Esta é uma das mais belas músicas do cinema: 41 anos depois, a emoção que ela proporciona ainda é indescritível
Giovanni Rodrigues
Giovanni Rodrigues
-Redação
Já fui aspirante a x-men, caça-vampiros e paleontólogo. Contudo, me contentei em seguir como jornalista. É o misto perfeito entre saber de tudo um pouquinho e falar sobre sua obsessão por nichos que aparentemente ninguém liga (ligam sim).

Esta música de filme é uma das mais belas de todos os tempos! Revisitando a melodia que tocou profundamente gerações inteiras de espectadores.

Há 41 anos, em 23 de maio de 1984, Sergio Leone nos ofereceu uma última obra-prima, um épico testamentário e crepuscular absolutamente extraordinário: Era Uma Vez na América. Estrelado por um Robert De Niro no auge de sua arte, o filme se passa em Nova York, no final da Lei Seca.

Noodles (De Niro) se refugia em uma casa de ópio após um golpe que deu errado. Mais de 30 anos depois, ele está de volta à cidade e relembra seu passado de gângster: desde sua juventude como delinquente nos anos 20, marcada por seu encontro com seu amigo Max e seus numerosos negócios ilegais no gueto judeu da cidade, até o período da Lei Seca.

Foi durante esses anos que sua gangue, unida por uma profunda amizade, enriqueceu e marcou sua ascensão no submundo graças ao comércio ilegal de álcool. Noodles também se lembra de seu tumultuado relacionamento amoroso com Deborah ao longo de sua vida. Era Uma Vez na América é uma obra crepuscular densa e sublime, último capítulo da famosa trilogia de Sergio Leone e último filme essencial do cineasta.

Ennio Morricone, o divino maestro

Para acompanhar musicalmente as imagens sublimes de seu épico monumental, o diretor naturalmente recorreu ao seu colaborador de sempre, o compositor Ennio Morricone. "Com Sergio, minha colaboração começava assim que ele me contava sobre o filme. Ele me contava tudo em detalhes, explicando até mesmo os enquadramentos", explica o músico no fabuloso documentário Ennio, dirigido por Giuseppe Tornatore.

Com uma melancolia que beira a graça divina, a música de Morricone neste longa-metragem é absolutamente magnífica. Cada tema é uma carícia para os ouvidos, como se um anjo passasse sobre nossas cabeças para nos presentear com uma suave plenitude. No entanto, uma melodia se destaca entre todas as compostas pelo maestro Morricone: o tema de Deborah.

Esta personagem, interpretada por Jennifer Connelly e depois Elizabeth McGovern, é o grande amor da infância e adolescência de Noodles. Ela representa a inocência desse período e a emoção dos primeiros sentimentos. O herói do filme nunca se recuperará de ter perdido esse amor, e o tema de Deborah, impregnado de uma tristeza sedosa e uma nostalgia aveludada, será o poderoso símbolo disso.

"Sem essa música, não consigo imaginar o filme. Não consigo conceber vê-lo sem ouvir essa música", declarava, com razão, o cantor italiano Gianni Morandi.

O fim da inocência

Atemporal e universal, essa melodia fala a todos e consegue penetrar profundamente em nossa alma. Há realmente uma dimensão espiritual nessas notas que ressoam particularmente no coração do público. Elas simbolizam a inocência perdida, os amores para sempre perdidos, as amizades do passado agora terminadas.

O tema de Deborah dirigido por Ennio Morricone:

"Frequentemente, Sergio me pedia para escrever temas musicais antes das filmagens. Naquela época, Sergio estava cheio de dúvidas. Ele me dizia: Deixe-me ouvir o outro tema. Era um tema feito de silêncios, de pausas, o que eu adorava", confidenciou Morricone sobre a melodia de Deborah.

"É um tema que eu tinha escrito nos Estados Unidos para o filme Amor Sem Fim de Franco Zeffirelli. Para uma cena, Zeffirelli queria incluir a música de outro compositor. Eu o fiz ouvir o tema de Zeffirelli, que se tornou o de Deborah. Ele gostou muito e eu também, e ainda hoje".

A análise de Hans Zimmer

No documentário Ennio, o famoso compositor Hans Zimmer fala sobre a música do filme de Leone, especificamente o tema de Deborah. "Na trilha sonora de Era Uma Vez na América, a menor peça é uma descoberta original, uma instrumentação original", expõe primeiro o artista.

Deborah (Jennifer Connelly) Warner Bros.
Deborah (Jennifer Connelly)

"Em Deborah, começa com uma nota baixa que se prolonga e evolui muito deliberadamente para outra nota. Ennio conta uma história fazendo essa nota durar. É corajoso fazer uma nota durar tanto tempo", analisa o músico.

Vale notar que Sergio Leone gostava de tocar a música de Morricone no set, instalando grandes alto-falantes por toda parte. "Ouvir a música no set impressionava os atores e a equipe técnica", destacou Raffaella Leone, filha de Sergio. "Os filmes do meu pai dependiam da música de Ennio", ela continuou.

"Ele queria que fosse assim. A música nos filmes do meu pai era muito mais do que uma música de filme. Era realmente o diálogo do filme. Frequentemente, meu pai pedia a Ennio para trazer os velhos temas que ele guardava no fundo de sua gaveta", confidenciou Raffaella Leone.

Em conclusão, deixemos a palavra final ao saudoso compositor italiano, Boris Porena, grande poeta das notas musicais. "Após a exibição de Era Uma Vez na América, lembro-me de ter pensado: Caramba, há algo aqui que vai além da ideia que normalmente temos de música de filme".

*Conteúdo Global do AdoroCinema

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