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    Transformers: O Despertar das Feras
    Críticas AdoroCinema
    3,0
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    Transformers: O Despertar das Feras

    Apesar de acertos e novidades, já não vimos isso antes?

    por Diego Souza Carlos

    Dezesseis anos depois de Megan FoxShia LaBeouf mostrarem ao mundo que robôs alienígenas ao som de Linkin Park poderiam ter o seu encanto, a franquia Transformers chega ao seu sétimo capítulo. O Despertar das Feras estreia nos cinemas com uma difícil missão: resguardar o tom elogiado de Bumblebee, seu antecessor, e fazer jus aos momentos em que a interminável jornada dos Autobots cintilava no meio de batalhas recheadas de explosões.

    Ambientado nos anos 1990, o filme leva o público a uma aventura global cheia de ação, enquanto os Maximals, Predacons e Terrorcons se juntam à batalha entre os Autobots e Decepticons na Terra. Noah (Anthony Ramos), um jovem astuto do Brooklyn, e Elena (Dominique Fishback), uma ambiciosa e talentosa pesquisadora de artefatos, são arrastados para o conflito enquanto Optimus Prime e sua trupe enfrentam Scourge, um terrível novo inimigo empenhado em sua destruição, a mando do terrível Unicron (imagine ele como o Galactus da Marvel).

    A direção está nas mãos de Steven Caple Jr., de Creed II, Rapture e Grown-ish. No ano passado, o cineasta teve um prévio contato com a franquia através da animação Transformers: A Centelha da Terra, do qual dirigiu um episódio.

    O DILEMA DO SÉTIMO FILME

    Antes de mergulhar a fundo na história do novo capítulo é interessante fazer uma breve contextualização sobre a série de ficção científica. Durante a extensa batalha contra os Decepticons, os seres humanos se aliaram aos Autobots para dar um ponto final nessa batalha pela sobrevivência - que, na maioria das vezes, se esbarra no risco de acabar com o planeta Terra.

    Ao longo destes anos e das várias sequências, os terráqueos perderam seu brilho e seus aclamados pontos de carisma e charme para dar lugar a shows de pirotecnia e efeitos especiais caríssimos. Não que essa marca visual não esteja impressa desde o primeiro filme, mas a frieza dos metais alienígenas, por vezes inexpressivos, tornou-se o foco. À medida que isso foi acontecendo, a crítica e o público conferiu um palpável desgaste da franquia. Foi quando Michael Bay deu adeus à saga, como diretor, e deixou a Paramount pensar em outras possibilidades para continuar a adaptação.

    Em 2018, Bumblebee reacendeu as expectativas quanto ao universo sci-fi, justamente porque colocou os faróis na relação entre humanos e robôs. As lutas todas estão ali, mas a conexão entre Charlie, interpretada por Hailee Steinfeld, e o personagem-título, fez com que uma fagulha de inventividade surgisse entre as máquinas. E não, não é como se o filme fosse ‘inovador e revolucionário’, muito pelo contrário. No entanto, sua construção amarrada aos moldes dos anos 1980 não apenas na trilha sonora, mas também à estética e à estrutura de narrativa fizeram os olhos de muitos brilharem. Houve conexão.

    Agora, O Despertar das Feras chega em meio a este dilema de uma estranha maturidade da franquia, com tropeços e acertos em um caminho completamente explosivo.

    NOVOS ROSTOS, MESMA ESTRUTURA

    Um dos maiores trunfos de O Despertar das Feras está vinculado aos humanos que acabam cruzando o caminho dos Transformers. Anthony Ramos dá vida a Noah, um típico jovem de origem latina vivendo nos Estados Unidos em meados dos anos 1990. Conhecemos seu irmão, que vive com uma doença crônica, e sua mãe, que trabalha para sustentar a família e dar conta do tratamento do filho mais novo. Sua introdução se dá de maneira interessante, a partir de uma trilha sonora forte, tomada por batidas de Wu-Tang Clan. Importante para a contextualização da época, inclusive, há músicas, games e uma enxurrada de referências da cultura pop despejados durante a trama.

    Após se decepcionar com uma entrevista de emprego frustrada por seu antigo chefe, o protagonista recorre a outros meios e tenta cometer o seu primeiro crime ao lado de Reek (Tobe Nwigwe). É neste momento que conhecemos Mirage, inicialmente disfarçado de carro. A dinâmica entre os dois adicionada a uma cena de perseguição faz com que Noah acaba se tornando um agente da nova missão dos robôs alienígenas: encontrar um artefato escondido na Terra antes dos seus inimigos.

    Entre os humanos que formam uma aliança com os Autobots, conhecemos também Elena (Dominique Fishback). O público que assistiu Swarm, uma das melhores adições ao catálogo do Prime Video neste ano, já teve contato com a talentosa atriz norte-americana. Ao lado de Noah, componente emocional do time, ela se torna o cérebro da nova e disfuncional equipe.

    CONTINUAÇÃO OU REBOOT DE TRANSFORMERS?

    O AdoroCinema teve acesso à cópia dublada do filme e, para os fãs que foram assistir a esta versão, há um interessante presente: a dublagem de Douglas Silva no papel de Mirage faz o personagem se destacar em meio à seriedade talvez excessiva dos seus companheiros. Fã da franquia desde criança, o ator faz um ótimo trabalho ao apresentar o entusiasmo do novo membro do time. Se unem a ele Fernanda Paes Leme como Arcee e Guilherme Briggs, que volta a emprestar a sua voz para Optimus Prime.

    Apesar dos Autobots não seguirem o modelo de gêneros à risca como os seres humanos - trata-se de uma área um tanto nebulosa -, eles ainda se enquadram nos moldes do feminino e masculino em algumas esferas. É um bocado triste que uma das poucas personagens femininas do longa fique escanteada, como é o caso de Arcee. A sua presença, muito aguardada pelos fãs, pode não condizer com o seu potencial no meio dos demais.

    Mesmo que seja um soft reboot da franquia, com tantas adições e o início, de fato, da luta dos Transformers na Terra (lembre-se de que estamos nos anos 1990), ainda há um amargor e uma estranha sensação de “eu já não vi isso antes?”.

    A UNIÃO DE HUMANOS E ROBÔS

    O longa chega com a promessa de mostrar os motivos que fizeram Optimus Prime a se afeiçoar aos humanos e vê-los, à sua maneira, como iguais: indivíduos dispostos a tudo para proteger o seu lar. Apesar de conter essa mudança do personagem que está na Terra pela primeira vez, os furos de roteiro, uma edição por vezes picotada e a falta de expressividade do herói não contribuem para que essa mensagem se torne verossímil. Há momentos emocionais, sim, mas todos elencados ao núcleo humano ou relacionados ao Autobots mais relacionável de toda a franquia: Bumblebee. No entanto, o personagem tem pouquíssimo tempo de tela nesta aventura.

    Além disso, mesmo que os terráqueos possam trazer um pouco de carisma à narrativa, não salvam completamente esta aventura: o drama familiar de Noah fica de lado, o desenvolvimento de Elena é subjugado pela sua função na trama e a estrutura da história soa extremamente repetitiva em um sétimo capítulo.

    Ainda assim, a aventura tem seus momentos divertidos, e como entretenimento o filme é uma ótima pedida. Com a chegada dos Maximals, Predacons e Terrorcons há um ar que remete ao primeiro Vingadores, mesmo que a formação dessa equipe careça de carisma, de afeição e identificação com os personagens periféricos, que mal tem falas durante o longa. Essa ideia se apoia pelo terceiro ato do filme, com uma batalha ‘animal’, com direito a inspiração em grandes franquias dos anos 1990, além do próprio Transformers, a partir de mecanismos vistos em Power Rangers, Digimon Frontier, Cavaleiros do Zodíaco, entre outros.

    Algumas surpresas deste momento final vão deixar alguns fãs na ponta da cadeira, ainda mais quando se abre um leque de possibilidades a partir da próxima aventura dos Transformers na Terra. Mesmo que, provavelmente, a ameaça nunca cesse pelo destino de Cybertron e da Terra, os próximos passos podem surpreender o público. O que resta saber é se esta velha estrutura deve se repetir pela oitava vez e até quando os fãs vão comprar esse tipo de narrativa cíclica.

     

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