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Better Man - A História de Robbie Williams

Em Better Man, temos uma visão nada romântica de Robbie Williams e não é só por causa do macaco

por Nathalia Jesus

O novo filme Better Man — A História de Robbie Williams, que narra a tumultuada e emocionante trajetória de Robbie Williams, é uma obra cinematográfica ousada que mistura biografia com uma dose generosa de fantasia, cativando pela criatividade ao retratar uma história que poderia facilmente passar despercebida nos cinemas.

A direção do australiano Michael Gracey, conhecido por produções musicais como O Rei do Show e P!nk: Tudo que Aprendi Até Agora, se utiliza de uma estética visual e emocional intensa, entregando aos espectadores uma representação da luta interna de Williams, suas inseguranças, e a busca pela identidade.

Qual é o enredo de Better Man — A História de Robbie Williams?

Paramount Pictures

Better Man é uma biografia ficcionalizada de Robbie Williams, centrada em sua ascensão meteórica à fama com o grupo Take That, sua luta contra os demônios pessoais, incluindo a relação conturbada com o pai, e sua constante batalha para equilibrar o status de celebridade com o desejo de ser um artista autoral. O filme oferece uma abordagem não-linear, com Robbie sendo transportado por uma visão surrealista de sua própria vida e carreira, que vai de momentos de grande sucesso até os períodos mais sombrios e repletos de vícios.

A trama não se limita a uma sequência cronológica, mas se constrói de maneira fragmentada, alternando entre cenas do passado e do presente. Além disso, um dos grandes destaques do filme fica por conta do visual único e o emprego de elementos fantásticos, como um macaco que simboliza o alterego do artista. Assim, a imagem do animal silvestre e os números musicais trazem uma aura abstrata que contribui para expor os complexos aspectos psicológicos do cantor e compositor.

Um delírio visual no retrato de Robbie Williams

A maior força do filme está, sem dúvida, na direção visual e na interpretação central de Jonno Davies, que assume o papel de Robbie Williams. O ator, apesar de ter mais de 10 anos de carreira, pode parecer um talento emergente para muita gente — e essa imagem pode perdurar mais um tempo, já que ele não aparece em sua forma “humana” no longa-metragem. Aqui, ele empresta seu corpo e rosto de maneira brilhante, transmitindo com maestria a vulnerabilidade de Williams.

A performance do rapaz vai além da mera imitação, sendo uma reinterpretação emocionalmente rica do astro. E para quem se chocou com uma cinebiografia ilustrada pela imagem de um macaco, vai se surpreender com o quanto o CGI animalesco acrescentou à história. A abordagem criativa soa tão cativante quanto perturbadora, e faz com que o filme se distinga de outras produções do mesmo gênero.

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Além disso, a fotografia de Better Man — A História de Robbie Williams é de tirar o fôlego, com cenários vibrantes que capturam a essência de cada fase da vida de Williams. O design de produção mistura cenas realistas com elementos fantasiosos, criando uma atmosfera que reflete a dualidade do artista: sua face pública extravagante (e meticulosamente fabricada) e seu lado sombrio, repleto de conflitos pessoais, vícios e auto-ódio.

Os números musicais roubam o ritmo da narrativa

Apesar das qualidades já citadas, nem tudo são acertos. A maior crítica ao filme recai sobre o uso excessivo de números musicais, que, embora tentem imitar a energia e o estilo de Williams, acabam quebrando o ritmo da narrativa. As canções de Robbie Williams são, sem dúvida, uma parte essencial de sua identidade, mas, tais performances tornam-se um obstáculo à evolução da trama. E não, a crítica que vos escreve não é hater de musicais, caso isso tenha sido cogitado.

Em algumas cenas, as músicas surgem de maneira abrupta, como números de um musical, sem uma integração natural com a história que está sendo contada. A escolha de intercalar momentos dramáticos com sequências musicais que, muitas vezes, parecem forçadas, faz com que o filme se perca em sua tentativa de equilibrar o drama e o espetáculo. Ao invés de utilizar as canções como uma ferramenta para aprofundar a compreensão do personagem, elas acabam servindo mais como um truque visual, desviando o foco da narrativa central.

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Em certos momentos, o longa-metragem se transforma em uma sequência de videoclipes. Embora a música de Williams seja poderosa e tenha uma conexão emocional com o público, o uso constante dela torna algumas passagens monótonas e excessivamente longas — chatas, para ser bem sincera.

Ainda bem que tem o macaco!

Embora Better Man procure capturar as complexidades da personalidade retratada, a narrativa por vezes se perde na superficialidade dos estereótipos do rockstar em crise. A obsessão com a imagem pública, as batalhas contra o vício e a luta pela aceitação são temas recorrentes no gênero de biografias musicais e, nesse sentido, o longa-metragem não traz uma perspectiva tão nova ou fresca. Felizmente, a figura selvagem está ali para dar um “up” em uma história pra lá de batida.

O macaco, que é uma das metáforas mais visíveis do filme, representa tanto a escravidão à fama quanto a solidão que Williams enfrenta, tornando Better Man um pouco mais interessante ao enfatizar o caráter fantasioso, ilusório, da esfera mental do astro.

Apesar das falhas em termos de ritmo e alguns excessos narrativos, Better Man — A História de Robbie Williams ainda se mantém como uma produção interessante e única dentro do gênero de biografias musicais. A performance de Davies é impressionante e as escolhas visuais de Michael Gracey, por mais que não agradem a todos, oferecem uma experiência sensorial que é difícil de ignorar.

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Se você é fã de Robbie Williams ou aprecia filmes que exploram os altos e baixos de figuras públicas de maneira criativa, Better Man é uma boa pedida. Inclusive, é um filme tão honesto que não permite que o cantor seja visto somente pela ótica romântica aplicada em produções cinematográficas que contam com seus biografados na produção — porque, sim, o cantor está envolvido diretamente na obra, mas nem por isso ele é retratado como um mocinho defendido incondicionalmente pelo roteiro.

No entanto, se o que você busca é uma biografia mais tradicional e coesa, que explore as profundezas emocionais do personagem sem distrações, pode ser que o filme deixe a desejar — mas, caso decida sair da zona de conforto, não vai se arrepender.

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