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    21 anos de O Hóspede Maldito: Os erros e acertos da primeira adaptação de Resident Evil
    Diego Souza Carlos
    Apaixonado por cultura pop, latinidades e karê, Diego ama as surpresas de Jordan Peele, Guillermo del Toro e Anna Muylaert. Entusiasta do MCU, se aventura em estudar e falar sobre cinema, TV e games.

    Mais de duas décadas depois, chegou o momento de revisitar o projeto baseado no jogo da Capcom.

    Parece que foi há poucos anos, mas a primeira incursão de Resident Evil nos cinemas já tem mais de duas décadas. Sob direção de Paul W. S. Anderson, O Hóspede Maldito completou 21 nos de existência em 15 de março.

    Lá em 2002, a franquia da Capcom já era um grande fenômeno dos videogames, mas ainda tinha poucos títulos. Até o momento, a empresa havia lançado apenas quatro jogos principais - sim, incluindo Code Veronica, pois ele merece esse status - e caminhava para outras mídias.

    Apesar de George A. Romero, o idealizador de A Noite dos Mortos-Vivos, ter concebido os rascunhos do primeiro projeto live-action da franquia, a Sony Pictures não concordou com a visão do realizador em 1998 - curiosamente, ano em que a história de Resident Evil realmente se passa.

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    Nas mãos de Anderson, o game de survival horror ganhou as telas com um projeto estrelado por Milla Jovovich. A partir de uma adaptação que abandona o material original, mas tenta emular o universo da saga nas telonas, O Hóspede Maldito foi lançado.

    Para deixar de lado (ou reconfirmar) o senso comum de que todo longa de Resident Evil é ruim, chegou o momento de revisitar o filme que completou 21 anos há poucos dias. E o resultado é misto entre conclusões inesperadas e também pelo agridoce sabor de abandonar a nostalgia e aceitar que muito do que se diz pode ser verdade.

    Sem mais, abaixo confira erros e acertos da primeira adaptação de Resident Evil.

    Essência

    Divulgação/Sony Pictures

    O Hóspede Maldito faz uma adaptação totalmente livre de Resident Evil, mas resguarda alguns elementos do jogo. Entre o projeto e as cinco sequências que foram cada vez mais se afastando dos games de survival horror, o projeto se apresenta como o mais sóbrio da franquia que antecede Bem-Vindo a Raccoon City.

    Originalmente, o primeiro jogo da saga se passa majoritariamente na Mansão Spencer e Montanhas Arklay, região que abraça os arredores de Raccoon City. Com o jogador controlando Jill Valentine ou Chris Redfield, a história acompanha o grupo policial S.T.A.R.S. em uma missão na região em busca dos companheiros da equipe Bravo.

    Já no filme de Anderson, toda esta premissa é deixada de lado. No filme hoje disponível no Paramout+, o público assiste um grupo de elite adentrando a “Colméia”, um enorme laboratório subterrâneo utilizado para pesquisa genética que é controlado pela Umbrella, uma dos maiores conglomerados do mundo. A protagonista é Alice (Jovovich), que passa toda a narrativa tentando recuperar a sua memória até entender o seu papel nessa complexa rede de bioterrorismo.

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    Apesar de abandonar a trama de 1996, há alguns elementos que tentam ser preservados durante a película. Uma delas é ambientação claustrofóbica - enquanto as personagens de Milla e Michelle Rodriguez tentam encontrar um jeito de escapar de zumbis no misterioso laboratório da Umbrella, a direção privilegia tomadas em corredores e ambientes estreitos, algo que o jogo faz muito bem ao deixar o público cada vez mais tenso com os horrores que podem se revelar a cada esquina.

    Alguns inimigos comuns da franquia também estão no live-action. Apesar da caracterização dos mortos-vivos não ser perfeita, o uso de efeitos práticos em algumas sequências privilegia o suspense da narrativa - principalmente quando os efeitos especiais entram em ação. Vale lembrar que boa parte da história de Resident Evil tem um ar trash, de filme B, algo que talvez a direção não tenha brincado o suficiente. Mesmo que se perdoem os recursos datados pelo momento em que o projeto foi gravado, ainda há filmes anteriores que fizeram melhor, como é o caso de A.I. - Inteligência Artificial, Jurassic Park e O Quinto Elemento.

    Enquanto o licker parece ter sido tirado diretamente de um dos games, com os gráficos próximos ao visual artificial, os cachorros foram caracterizados de maneira prática, com direito a sangue falso e apenas a finalização em VFX. Um fato curioso é que os animais deram certo trabalho à equipe, pois não paravam de lamber os apetrechos.

    Outro aspecto dos games que é utilizado na história é a presença massiva de elementos da Umbrella Corporation, a grande antagonista da série. Não apenas nas ambientações da Colméia, mas em pequenos detalhes e easter-eggs da saga principal.

    Ângulos, direção e um filme de sua época

    Divulgação/Sony Pictures

    A direção é um bocado febril, o que se distancia dos games originais. No entanto, essa vibe MTV, com takes rápidos e uma atmosfera vinda diretamente da cena musical e urbana da época, deixa o filme essencialmente como um claro produto dos anos 2000. A trilha sonora ajuda nessa ambientação sexy - auxiliada pelo amor das câmeras de Anderson, marido de Jovovich, esculpido nas sequências de ação estreladas pela atriz. O rock e a música eletrônica surgem nos momentos de mais intensos, outro traço da época, que também deixa o longa com um quê constante de videoclipe.

    O problema é que ao se afastar do material de origem, o filme perde um pouco da sensação de medo e da sujeira de Raccoon City. Apesar de reproduzir levemente o conceito da Mansão Spencer na Colméia (equivalentes aqui, pois apresentam o microuniverso de Resident Evil e o início da infecção), os cenários muito claros e recheados de apetrechos tecnológicos destoam da franquia. Esses cenários até são vistos nos games, mas não representam a saga. Além disso, a direção poderia ter aproveitado alguns ângulos que referenciam a câmera fixa dos títulos, uma forte característica presente nos primeiros jogos.

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    O roteiro é simples, não se joga em muitas complexidades e nem tem momentos de terror efetivos. Existem alguns jump scares, mas o filme se apoia mais na ação do que no horror. Ainda assim, o público entregue à narrativa ainda pode perder o fôlego aqui ou ali.

    Alice

    Divulgação/Sony Pictures

    Alice é uma personagem interessante no início, mas infelizmente o futuro dela na franquia a descaracteriza de maneira absurda - ela parte de uma agente contra uma megacorporação a uma mulher com poderes que pula de prédios e causa destruição com piscar de olhos. Resumidamente, a personagem deixa de ser similar aos protagonistas da franquia para virar uma super-heroína.

    21 anos depois, O Hóspede Maldito se preserva como uma sóbria tentativa de adaptar, sem amarras ao material original, o game que fez a cabeça dos jogadores no final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Ame ou odeie, trata-se de um projeto válido, principalmente duas décadas depois, quando existem tantas produções que utilizam a propriedade intelectual de maneira duvidosa. Isso, todavia, não quer dizer que seja um bom filme, mas é preciso dizer que dentre longas live-action, séries e animações, talvez seja o projeto mais honesto da franquia.

    Anos depois, a sequência até tentou atender ao pedido dos fãs em utilizar melhor os personagens de Resident Evil e a cidade de Raccoon City. No entanto, a megalomania proposta excede qualquer proximidade com os jogos. Ali, próximo do minuto 27 de Apocalipse (pode conferir), mesmo com Jill e Carlos em cena, o público pode perceber que o comprometimento à fidelidade aos títulos da Capcom é apenas um disfarce para atender outras demandas.

    Resident Evil - O Hóspede Maldito
    Resident Evil - O Hóspede Maldito
    Data de lançamento 30 de maio de 2002 | 1h 41min
    Criador(es): Paul W.S. Anderson
    Com Milla Jovovich, Eric Mabius, Michelle Rodriguez
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