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    Exclusivo: Irandhir Santos e o diretor Leonardo Lacca falam sobre o premiado drama Permanência

    A história de amor, vencedora do Cine PE 2015, chega aos cinemas esta semana.

    Chega aos cinemas nesta quinta-feira o drama Permanência, grande vencedor do Cine PE 2015. O diretor Leonardo Lacca retoma os personagens de seu curta-metragem Décimo Segundo, imaginando o reencontro entre o fotógrafo pernambucano Ivo (Irandhir Santos) e a desenhista paulista Rita (Rita Carelli), anos após a separação do casal. Quando Ivo é convidado para a sua primeira exposição na capital paulista, ele fica hospedado na casa de sua antiga paixão.

    O diretor e o ator Irandhir Santos conversaram em exclusividade com o AdoroCinema sobre esta experiência, desde a criação do roteiro até as acusações de machismo ou de "não ser um filme pernambucano de verdade". Confira: 

    Permanência é uma expansão do curta-metragem Décimo Segundo. Como foi a experiência de retomar os mesmos personagens?

    Irandhir Santos: O curta foi importante por ramificar uma interação entre a Rita, o Leo e eu. Ali germinou a vontade de reviver a história, a partir daquela experiência. O longa fala muito de um passado que não está na tela, e isso é algo importante no filme. O Décimo Segundo serviu como uma memória, um ponto de partida. O Leo conseguiu dar um passo além, mas o curta foi um motor legal para as sensações do filme.

    Este é um raro filme pernambucano cuja história se passa toda em São Paulo.

    Leonardo Lacca: Existia esse questionamento: “Você é pernambucano, e vai fazer um filme em São Paulo?”. Minha resposta era que o personagem carregava Pernambuco nas costas. Quando a gente vai a algum lugar, revelamos quem somos de verdade. A situação em Pernambuco também mudou. Dez ou doze anos atrás, bastava ter um filme sobre cultura popular, com maracatu e frevo, para conseguir financiamento. Isso mudou. Hoje não é mais necessário, porque as pessoas começaram a enxergar o potencial narrativo (de outras obras). Além disso, existe mais dinheiro: é possível investir na cultura popular, e também nas histórias universais. Permanência poderia se passar em Londres, em Berlim...

    Irandhir Santos: A gente deslocou a história para a cidade de São Paulo, e é interessante trazer um olhar de fora. Queríamos carregar Pernambuco no personagem, com as características e maneiras de falar, e também abordar o “ser de fora” em uma cidade efervescente e única como São Paulo, para que o Ivo se sentisse em uma atmosfera de isolamento sentimental. O fato de Ivo estar em uma cidade à qual não pertence traz mais foco para o sentimento. O Ivo finalmente teve que lidar com algo que vinha escondendo.

    O filme gira em torno de um fotógrafo preparando uma exposição, mas praticamente não vemos as fotos tiradas pelo Ivo.

    Irandhir Santos: É verdade. O tempo todo, nós falamos da exposição do Ivo, então criamos um interesse pela obra. A opção do Leo de não mostrar as fotos plenamente me agrada por não causar nenhum tipo de julgamento. É mais interessante falar da obra do que mostrá-la, o que seria uma simplificação. Quem assiste pode completar as fotos, elas são vistas principalmente pelo olhar da Rita. A grande exposição que o Ivo foi mostrar em São Paulo não era aquela na galeria. As fotos que ele realmente queria mostrar eram aquelas pessoais (do passado dos personagens juntos), que a Rita abre no carro, e que demonstram a tristeza dela.

    Leonardo Lacca: E a Rita é desenhista, mas é uma personagem que parou de desenvolver o aspecto artístico em sua vida. Existem dois tipos de fotos diferentes: fotos da exposição, que nós produzimos para o filme, e as fotos do carro, que Ivo tirou pessoalmente, e que se tornam uma intervenção artística, um negativo que ele entrega à Rita. Tem fotos antigas e fotos novas. É uma bomba que ele joga no colo dela. Quando eles se encontram, isso é a materialização do passado, que faz com que ela repense suas escolhas, a sua vida. 

    Os personagens de Permanência estão cheios de amor e pulsão sexual, mas o filme evita cenas de catarse, de grito, de choro.

    Leonardo Lacca: É uma questão de personalidade. O roteiro inicial era até mais radical na falta de catarses, ele ameaçava muitas coisas que não aconteciam. Depois incluí uma cena forte, em que eles se pegam logo no início. Existe um aspecto de interrupção, por isso a cartela de “fim” representava para mim o fim do casal. Não sei mais como vai ser a vida dela. Não existe explosão. Isso é uma escolha consciente, pessoal. Eu queria estabelecer uma tensão, e o gozo em si é uma pequena morte. Eu não queria que os personagens gozassem nesse sentido! Ivo tem uma aventura com outra menina, mas mesmo nesse caso é algo interrompido. 

    Irandhir Santos: A priori, a minha primeira leitura foi de sentir falta das catarses. Isto seria uma maneira mais óbvia de lidar com os sentimentos que surgem entre os dois. Mas o Leo usou um caminho mais interessante, o da contenção, que funciona como um esvaziamento. Não há grito ou choro mais forte, apenas o esvaziamento na cidade, pela experiência de trabalho, e com outras mulheres. O que ocorre com o Ivo na casa da Rita é esvaziar algo que ele sentia. Esse termo foi muito importante para eu trabalhar o personagem. O filme se torna mais leve.

    A produção foi criticada no Cine PE por mostrar apenas a nudez das mulheres, enquanto o Ivo aparece parcialmente vestido em suas cenas de sexo. Como vocês reagem às acusações de machismo?

    Irandhir Santos: A questão da nudez em relação ao Ivo foi um ponto conversado na hora da filmagem. Ele se aproxima da menina enquanto ela está nua, e belissimamente fotografada. Mas isso dizia respeito ao comportamento do personagem: o Ivo estava naquela casa pela primeira vez, então ele se vestiria para sair do quarto à cozinha. Ele é um cara tímido. Se fosse no quarto, não precisaria de cueca... Foi mais uma questão de lógica, e não pudor. Eu já mostrei tanto em Febre do Rato e Tatuagem que não teria problema nenhum em me mostrar, pelo contrário! 

    Leonardo Lacca: Essa questão vai sempre surgir. Se você for representar todos, dar conta de tudo, você enlouquece. Eu fiz o filme que estava com vontade de fazer, e fui muito sincero. Ainda vou aprender, talvez eu mude no futuro... ou não. Mas esse questionamento é legítimo, porque vivemos em uma sociedade muito machista. Nesse filme, eu não vejo machismo, mas posso estar errado. 

    As imagens são brancas, frias, tristes. A fotografia chama muito a atenção.

    Leonardo Lacca: Eu trabalhei com o Pedro Sotero, que gosta de pensar a luz. Eu não queria que fosse realista. A luz de Permanência é pensada milimetricamente: ela é naturalista, mas não realista. Era importante ter uma diversidade de luz muito importante, para que o apartamento fosse um ambiente opressor para o personagem. A direção de arte também é boa, porque não salta aos olhos, mas combina com a fotografia. A galeria é tão branca, inóspita... Sempre gostei do realismo, mas fico encantado com a suspensão do surrealismo. 

    O elenco de Permanência mistura atores profissionais com outros fazendo as suas primeiras experiências no cinema. Como foi este trabalho?

    Irandhir Santos: É muito interessante esse jogo proposto pelo Leo. Eu tive o privilégio de trabalhar com a Rita Carelli mais uma vez. Além de ser uma grande amiga, é alguém que compartilha minhas ideias, uma mesma postura de vida. Ela pesquisa muito, e traz diversas propostas para o personagem. Isso me motiva a fazer o mesmo. O Sílvio Restiffe é muito experiente no teatro, e eu já tinha trabalhado com ele em Tatuagem. Saber que ele seria o marido da Rita foi ótimo. A Laila Pas veio com toda a sua gana, tentando fazer a personagem da melhor maneira possível. Isso nos move a manter aquele primeiro momento, de quando interpretamos pela primeira vez. As primeiras emoções de interpretar são algo que eu quero manter comigo, para não estagnar, e quando você participa dessa equipe tão misturada, é um tipo de sopa que me alimenta e me renova. 

    Quais são os próximos projetos após Permanência?

    Leonardo Lacca: Estou finalizando Animal Político, o primeiro longa do Tião. Sou o montador e produtor, e estou muito imerso neste projeto no momento. Tenho outro projeto, Seu Cavalcante, uma ficção que já está no primeiro corte. Eu utilizo material que filmei durante mais de doze anos sobre meu avô. Mas não é documentário, porque ele atua e faz coisas que não faria longe das câmeras. Dei uma parada para terminar outras coisas, mas pretendo voltar e terminar ainda esse ano. É um processo muito diferente de Permanência. Também tenho outro roteiro, ainda em desenvolvimento, chamado Sábado Morto.

     

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