Jurassic World: Recomeço apresenta Scarlett Johansson em uma aventura genérica enquanto franquia luta para sobreviver
por Bruno Botelho dos Santos"A vida encontra um caminho". Esta é uma célebre frase de Ian Malcolm, personagem interpretado por Jeff Goldblum em Jurassic Park, que fala sobre adaptação e sobrevivência. Curiosamente, isso é o que a franquia vem tentando fazer há anos nos cinemas, mas falhando miseravelmente. Parece que, assim como os dinossauros, as boas ideias foram extintas.
Já falei por aqui sobre como a máquina de Hollywood em transformar qualquer obra original em franquia matou Jurassic Park. O encantamento que Steven Spielberg apresentou no primeiro filme de 1993 foi se diluindo e virou produto de nostalgia na trilogia Jurassic World, que até começou com um certo potencial, mas no terceiro capítulo, Jurassic World: Domínio (2022), deixou claro sua exaustão e falta de ideias.
É assim que chegamos ao novo capítulo, Jurassic World: Recomeço (2025), uma sequência independente na franquia. E, olhando para os nomes envolvidos na produção, não dá para negar que era promissor. Com um elenco formado por Scarlett Johansson, Jonathan Bailey e Mahershala Ali, direção de Gareth Edwards – que têm experiência em grandes sagas de Hollywood como MonsterVerse com Godzilla (2014) e Star Wars com Rogue One (2016) –, além do retorno de David Koepp, roteirista dos dois primeiros filmes nos anos 90. Infelizmente, os fãs têm mais um resultado decepcionante.
Jurassic World: Recomeço se passa 5 anos após os eventos de Jurassic World: Domínio, quando a ecologia do planeta se mostrou amplamente inóspita para os dinossauros. Os poucos sobreviventes vivem em ambientes equatoriais isolados.
O filme acompanha uma equipe, com Zora Bennett (Scarlett Johansson), Dr. Henry Loomis (Jonathan Bailey) e Duncan Kincaid (Mahershala Ali), em uma missão para obter amostras de DNA das três criaturas mais colossais da terra, mar e ar. Dentro dessa biosfera tropical, as criaturas são a chave para a criação de um medicamento com potencial para salvar inúmeras vidas. A missão é repleta de desafios extremos e a equipe luta contra os perigos de um mundo onde a natureza selvagem é a única soberana.
A proposta de Jurassic World: Recomeço é de voltar às origens da franquia com uma aventura mais simples ao estilo de Jurassic Park - Parque dos Dinossauros, colocando os protagonistas em uma missão – trocando o parque do primeiro filme por uma ilha onde foram realizados experimentos genéticos com dinossauros.
O envolvimento do roteirista David Koepp evidencia o saudosismo pelo clássico de Steven Spielberg, recriando várias cenas e tramas de Jurassic Park. Ainda que ele trabalhe bem com a nostalgia, fica evidente como a franquia está presa ao passado. Mais ainda, Recomeço tem muito pouco de novidade e originalidade para apresentar aos fãs de Jurassic World, parece que há um limbo neste universo, sem ideias de como seguir em frente na história, apenas reciclando conceitos batidos.
O principal acerto realmente foi a escolha de Gareth Edwards na direção, que tem experiência com criaturas gigantes, graças aos filmes Monstros (2010) e Godzilla (2014). Ele sabe trabalhar com a escala da ameaça e constrói boas sequências de ação e suspense envolvendo a variedade de dinossauros, em diferentes cenários, seja na água, terra ou céu. Mas os momentos mais tensos e empolgantes de Jurassic World: Recomeço estão quando a narrativa foca única e exclusivamente na sobrevivência dos personagens dentro da ilha – ainda que a produção não assuma riscos.
Não tem como negar que não existe um mesmo apelo e encantamento que encontrávamos nos filmes de Spielberg. Por mais que Edwards seja eficiente, não é possível sustentar uma franquia olhando para trás e sem apresentar quaisquer propostas criativas e originais.
Um dos maiores problemas de Jurassic World: Recomeço está em sua estruturação. Apesar de ser uma trama simples, o filme demora demais para chegar até a ilha, onde estão os momentos mais interessantes e que deveria ser a parte central.
Recomeço dedica a primeira parte de sua narrativa para explicar as motivações da missão e apresentar os personagens. Veja bem, ter Scarlett Johansson, Jonathan Bailey e Mahershala Ali é algo notável, mas eles sofrem com um roteiro preguiçoso e desinteressante. O trio tem muito pouca substância para desenvolver seus personagens e, por mais que tentem segurar as pontas com seu carisma, a dinâmica entre eles não flui naturalmente. Além deles, temos Rupert Friend como Martin Krebs, um executivo ganancioso por trás dessa empreitada.
Isso é ainda mais afetado quando temos a apresentação de outro núcleo de personagens, uma família correndo perigo em alto mar formada por Reuben (Manuel Garcia-Rulfo), suas filhas Teresa (Luna Blaise) e Isabella (Audrina Miranda) e o namorado de Teresa, Xavier (David Iacono). A intenção é aumentar a identificação com o público e acentuar os riscos com essas pessoas “comuns” se deparando com dinossauros. Funciona em certa medida, mas acaba fragmentando demais a narrativa em diferentes núcleos, o que faz ela ficar desnecessariamente inchada e que desvia a trama de seu verdadeiro propósito.
Os produtores poderiam ter decidido fazer um filme focado apenas na equipe da missão ou na família, mas resolvemos abraçar tudo em uma narrativa nada funcional.
No cerne de Jurassic Park sempre estiveram discussões sobre ética, ciência, política, vida e natureza a partir da engenharia genética. Em Jurassic World: Recomeço, a perda de interesse do público pelos dinossauros e como eles são usados/modificados para entretenimento é a temática principal. O que é um tanto cínico e faz uma metalinguagem com o estado da franquia, explorada ao máximo e de qualquer maneira em novos filmes para tentar fazer novamente um produto de sucesso.
Para um filme que se intitula como Recomeço, Jurassic World de Gareth Edwards é uma aventura genérica que não apresenta nada de original para reviver uma franquia Jurassic Park exausta. Por mais que tenha um elenco de peso e até crie momentos tensos e divertidos como um bom blockbuster, o filme parece estar completamente perdido em seu propósito de existência.
A franquia Jurassic Park está em apuros. Acima de tudo, uma crise de ideias. É mais do que urgente uma pausa para repensar seus caminhos ou veremos sua extinção nos próximos anos…