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    Raça e Redenção
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Raça e Redenção

    Amizade improvável

    por Barbara Demerov

    Há pouco mais de dois anos, a Ku Klu Klan foi abordada no cinema no ótimo Infiltrado na Klan. A visão de Spike Lee sobre a organização supremacista branca é cirúrgica e preza por mostrar seus membros como pessoas extremamente consumidas pelo poder que possuem em prol da violência e intolerância. Já em Raça e Redenção, o espectador poderá se surpreender com relação ao modo que o personagem de Sam Rockwell, presidente da KKK, é retratado.

    A surpresa pode vir de ambos os lados. Do lado positivo, o personagem é humanizado em níveis elevados, transformando a própria KKK em um grupo que pode ser composto por pessoas boas ou que, em algum momento, podem se "libertar" desde modo de vida de uma hora para a outra. Contudo, este também é o lado negativo do filme, pois o inocentamento de quem usa a violência para se opor aos direitos civis traz um tom dissonante demais para ser visto como natural. As pessoas podem mudar - mas, neste caso, são dois extremos distantes demais para serem reparados em uma narrativa de duas horas.

    REDENÇÃO CONSERVADORA

    Apesar de possuir atuações consistentes Rockwell como o líder C. P. Ellis e de Taraji P. Henson como a ativista Ann Atwater, Raça e Redenção se contenta apenas em transformar estas figuras reais que, de fato, promoveram uma grande mudança na cidade de Durham, em uma dupla de amigos inusitada que dará certo de uma forma ou de outra. A tal da redenção do título, que reside especificamente no personagem de Rockwell, é feita de modo apressado e até constrangedor, vide a figura de Viggo Mortensen em Green Book.

    Não é coincidência que a semelhança com o vencedor do Oscar 2019 apareça de forma tão clara em torno da metade da narrativa de Raça e Redenção. Ambos os filmes dão mais protagonismo ao personagem branco, que eventualmente passa a ser o white savior (salvador branco) de toda a situação. E, além disso, a estrutura do filme em questão é mais convencional que a de Green Book. De um meio ou de outro, a road trip entre o italiano mal-humorado e o músico de jazz soa mais agradável do que esta relação forçada entre dois personagens que não possuem absolutamente nada em comum.

    A principal questão do filme (a de trazer questões como a unificação do ensino local e a segregação existente) fica em segundo plano. O roteiro prefere seguir o caminho da absolvição a todo o custo, retratando C. P. como um pai carinhoso e atencioso desde os primeiros minutos de projeção - da mesma forma que, no caso de Ann, ela sempre seja vista como uma ativista impulsiva e intensa. O modo como expressa suas indignações com relação ao descaso que a comunidade negra encara dia após dia em Durham são recebidos com risos e ironia da população branca, sem a seriedade devida.

    Ao mesmo tempo em que procura entregar a mensagem de que a redenção é possível até nos lugares mais obscuros da intolerância humana, Raça e Redenção não executa os dois lados da reflexão: ao dar prioridade à trajetória de regeneração de C. P, o filme deixa de lado a luta mais importante, que é a de Ann Atwater. Inevitavelmente, o espaço com mais destaque acaba por ser o do branco, pois é apenas ele quem pode achar uma saída, afinal.

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