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    Barbie e Pobres Criaturas: O que faz um filme ser feminista?
    Giovanna Ribeiro
    Giovanna Ribeiro
    -Redatora
    Aprendeu com Amélie Poulain a ir ao cinema sozinha às sextas e observar a reação do público. Mas, no fundo, queria mesmo era ser o Rocky Balboa.

    Nesta reportagem especial de Dia Internacional da Mulher, o AdoroCinema discute dois dos principais indicados ao Oscar 2024, a partir de uma perspectiva política.

    Barbie, dirigido por Greta Gerwig, ao estrear mundialmente em julho de 2023, despertou debates acalorados entre o público. Com um enredo provocativo, o filme, partindo de um tom leve e muito cor-de-rosa, explora o papel da mulher na sociedade, através da alegoria da boneca Barbie estereotipada.

    Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos, por sua vez, estreando no Brasil já no início de 2024, ganhou de alguns, a alcunha de um “Barbie para adultos”, de forma bem reducionista, claro. A personagem de Emma Stone, por caminhos um tanto quanto opostos à Barbie de Margot Robbie, também busca se entender enquanto mulher adulta no mundo, o mesmo ambiente que nós, também mulheres adultas, fomos moldadas.

    Os dois filmes disputam o Oscar 2024 em diferentes categorias. Na principal, Melhor Filme, as obras se encontram em um embate direto. E entre todas as análises possíveis das duas obras - com críticas que, inclusive, você encontra aqui no AdoroCinema - questiona-se o quanto cada filme se posiciona, perante uma militância real. Afinal, as duas obras podem ser consideradas, de fato, feministas?

    Searchlight Pictures

    Segundo Cecília Barroso, jornalista e crítica de cinema, integrante das Elviras (Coletivos de Mulheres Críticas de Cinema), em conversa com o AdoroCinema, a pergunta é mais complexa do que parece: “alguns filmes se debruçam de maneira mais efetiva sobre o que é ser mulher, que olham para a representação e representatividade de forma mais analítica [..] Mas há, óbvio, filmes que tratam algumas questões relevantes e são importantes para as mulheres e para a causa feminista. São filmes que olham para o estado das coisas, reconhecem os efeitos do patriarcado e criam em cima disso. Há feminismo ali, sim. E são filmes importantes por isso", explica.

    Para a jornalista, os dois filmes olham para o mundo e reconhecem o papel da mulher de maneira muito pertinente, apesar de utilizarem de diferentes estratégias - um pela comédia, em outro pela fábula. Cecília ainda ressalta, que o grande mérito das duas obras, é dizer aquilo que está longe de ser uma novidade, e, por isso mesmo, poder, assim, observar como as pessoas lidam com essa realidade recriada na tela.

    E quando um é dirigido por uma mulher, e o outro não?

    Pobres Criaturas, por ser um filme que parte de um olhar masculino, tanto em direção, quanto em roteiro e até mesmo em sua obra original - o filme é baseado no livro escrito pelo autor Alasdair Grey - pode acabar caindo em uma perspectiva que representa as mulheres como objetos sexuais (ou, no termo gringo, o male gaze)?

    As críticas divergem nesse sentido. Para Cecília, Yorgos consegue acessar uma sensibilidade, para recriar a história de uma personagem tão complexa: "Além da maneira como ele pinta os personagens masculinos também, dando a eles todos os estereótipos que historicamente são associados a mulheres" completa. Embora, ela reconheça a grande problemática da indústria, e do Oscar (que é um reflexo imponente da indústria): o apagamento das realizadoras, frequentemente "esnobadas" na premiação.

    De Barbie a Justine Triet: Quem são as mulheres do Oscar 2024?

    Em um mercado que privilegia e protege os homens, chamar a atenção para os projetos que são dirigidos por mulheres (e aqueles que, talvez, deveriam), ainda se faz importante. "Elas ainda são minoria, assim como nas indicações. Não vai mudar tão cedo, mas há um começo de mudança aí" concluí Cecília. Seguimos esperando (e trabalhando) por isso.

    Quem vai ganhar o Oscar 2024? Vote aqui no seus favoritos e acompanhe a super live do AdoroCinema no domingo, 10 de março, a partir das 18h30.

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