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    A Noite das Bruxas
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    A Noite das Bruxas

    Os fantasmas do passado no mistério de Agatha Christie

    por Bruno Botelho

    Os livros de Agatha Christie sempre serviram como uma ótima fonte de histórias para o cinema, por causa de seus elementos misteriosos e suas reviravoltas que instigam o público. Tanto que as obras da “rainha do mistério” permanecem despertando interesse até os dias de hoje, e a maior prova disso são os recentes filmes dirigidos e estrelados por Kenneth Branagh, que estão compondo uma espécie de universo cinematográfico da autora: Assassinato no Expresso do Oriente (2017), Morte no Nilo (2022) e agora A Noite das Bruxas (2023), mais uma aventura do famoso detetive Hercule Poirot nos cinemas

    A Noite das Bruxas é ambientado na cidade mais bonita do mundo, Veneza, pós-Segunda Guerra Mundial, na véspera do Dia das Bruxas. Aposentado e vivendo em um exílio auto imposto na cidade mais glamourosa do mundo, o detetive Hercule Poirot (Kenneth Branagh) relutantemente participa de uma sessão espírita em um decadente palácio assombrado. Quando um dos convidados é assassinado, o detetive se vê imerso em um mundo sinistro de sombras e segredos para conseguir desvendar o mistério. 

    O ceticismo de Hercule Poirot encara o sobrenatural em A Noite das Bruxas 

    20th Century Studios

    Logo de cara, A Noite das Bruxas se mostra uma escolha inusitada e interessante como nova adaptação de Agatha Christie para as telonas. Inspirado no livro da autora de mesmo nome lançado em 1969, o filme de Kenneth Branagh com roteiro escrito por Michael Green segue por um caminho diferente do que vimos nos capítulos anteriores lançados nas telonas, Assassinato no Expresso do Oriente e Morte no Nilo, explorando uma trama mais sobrenatural e cheia de elementos sombrios conforme os segredos são revelados.

    Nos últimos anos, os filmes de mistério e as narrativas “whodunnit” (quem matou?) voltaram com tudo, não apenas com as adaptações da obra de Agatha Christie, mas principalmente com o sucesso de Entre Facas e Segredos (2019) e sua sequência Glass Onion: Um Mistério Knives Out (2022). Por isso mesmo, a intenção de A Noite das Bruxas é fazer algo um pouco diferente de tudo isso, mas sem deixar de lado todo o aspecto investigativo e misterioso envolvendo as histórias clássicas estreladas por Hercule Poirot. 

    Falando em Poirot, aqui encontramos o icônico detetive interpretado por Kenneth Branagh desfrutando de sua aposentadoria em Veneza. Mas não demora muito para que a cidade italiana conhecida por sua beleza se transforme em um pesadelo com um assassinato misterioso durante uma sessão espírita. Mais cético do que nunca nesse estágio da vida, o filme inteligentemente coloca o protagonista para desafiar suas próprias crenças. Afinal, tudo isso é apenas mais um caso de charlatanismo ou nos deparamos com uma presença sobrenatural? Essa é a questão que fica na cabeça de Hercule Poirot e, consequentemente, acompanha o público conforme mais crimes vão acontecendo – e as coisas saem completamente do controle. 

    A direção de Kenneth Branagh se aproveita bem de todos esses elementos. Ela evoca uma atmosfera nada glamourosa e mais sombria de Veneza, explorando as sombras e eventos supostamente sobrenaturais para aumentar a tensão e o mistério da narrativa. Isso é reforçado pela trilha sonora minimalista e soturna de Hildur Guðnadóttir, vencedora do Oscar por Coringa (2019), ao lado do design de produção. Não espere por sustos realmente traumatizantes como em filmes de terror, já que essas cenas não chegam a ser tão arrepiantes assim, mas por um clima sinistro de desconforto indicando a presença de alguma coisa.

    A Noite das Bruxas expõe os fantasmas do nosso próprio passado 

    20th Century Studios

    A Noite das Bruxas foge um pouco das fórmulas clássicas e fica bem mais criativo com seus mistérios, justamente pela presença de elementos sobrenaturais, e a dúvida constante se eles são realmente verdadeiros. Quando desvendamos mais camadas, a trama se apresenta de uma forma madura sobre a maneira que lidamos com os fantasmas de nosso passado, especialmente como escondemos eles para nossa própria proteção ou alívio de consciência, e tamém como eles voltam para nos assombrar. 

    Enquanto o roteiro de Michael Green acerta ao brincar bastante com essa ambiguidade entre existir realmente ou não uma ameaça sobrenatural, ele acaba escorregando na solução do mistério central de “whodunnit”, principalmente por colocar diferentes reviravoltas em sequências que podem parecer uma forçação de barra para o público – ainda assim uma revelação eficiente pelo seu contorno macabro.

    Os segredos são uma parte fundamental de qualquer narrativa de mistério, então o elenco de A Noite das Bruxas está repleto de nomes conhecidos que envolvem o público, como Tina Fey, Kelly Reilly, Jamie Dornan, Michelle YeohJude HillCamille Cottin e Dylan Corbett Bader no elenco da produção. Além do tão conhecido Hercule Poirot de Kenneth Branagh, o destaque fica para Ariadne Oliver (Tina Fey), uma autora de mistério – que é basicamente um versão ficcional da própria Agatha Christie.

    Amiga de longa data do Poirot, ela é quem convida o detetive para a sessão espírita onde ocorre um assassinato e parece estar sempre testando as crenças do protagonista, além de se aproveitar dos eventos para benefício próprio, criando uma dinâmica interessante entre os dois. Outra personagem que chama atenção é Rowena Drake (Kelly Reilly), anfitriã da festa que tenta conversar com sua filha morta através da atormentada médium Joyce Reynolds (Michelle Yeoh), e ganha destaque ao longo do filme conforme mais camadas da personagem e suas intenções são reveladas. 

    Vale a pena assistir o novo mistério de Agatha Christie?

    20th Century Studios

    A Noite das Bruxas vai por uma linha diferente da fórmula de mistério de Agatha Christie que encontramos nas adaptações anteriores pro cinema, Assassinato no Expresso do Oriente (2017) e Morte no Nilo (2022), apostando em elementos sobrenaturais e uma atmosfera sombria de um palácio em Veneza. Com isso, o filme de Kenneth Branagh brinca com as crenças e ceticismo do famoso detetive Hercule Poirot, enquanto desvendamos os fantasmas do passado conhecendo os personagens suspeitos dos assassinatos.

    Essa é a terceira adaptação da “rainha do mistério” comandada por Branagh e, mais do que nunca, o filme mostra que o universo cinematográfico de Agatha Christie tem fôlego para explorar o mistério de diferentes maneiras e perspectivas. 

     

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