Com Amor, Simon, dirigido por Greg Berlanti e baseado no romance Simon vs. the Homo Sapiens Agenda, de Becky Albertalli, apresenta-se como um marco cultural significativo no cinema contemporâneo. Sendo o primeiro filme de um grande estúdio a centrar-se em um romance adolescente gay, a obra possui um apelo universal que vai além de sua proposta romântica, promovendo reflexões importantes sobre identidade, aceitação e a busca pela autenticidade em um contexto juvenil. A narrativa, embora delicada e leve em sua execução, carrega uma profundidade emocional que a torna memorável e relevante.
A história acompanha Simon Spier, um adolescente que enfrenta o desafio de revelar sua orientação sexual para amigos e familiares, enquanto lida com as complexidades de um chantagista que ameaça expor seu segredo. Esse conflito central não é apenas o motor da trama, mas também o catalisador para discussões mais amplas sobre aceitação, respeito e as dificuldades que jovens LGBTQIA+ enfrentam em sua jornada de autodescoberta. A escolha do roteiro por explorar essas questões com humor e sensibilidade é uma de suas maiores virtudes, oferecendo ao público uma experiência que é simultaneamente tocante e envolvente.
A jornada de Simon reflete as pressões sociais e os medos que muitos jovens enfrentam ao se sentirem diferentes em uma sociedade que frequentemente privilegia a normatividade. A metáfora do anonimato em sua relação virtual com "Blue" é poderosa: ela representa o desejo de se conectar sem o peso dos rótulos, algo que ressoa profundamente em um mundo que ainda discrimina e estigmatiza orientações não heteronormativas.
Nick Robinson entrega uma performance impecável como Simon. Ele captura com maestria a angústia, a alegria e a vulnerabilidade do personagem, tornando-o crível e relacionável. A química com seus amigos – interpretados por Alexandra Shipp (Abby), Katherine Langford (Leah) e Jorge Lendeborg Jr. (Nick) – confere à narrativa uma autenticidade que reforça o valor das amizades na formação da identidade. No entanto, é válido apontar que o desenvolvimento desses personagens secundários poderia ter sido mais robusto, considerando o papel central que desempenham na trajetória de Simon.
Os pais de Simon, vividos por Jennifer Garner e Josh Duhamel, embora com tempo limitado em tela, têm momentos de destaque que exploram a dinâmica familiar. A cena em que a mãe de Simon o consola após sua revelação é um dos pontos altos do filme, destacando a importância do apoio familiar na aceitação individual. A direção de Berlanti, por sua vez, é eficiente em equilibrar humor e drama, permitindo que o filme nunca se torne excessivamente pesado ou trivial.
Com Amor, Simon transcende sua proposta de entretenimento ao tocar em questões de inclusão e igualdade. A frase de Simon – "Eu sou como você" – sintetiza a mensagem central do filme: a orientação sexual não define o valor ou a humanidade de uma pessoa. Nesse sentido, a obra desafia a ideia de que histórias de amor LGBTQIA+ precisam ser trágicas ou excepcionalmente dramáticas para serem válidas. Em vez disso, ela celebra a normalidade e a universalidade do amor, seja ele qual for.
É importante destacar que o filme também serve como uma crítica sutil às pressões impostas pela heteronormatividade. A metáfora do "armário" é abordada de forma irônica, especialmente quando Simon reflete sobre como seria se as pessoas heterossexuais tivessem que "sair do armário". Essa inversão de perspectiva é eficaz em provocar o público a questionar os privilégios de uma sociedade estruturada em padrões que excluem as diferenças.
Apesar de seus méritos, Com Amor, Simon não está isento de críticas. A narrativa, por vezes, recorre a clichês do gênero adolescente, o que pode diluir parte de sua mensagem. Além disso, o desfecho, embora satisfatório e emocionalmente impactante, segue uma fórmula previsível que não explora todo o potencial das questões levantadas ao longo da trama. No entanto, essas limitações não comprometem a qualidade geral do filme, que se mantém relevante e comovente.
Com Amor, Simon é uma obra que combina entretenimento e reflexão de maneira exemplar. Ele não apenas se estabelece como um marco na representação LGBTQIA+ no cinema, mas também oferece uma história universal sobre amor, aceitação e a coragem de ser quem você é. Embora pudesse ter aprofundado alguns de seus personagens e evitado certos clichês, o filme se destaca como uma celebração sincera e necessária da diversidade. É uma narrativa que dialoga com os anseios de uma geração que busca construir uma sociedade mais inclusiva e empática, tornando-se, assim, um clássico moderno.