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    Por que ainda precisamos falar da ausência de mulheres no Oscar? (Opinião)
    Giovanna Ribeiro
    Giovanna Ribeiro
    -Redatora
    Aprendeu com Amélie Poulain a ir ao cinema sozinha às sextas e observar a reação do público. Mas, no fundo, queria mesmo era ser o Rocky Balboa.

    Principal premiação da indústria cinematográfica, o Oscar falhou em reconhecer as mulheres profissionais do cinema. E continua falhando.

    A 95º edição do Oscar acontece neste domingo, 12 de março de 2023. Pouco depois do Dia Internacional da Mulher, 8 de março. A data, que é um marco político de luta das mulheres em todo o mundo, sempre traz consigo muitas reflexões de como nós avançamos (ou retrocedemos) nas pautas que dizem respeito à igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres.

    Em 95 edições do Oscar, apenas sete mulheres foram indicadas ao prêmio de Melhor Direção. E somente três levaram a estatueta. Parece notícia antiga, mas a cada premiação, se faz necessário chamar atenção para a ausência de mulheres em quase todas as categorias. Direção de fotografia, por exemplo, só conta com três indicações femininas ao longo dos últimos 95 anos de Oscar.

    Sendo a principal premiação da indústria cinematográfica, o Oscar pode não ser necessariamente um termômetro do que “vale a pena” ser assistido, e acumula uma lista de equívocos, motivados por quem faz uma campanha melhor, e nem sempre valorizando a obra mais relevante. Mas seu desrespeito com as profissionais do cinema, não deixa de ter um simbolismo enorme, que representa o desrespeito generalizado que as mulheres ainda precisam enfrentar no mercado como um todo. Inclusive tendo suas histórias apagadas.

    Passado, presente e futuro

    Alice Guy-Blaché foi a primeira cineasta da história, e antes mesmo te ter o direito ao voto, já estava fazendo filmes. A francesa foi pioneira também em linguagem - introduzindo a concepção de narrativa, ou seja, produzindo filmes que de fato contassem uma história, e não só reproduzissem o mundo exterior -, no uso do close-up e no uso do Chronophone, sincronizando filmagem e som. Alice também foi uma das primeiras a realizar colorização manual, muito antes do Technicolor, lançando um filme em cor em pleno ano 1900! Le départ d'Arlequin et de Pierrette (1900) ainda apresenta um beijo (mesmo que tímido) entre duas mulheres. Em 1900!

    Reprodução
    Alice Guy-Blaché, a primeira cineasta do mundo

    Em 2023, novamente o Oscar perdeu boas oportunidades de valorizar o trabalho de cineastas, e podemos citar, por exemplo, Gina Prince-Bythewood, diretora de A Mulher Rei, longa protagonizado por Viola Davis. A diretora inclusive deu declarações acusando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de racismo (nem ela, nem mesmo Viola, receberam indicações por seus trabalhos). Aftersun por sua vez, recebeu somente uma indicação à estatueta (Paul Mescal concorre a Melhor Ator). A diretora Charlotte Wells todavia, não foi indicada.

    Outros grandes "esnobados" da vez foram Ela Disse - dirigido por Maria Schrader - filme baseado no #metoo, movimento que expôs os abusadores de Hollywood, e Entre Mulheres, único filme dirigido por uma mulher a concorrer ao Oscar de Melhor Filme em 2023. Mas a diretora, Sarah Polley, não foi indicada ao Oscar de Direção (que este ano, só conta com indicações masculinas).

    Mais de um século depois da pioneira Alice Guy, as profissionais do audiovisual ainda precisam enfrentar o silenciamento, a violência e a falta de interesse em seus trabalhos, inseridas em um mercado e um sistema econômico e social que privilegia as narrativas dos homens. Mas, assim como as pioneiras também não deixaram de fazer cinema, as cineastas (inclusive brasileiras) seguem comandando suas obras, conquistando espaços e não deixando que suas histórias caiam no esquecimento, ou que essa ausência nas premiações não seja questionada. Sem elas, não há cinema.

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