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    Pelé
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Pelé

    Livro de memórias

    por Barbara Demerov

    Pelédocumentário da Netflix dirigido por David Tryhorn, aproveita tudo o que já sabemos sobre a lenda viva do futebol para criar uma narrativa repleta de idas e vindas no tempo, permeada de assuntos leves e outros espinhosos. Por esse motivo, não há nenhuma novidade concreta nesta produção a não ser a agradável revisita a uma jornada que, mesmo após muitas décadas, ainda se sobressai aos olhos de fãs, jornalistas e parceiros de carreira.

    O filme não deixa de celebrar Pelé, nem mesmo nos momentos mais frágeis que não só falam sobre o jogador de futebol como também sobre a história política do Brasil. Através da entrevista feita em um espaço amplo e iluminado, com apenas uma cadeira na qual o protagonista permanece até o fim da projeção, Pelé pode ser considerado um livro de memórias que, além de destacar vitórias e desafios em campo, abrange toda uma época delicada: a Ditadura Militar em nosso país.

    Por um lado, a conexão que o diretor faz entre a história profissional de Pelé com o início da Ditadura no Brasil convence pela semelhança de datas, passagens em que ambos os universos -- o futebol e a política -- se encontram, etc. Porém, fora essa conexão um tanto distante não faz jus ao peso de nenhum dos lados. Afinal, como pessoa comum, Pelé sempre foi conhecido por se abster do assunto política e não costuma fazer declarações relacionadas a isso. Por isso, a figura não sentiu o peso da Ditadura como outros brasileiros. Em uma das passagens do filme, ele afirma que "nada mudou" em sua carreira durante o conturbado período no Brasil.

    Fora o tema complexo e que diz respeito à importância do futebol num período obscuro (não necessariamente apenas de Pelé, por mais que sua presença tenha tido destaque no time brasileiro na época), o documentário conta com um rico material de arquivo. Essa característica faz com que a narrativa conte com um ritmo agradável, especialmente pelo fato de os depoimentos de Pelé serem acompanhados pelos seus colegas de campo (como Zagallo), jornalistas que cobrem esporte e, também, por sua própria família.

    Os recortes que mesclam a violência da Ditadura com os jogos de Copa do Mundo se relacionam de forma contrastante ao longo do filme, e o resultado não deixa de ser proveitoso com o intuito de observar dois "mundos" tão diferentes. Em outra cena da produção, Pelé diz que se sentiu aliviado ao vencer sua última Copa, numa final emocionante contra a Itália em 1970. Por mais que o público já tenha visto momentos daquela partida, é praticamente impossível deixar de acompanhar os passes de bola e a emoção do jogador ao vencer a final. E, com a adição da palavra "alívio" registrada, o significado daquele momento passa a ser outro, sem estar relacionado apenas ao futebol.

    Pelé, enquanto documentário, procura institivamente por outros tipos de respostas originadas do protagonista. E, em partes, consegue. Não há provocações suficientes para conseguir informações inéditas ou até mesmo um depoimento sobre outro assunto que não seja o esporte, mas o recorte final, como dito antes, se assemelha bastante com um livro de memórias. Por mais que isso não pareça ser tão complexo, a própria figura de Pelé já traz conteúdo e lembranças suficientes para compor uma parte do que é o Brasil. E é através deste pensamento que Tryhorn mantém seu foco no filme.

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