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    Harvey Keitel esbanja simpatia em encontro com estudantes de atuação, no Rio de Janeiro

    O cultuado ator dos filmes Cães de Aluguel, Pulp Fiction e Taxi Driver, entre muitos outros, conversou descontraidamente e fez a plateia rir com suas histórias da carreira. Confira um panorama desse encontro!

    por Roberto Cunha

    Harvey Keitel é conhecido dos cinéfilos de carteirinha por ter feito filmes incríveis e cultuados, como Pulp Fiction, e ter trabalhado com diretores famosos por razões diferentes, como Martin Scorsese (Taxi Driver), Quentin Tarantino (Cães de Aluguel), Paul Auster (Cortina de Fumaça), Jane Campion (O Piano), Ridley Scott (Thelma & Louise) e Barry Levinson, que com Bugsy rendeu para ele uma justa indicação ao Oscar. Mas a turma que não é tão ligada assim na carreira dele, também o conhece por acumular mais de 100 produções audiovisuais na carreira, tendo trabalhado em filmes de todos os tipos e gostos.

    Em visita ao Rio de Janeiro para rodar Rio, Eu Te Amo (segmento Milagre, de Nadine Labaki), ele que preside o renomado Actors Studio ao lado de Ellen Burstyn, fez questão que o encontro "Q & A" (perguntas e respostas) mediado pelo cineasta Cacá Diegues (acima, a direita do ator convidado) e o produtor Leonardo Barros (Conspiração), tivesse presença maciça de estudantes de artes dramáticas. Em função dessa opção, as perguntas foram bem ligadas ao campo da atuação e o ator se mostrou um bom contador de "causos", arrancando risos da plateia, que encheu o Teatro Laura Alvim, em Ipanema (RJ), na manhã da última sexta-feira, 6.

    Ele não quis adiantar nada sobre o novo filme, preferindo que as pessoas vejam. "Nadine escreveu uma linda história. Vocês deveriam ver", elogiando ainda as cenas de transição dirigidas pelo brasileiro Vicente Amorim. A trama conta sobre um homem estrangeiro que precisa usar um orelhão (telefone público) e um menino o impede porque afirma estar esperando uma ligação de Deus. Integrando o time dos que rasgam elogios para a (ainda) eterna Cidade Maravilhosa, sapecou a frase: “Vocês são muito sortudos de morar aqui!”.

    UM BATE PAPO BEM HUMORADO

    A primeira pergunta foi como ele tinha decidido ser ator. Keitel explicou que a coisa simplesmente aconteceu, quando um amigo convidou ele para ir numa escola de atuação em Nova York. "E eu fiquei", disse ele em tom brincalhão. Para se ter uma ideia do tipo de perguntas realizadas, questionado se valia a pena começar a carreira de ator aos 40 anos de idade, brincou que o candidato deveria procurar uma namorada. O riso da plateia veio na hora, efeito igual quando Diegues perguntou se ter trabalhado com Scorsese tinha mudado a vida dele de alguma forma. "Claro!", disse, acompanhado de mais risadas na sala.

    CONTOS DO PASSADO

    Aproveitando o momento, ele contou suas primeiras "aventuras" e essa foi com o próprio Scorsese. Disse que entrou na sala de teste e alguém (lá no fundo), com voz imponente disse para ele se sentar e logo começaram a discutir. "Senta aí!" (ele imita em voz marrenta). Que p... você pensa que é?", disse ele, já provocando risos. E concluiu, dizendo que Scorsese veio e falou: "Martin, isso é uma improvisação". A plateia veio abaixo. Coincidência ou não, desse encontro caloroso saiu Caminhos Perigosos (1973) e, mais tarde, Táxi Driver (1976). Sobre esse título, contou do processo de "construção" do personagem cafetão "Sport" Matthew. "Eu fazia uma peça perto da Broadway, quando ganhei o papel. Resolvi puxar papo com uma prostituta do outro lado da rua, para saber sobre seu patrão, e ela não deu a menor  bola pra mim, mesmo quando mostrei meu nome na fachada do teatro". Risos dele e da plateia. "Só fui entender o papel que ia viver quando comecei a ensaiar com um verdadeiro cafetão, intercalando os papéis. Um dia eu era ele e ele fazia a prostituta. Foi perfeito para eu entender o mundo em que viviam e como deveria agir", completou.

    O cultuado astro revelou ainda outra passagem interessante, dessa vez, quando foi pedir um papel para Michelangelo Antonioni. "Entrei na sala onde ele estava e ele perguntou se eu conseguia atravessar o local e abrir a janela sem pensar em absolutamente nada. Respondi ‘Não', e ele disse que eu poderia ir embora". Quando reencontrou o cineasta cerca de três décadas depois perguntou se ele lembrava do episódio ocorrido em Hollywood. "Sim e eu adorei (imitando o cineasta). Pôxa, e passei 30 anos o odiando por isso!”, completou aos risos e fazendo o pessoal rir junto.

    SINCERIDADE E SIMPLICIDADE

    Sobre os momentos mais difíceis na carreira disse que todo ator tem momentos de altos e baixos e que é preciso saber extrair o melhor de cada situação. Quanto ao medo, veio com outra experiência bastante pessoal. "Quando eu estava treinando no meio do mato, ainda jovem, logo que entrei para o exército, senti muito medo em um momento, mas não queria mostrar. Estava escuro e eu não conseguia ver nada. Não sabia o que ia acontecer", revelou. "Foi quando no meio da escuridão um oficial falou: 'Vocês estão com medo, certo'? "Como ele sabia disso?" (disse rindo). 'O medo vem do desconhecido. Vocês não sabem o que tem no escuro. Meu objetivo aqui é ensiná-los a enfrentar ele'. "A partir daí, minha relação com o medo mudou completamente.", finalizou.

    Carregado de sinceridade, respondeu da seguinte forma sobre como escolhia seus papéis: "Dinheiro!", levando o público ao riso geral e sem interrupção. Sobre papéis que tivesse recusado e se arrependido, friamente disse 'não' duas vezes. Mostrando elegância, ao ser questionado sobre os papéis mais marcantes da carreira, confessou-se um sortudo por ter trabalhado com tantos diretores e atores bons, e qualquer coisa que dissesse poderia ser uma ofensa. Sobre mudanças no roteiro frisou ser importante respeitar o trabalho dos roteiristas, e lembrou ter tentado mudar algumas linhas em Cães de Aluguel, mas não era bom e nem foi aproveitado. Quanto aos novos diretores, afirmou categoricamente que é importante acreditar em novos talentos.

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