabíamos se esse filme ia dar certo", afirmou o produtor Ron Yerxa durante um painel do evento Rio2C ao comentar o sucesso da comédia dramática Pequena Miss Sunshine (2006). O produtor esteve no evento carioca na manhã de quinta-feira (5) para falar sobre sua trajetória ao longo de quase três décadas dedicadas ao cinema independente nos Estados Unidos.
Durante a conversa com o público, mediada pela produtora Maria Carneiro, Yerxa falou sobre a história da produtora independente Bona Fide Productions, companhia que fundou ao lado de seu parceiro de negócios Albert Berger. "Os filmes que nós fizemos deram uma contribuição positiva para a cultura de forma geral", comentou o produtor responsável por longas-metragens como Eleição (1999), Cold Mountain (2003), Pecados Íntimos (2006), Ruby Sparks - A Namorada Perfeita (2012) e Nebraska (2013).
O produtor afirmou que sua parte preferida no trabalho é engrandecer os desfechos dos filmes nos quais realiza, sinalizando que enxerga sua função para além das tarefas executivas relacionadas ao financiamento e distribuição de uma obra. "Somos os tipos de produtores que consideram que a melhor parte do nosso trabalho é acertar os roteiros, fazer com que o filme tenha a montagem correta e engrandecer o máximo possível a história."
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No caso de Pequena Miss Sunshine, os produtores solicitaram que o roteirista Michael Arndt reescrevesse o final do longa-metragem apenas seis semanas antes da première do filme no Festival de Sundance. "Nós tínhamos diversos finais diferentes para o filme e em um deles eles a família roubava a coroa e colocava na cabeça da menina. Levou um tempo até chegarmos no desfecho que fizemos e ele concluiu nossas ideias dramáticas no filme muito bem."
No road movie de estreia dos diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris, o público acompanha a agridoce rotina de uma família disfuncional que viaja pelos Estados Unidos para que a caçula, interpretada por Abigail Breslin, participasse de um concurso de beleza. Eles viajam do estado do Novo México até a Califórnia durante uma jornada que faz cada membro da família lidar com suas próprias frustrações e redescobrir o afeto que nutrem uns pelos outros.
"Neste filme, o objetivo de todos os personagens é frustrado. Eles não conquistam nada do que eles queriam. Ela [Breslin] não vence o concurso, o pai [Greg Kinnear] dela não se torna um palestrante motivacional bem sucedido, o filho [Paul Dano] não se torna piloto... E o que é bonito é que ao menos o objetivo da menina no concurso de beleza não valia a pena alcançar. E quando ela dança o espectador do filme percebe que ela dança com inocência enquanto a sociedade tem uma visão corrompida do que está acontecendo."
Depois da cena da dança, a família disfuncional faz as pazes e celebra o ato espontâneo da menina. Na última cena do filme, todos empurram o veículo para fazer o motor engrenar e, um a um, entram na van. "E, finalmente, no final eles formam uma família sem nenhuma outra ambição além de celebrar o fato de que são uma família."
Pequena Miss Sunshine foi indicado a quatro prêmios no Oscar e venceu dois, o de melhor roteiro original para Michael Arndt e o de melhor ator coadjuvante para Alan Arkin. O longa-metragem também foi indicado ao prêmio de melhor filme, nomeação concedida aos produtores, mas Berger e Yerxa não foram nominalmente indicados porque o filme teve cinco produtores e a Academia apenas indica até três profissionais nesta categoria.
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Durante o painel, Yerxa também disse que gosta de fazer filmes sobre personagens que definiu como "párias", "rejeitados pela sociedade" e "belos perdedores", mas que são movidos por um senso de decência interna. O produtor também defendeu que deseja que as facilidades do streaming e VOD não acabem com a cultura de frequentar a sala de cinema ("cinemas são lugares comunais e a experiência comum é importante") e elogiou os sucessos recentes de filmes independentes como Moonlight - Sob a Luz do Luar (2016), Corra! (2017) e Projeto Florida (2017) ("É ótimo quando filmes como esses três conseguem ser bem sucedidos pois eles são o um exemplo perfeito do que queremos fazer").
O produtor também falou sobre seu primeiro projeto em Hollywood e sobre a fundação da Bona Fide Productions. Yerxa trabalhava para outro estúdio e estava "frustrado", em suas palavras, com suas perspectivas e seu caminho cruzou com o de Albert Berger, que trabalhava como roteirista, mas tinha outros objetivos na indústria. A parceria dos dois começou em 1989, quando os dois estiveram em Sundance, Meca do cinema independente.
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"Nós fomos expulsos de uma festa, não por mau comportamento mas porque nós estávamos tentando entrar de penetras. Por conta disso, nós atravessamos a rua para assistir Sexo, Mentiras e Videotape na première mundial do filme. A sala estava meio vazia e ninguém sabia quem era Steven Soderbergh", contou Yerxa. Depois da sessão, a dupla conversou com Soderbergh, que iniciava sua carreira de forma meteórica, e marcou uma reunião. Yerxa conta que falou com entusiasmo sobre o livro King Of The Hill, de A. E. Hotchner, e mesmo sem ter adquirido os direitos de adaptação da obra convenceu Soderbergh a adaptar o projeto. O filme foi lançado quatro anos mais tarde e o elogiado drama O Inventor de Ilusões (1993) foi o primeiro lançamento da Bona Fide Productions. "Nosso objetivo era fazer filmes independentes interessantes com os quais nós nos importamos e temos uma conexão emocional", disse.