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    Cherry - Inocência Perdida
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Cherry - Inocência Perdida

    Tramas que não se conectam

    por Barbara Demerov

    O aguardado filme Cherry, dirigido pelos irmãos JoeAnthony Russo e protagonizado por Tom Holland, o Homem-Aranha da Marvel, enfim está disponível no AppleTV+. Em primeira pessoa, a história de um médico do Exército com estresse pós-traumático é narrada em capítulos, desde sua juventude até retornar do Iraque. Cherry (Holland) voltou dos horrores da guerra e acabou por se refugiar nas drogas, não sem antes levar sua jovem esposa Emily (Ciara Bravo) junto consigo.

    A sinopse de Cherry já toca em um ponto sensível que envolve a dificuldade que os soldados norte-americanos têm em se readequar à sociedade no período pós-guerra. É impossível saber o que o soldado que se alistou verá em campo ao longo da viagem, em uma guerra que não é exatamente sua para dar tanto de si, incluindo talvez a própria vida. Por isso, o filme e a atuação de Tom Holland marcam bem todo tipo de trauma vivido ao lado dos companheiros de ação, o que justifica o prólogo acelerado e sombrio. O problema é que o coração do filme -- a guerra e seus efeitos -- possui pouco mais de meia hora dentro de uma duração de mais de duas horas de projeção.

    Isso fere diretamente no ritmo do filme, que se perde em meio às diversas subtramas vividas por Cherry. Seu relacionamento com Emily, que é algo que toma total atenção do roteiro ao longo da narrativa, é um dos elementos que nunca parecem se encaixar com a trama pessoal do jovem protagonista. Há poucas informações sobre os personagens, sobre como eles eram antes do relacionamento. Além disso, o espectador pouco vê Cherry lidar com o estresse pós-traumático e sim se drogando cada vez mais. Logicamente, seu vício destrutivo nasceu da guerra, mas não há vínculos tão fortes entre ela e os problemas pessoais de Cherry -- e isso reflete na sensação de que o filme nunca anda para frente.

    Filme dos irmãos Russo se perde nos elementos visuais e não entrega uma narrativa consistente e interessante 

    O mesmo pode se dizer da relação entre Cherry e Emily. A garota, que no início do longa dos irmãos Russo tem o sonho de estudar em Montreal, perde-se completamente no namoro e casamento com o protagonista e seu brilho se esvai de forma bem rápida. Seu próprio vício em drogas também é inserido de forma drástica, entre uma cena em que não aguenta mais ver o marido inconsciente e outra que começa a tomar os mesmos remédios também. É a partir deste momento que Cherry entra numa espiral de acontecimentos repetitivos e desgastantes (tanto para o casal, quanto para o público). A falta de dinâmica da direção dos Russo impede até mesmo a empatia que poderia ser construída com relação aos jovens, porque nada ali evolui de forma chamativa.

    É uma pena que os momentos em campo no Iraque passem tão rápido, pois é ali que Cherry construiu os alicerces de seus maiores problemas e encarou uma mudança de vida tão brutal quanto inesperada. Até mesmo a direção dos Russo soa menos afetada e mais crua, mostrando a guerra como ela é e o modo como Cherry se porta sob ameaça. Já durante os outros dois terços de filme observamos cenas em câmera lenta, músicas clássicas que sobrepõem qualquer diálogo e momentos excessivamente dramáticos (quando na verdade mal podemos compreender como Cherry e Emily chegaram até tal ponto).

    Falta conteúdo e sobra um material visual atraente que, no fim das contas, não sustenta uma história superficial, mal se conectando em meio à divisão de capítulos. O desfecho de Cherry também demonstra a falta de um ponto final mais marcante, pois deixa a leve impressão de que os personagens principais sempre estarão dentro de um ambiente circular sem saída. Apesar da boa performance de Holland no papel principal, o filme não registra o mesmo impacto que prometeu antes da estreia.

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