Anthony Mackie tenta substituir Chris Evans com a ajuda de Harrison Ford numa aventura pouco inventiva de Capitão América
por Katiúscia Vianna14 anos atrás, Chris Evans fazia sua estreia como Capitão América nas telonas com O Primeiro Vingador. A partir daí, tivemos duas sequências focadas no herói, sem contar suas aventuras com os avengers ou outras participações ao redor do Universo Cinematográfico Marvel. Em Ultimato, Steve Rogers se aposentou e passou o bastão para Sam Wilson (Anthony Mackie). Agora, chegou a vez do personagem ter sua primeira aventura como Capitão América nos cinemas. Mas com grandes responsabilidades, surgem grandes expectativas… Esse é o desafio de Admirável Mundo Novo (por favor não confundir com o livro homônimo de Aldous Huxley) (ou com o Admirável Chip Novo da Pitty)!
Brave New World (no original) acompanha Sam Wilson tentando lidar com o legado de Capitão América, principalmente após Thaddeus Ross (agora interpretado por Harrison Ford, após a morte de William Hurt) ser eleito presidente dos Estados Unidos. Devido ao passado conturbado do político em relação aos heróis, uma parceria entre os dois parece impossível.
Porém, uma série de atentados colocam Sam no meio de uma batalha por controle de adamantium, que pode culminar numa guerra mundial. Por trás de teorias da conspiração e crises globais, Capitão América conta com o apoio de Joaquin Torres (Danny Ramirez), o novo Falcão. Tudo se complica quando adicionamos na história o criminoso Coral (Giancarlo Esposito), da Sociedade das Serpentes, e Ruth (Shira Haas), uma antiga Viuva Negra. Ah, e claro, temos o Hulk Vermelho revelado nos trailers.
Possivelmente, não acredito que alguém vai chamar o roteiro de Capitão América: Admirável Mundo Novo como algo surpreendente. Apesar de ser escrito por cinco pessoas, a versão final da aventura de Sam Wilson, após diversas refilmagens, entrega uma aventura básica de herói. Porém, duas questões chamaram minha atenção de forma curiosa. A primeira é perceber como o filme é ancorado em questões abordadas naquele que muitos consideram como o filme mais esquecido do MCU: O Incrível Hulk, de 2008.
Se Capitão América é o protagonista, a jornada de Ross também é muito importante nesse longa e, para isso, precisamos falar sobre seus erros e relacionar com outros personagens do filme antigo de Louis Leterrier. Não é a toa que Admirável Mundo Novo separa uns belos 20 minutos para explicar tudo que o público precisa lembrar da aventura do Hulk - e aproveita para ressaltar algumas questões para quem não viu a série Falcão e o Soldado Invernal.
A segunda coisa que chama a atenção é como a maior surpresa do filme não somente foi revelada nos trailers, como se tornou peça fundamental dos materiais promocionais de Capitão América 4: o Hulk Vermelho. Só quem mora embaixo de uma pedra não sabe que Ross, eventualmente, vai se transformar no Hulk Vermelho. Mas o longa de Julius Onah trata isso como se fosse uma grande reviravolta, o que provavelmente era sua intenção original. Só que a Marvel parece mais preocupada em chamar o público usando figuras já conhecidas ao invés de apostar em histórias novas.
Bem, não podemos falar do filme do Capitão América sem citar o Capitão América em si. Anthony Mackie segura bem o posto de herói protagonista, apesar de estar preso com alguns monólogos clichês. Mas o dilema sobre como substituir (ou, pelo menos, se achar digno de substituir) Steve Rogers é algo central na trama, abordada de maneira bacana.
Principalmente no aspecto físico, já que Sam Wilson não é um super-soldado, só um humano muito boladão que sabe cair na porrada. As cenas de luta são legais, mostrando como ele cria sua própria personalidade como Capitão América, ainda usando suas asas como nos tempos de Falcão, mas também sabendo manusear o famoso escudo. O toque mais interessante é perceber como Sam sabe usar as tecnologias a seu favor, mas merece mesmo ser o Capitão América por suas habilidades e humanidade.
Ao seu lado, Sam aparece bastante com o novo Falcão, Joaquin Torres - que quase não tem profundidade dramática, mas se destaca pelo carisma de Danny Ramirez, sendo até alívio cômico em certos momentos. Ele serve para trazer um ar mais leve numa trama tão cheia de políticas e tensões, então estou curiosa para ver mais sobre esse personagem, já que, provavelmente, poderemos vê-lo nos próximos filmes da Marvel. Quem sabe estamos já conhecendo a próxima geração dos Vingadores? É esperar Doomsday para ver…
Se Mackie e Ford ganham bastante tempo de tela, fica aqui o desejo que tivessem utilizado melhor personagens como Ruth e Coral. Apesar de terem participações na história, suas interações não são muito significativas no grande aspecto da trama, aparecendo como figurantes de luxo - dando espaço para um outro vilão, que não vou revelar a identidade por motivos de spoiler, mas uma rápida procura no google já responde essa dúvida.
No final das contas, Capitão América: Admirável Mundo Novo não é um filme ruim. Sua história pode ser meio básica, mas ainda é uma aventura divertida para quem gosta do gênero. O problema é que, por trás de sua tentativa de ganhar o mundo, existe um legado gigantesco. Anthony Mackie é um ótimo ator, mas a Marvel parece ter medo de seguir o caminho que eles mesmos escolheram: Sam Wilson é o Capitão América, ótimo, apostem nisso!
O medo generalizado de perder audiência por deixar personagens queridos para trás, como Steve Rogers, abre precedentes perigosos para o entretenimento. Se as empresas só ouvirem os fãs que se intitulam nostálgicos ou tradicionais, mas, na realidade, têm medo de diversidade, pode significar o fim da criatividade - mesmo que seja “apenas um filme de heróis”. Aliás, não deveria existir esse “apenas”. Filmes de todos os gêneros podem ser interessantes e divertidos.
Junto à isso, temos a inegável estafa do mundo dos heróis, já que realmente cansa acompanhar cada um dos lançamentos do MCU, inclusive todas as séries de TV (que, no geral são bem legais, diga-se de passagem, mas não têm o mesmo público do cinema) necessárias para entender apenas um filme, por exemplo. De um lado, os produtores pensam que são essas conexões que trazem o público aos cinemas. Talvez do ponto de vista de marketing, isso pareça certo, eu não sei. Mas em questão de conteúdo, só me resta imaginar como seria ver um filme de Sam Wilson focado em Sam Wilson; não uma continuação escondida de um filme de 17 anos atrás. Ficou só na imaginação mesmo.