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    Exclusivo: Visitamos as filmagens de Como Nossos Pais, novo filme da diretora Laís Bodanzky

    Conversamos com a cineasta, os atores Maria Ribeiro e Paulo Vilhena e o produtor Fabiano Gullane.

    Priscila Prade

    Depois de Bicho de Sete Cabeças (2001), Chega de Saudade (2007) e As Melhores Coisas do Mundo (2010), a diretora Laís Bodanzky está preparando seu quarto longa-metragem: Como Nossos Pais, drama sobre Rosa, mulher em conflitos no trabalho, com a mãe, com sua própria filha e com o marido.

    Convidado pela produção do filme, o AdoroCinema acompanhou um dia de filmagens em São Paulo. Dentro de um belo casarão em Pinheiros, a equipe criou o consultório fictício da terapeuta que ajuda Rosa (Maria Ribeiro) a resolver os problemas sexuais com seu marido (Paulo Vilhena). Enquanto a equipe técnica coordenava cada detalhe da direção de arte, fotografia e produção, Bodanzky instruía seu elenco para a briga de casal que deveria dominar a cena.

    Priscila Prade

    Os dois atores descreveram os seus personagens: "A Rosa é uma mulher paulistana de 38 anos que veio tocando a vida conforme as coisas foram aparecendo, abrindo a mão de sonhos dela. Ela queria escrever para teatro, mas abriu mão disso porque se casou, teve filhos. De fora, parece que está tudo bem, mas ela percebe que existem várias mentiras nesse cenário, e que é possível fazer diferente", explica Maria Ribeiro. Paulo Vilhena vai direto ao ponto: "Eu sou o marido dessa mulher! Ele é um antropólogo, viajando muito a trabalho, com pouco tempo para dedicar à família. Então questões começam a ser debatidas. Vide a cena de hoje! Mas eles formam um casal normal, com problemas que acontecem a cada um de nós". 

    Os jornalistas tiveram a oportunidade de ver como a diretora lidera com segurança toda a equipe, demonstrando grande preocupação com os objetos do cenário, com a iluminação perfeita, com o início e término de cada tomada (pensando no resultado da montagem), e especialmente com o trabalho dos atores. Entre vários takes dentro no consultório, Bodanzky ditava o tom da dupla principal, pedindo para Maria Ribeiro buscar uma raiva ainda maior, mas impedindo Paulo Vilhena de se exaltar em igual medida. Ambos atores faziam sugestões parcialmente acatadas pela diretora, que parecia ter uma noção muito clara do que buscava para a cena e para o filme como um todo. 

    Priscila Prade

    De fato, é um prazer ver uma diretora com tamanho controle, apesar de ter poucos longas-metragens no currículo. Após a filmagem, Bodanzky explicou que enxerga Como Nossos Pais como um filme feminino, aproveitando para comentar o papel das mulheres no cinema: "Eu tive sorte. Comecei a fazer cinema e não parei para pensar que não existem muitas mulheres na direção. Só fui perceber agora, porque a mídia começou a falar e os números vieram. Achei fundamental perceber quem sou eu no todo". Maria Ribeiro completou: "Só uma mulher poderia ter escrito esse filme, falando do que estamos falando. Nos Tropas de Elite, eu falava para o José Padilha que um dia a gente precisaria contar a história da Rosane, das mulheres que ficaram em casa. Eu sei que ele não vai fazer isso, porque ele faz um cinema de homens, e tudo bem. Mas acho importante que a gente tenha alguém que deseja se ver representado. A Laís fala dela, de mim e de todas as mulheres. Os filmes dela são feitos do coração. Às vezes o diretor quer falar de um filme, mas sem propriedade, como o cara que mora no Rio de Janeiro mas quer falar da fome no Nordeste... O pensamento dela não é de fora pra dentro, é de dentro pra fora. Existe um discurso claro sobre o mundo".

    O produtor Fabiano Gullane traduziu esta inquietude em números: "A Ancine fez um levantamento recente: em funções de protagonista, diretora e roteirista, temos apenas 18% de mulheres. Na produção, chegamos perto de 40%. Muitas mulheres já produzem, mas existe muito espaço a conquistar na esfera autoral". De fato, Bodanzky trouxe Como Nossos Pais para um universo muito mais próximo de sua realidade: "Nos meus outros filmes, para desenvolver o projeto e achar a forma de narrar, eu sempre fiz uma pesquisa muito grande, porque eram mundos que não me pertenciam: o universo da loucura, das drogas, da terceira idade, da adolescência... Eu tinha que fazer um mergulho para entender as minhas personagens. Meu público-alvo sempre era parecido com as minhas protagonistas. Eu tinha passado por várias gerações, mas faltava a minha! Era um desafio falar de um mundo mais próximo de mim".

    Priscila Prade

    Como Nossos Pais seria uma referência à música de Elis Regina? Podemos esperar o mesmo tom amargo da canção? "Eu me inspirei no título da música, que é muito sugestivo", explica a cineasta. "A personagem da Rosa reclama muito da mãe, mas faz a mesma coisa com a filha dela. A música está no filme, só em melodia, porque a letra não traduz o filme. Nós falamos de gerações, especificamente das gerações de mulheres, sobre como passam o bastão para outra mulher. Quando falamos de homens, não pensamos que eles também têm uma mãe por trás: como ela educou? Que referências passou para o filho? Todo mundo está relacionado, mas a mulher é muito responsável por educar os filhos e as filhas".

    As filmagens, que começaram perto do Carnaval, já estão chegando ao fim. O filme deve estrear nos cinemas apenas em 2017.

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