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    Nahid - Amor e Liberdade
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Nahid - Amor e Liberdade

    Uma heroína inacessível

    por Bruno Carmelo

    Este drama iraniano traz uma realidade pouco conhecida pelos ocidentais: no Irã contemporâneo, os divórcios são concedidos apenas mediante autorização do marido. Além disso, as leis persas permitem casamentos temporários e a imposição de certas regras, como a proibição que a esposa se case novamente após o divórcio. Esta é a situação em que se encontra Nahid (Sareh Bayat): quando finalmente se separa do marido e obtém a guarda do filho, ela se apaixona por outro homem, mas não possui o direito de se casar.

    O filme é conduzido com sobriedade pela jovem cineasta Ida Panahandeh. Nenhuma cena é particularmente embelezada: a cidade está sempre cinzenta e nublada, os apartamentos classe média baixa são brancos e banais, as rotinas estão repletas de ações protocolares. Sem acentuar o drama - não há mortes, doenças ou outras catástrofes para fazer andar a trama -, o filme se concentra na melancolia da vida adulta, com seus planos desfeitos e decepções amorosas.

    Nahid - Amor e Liberdade tem como mérito principal a abordagem fria e desencantada com o mundo. Existe uma evidente preocupação no retrato das mulheres e das classes desfavorecidas, além de uma contestação válida às leis sociais. Apesar da relevância política da obra, é preciso constatar que a narrativa se desenvolve muito pouco. Ao privilegiar repetições (o pai chegando à porta, as brigas com a vizinha, os pedidos de empréstimo), Panahandeh expande o cansaço da protagonista ao filme de modo geral. Nada perturba a linearidade do roteiro.

    A heroína tampouco constitui uma personagem de fácil identificação. Diante da precariedade e do dilema legal em que se encontra, Nahid toma decisões pouco compreensíveis: ela não tem dinheiro para o sustento da família, mas compra um sofá novo e faz luzes nos cabelos, por exemplo. Ora, o roteiro não justifica este traço de personalidade consumista de Nahid, ou uma eventual tendência à autossabotagem. O aspecto amargo da personagem também seria mais claro caso dialogasse com elementos externos (seu passado, o trabalho, a religião).

    Outros personagens carecem de aprofundamento: por que o namorado Masoud (Pejman Bazeghi) insiste em manter um relacionamento com a mulher que nunca demonstra afeto por ele? Como acreditar no vício em drogas do ex-marido Ahmad (Navid Mohammadzadeh) sem que as cenas demonstrem essa compulsão? Como compreender a atitude agressiva do irmão sem saber o papel que ele desempenha na família? O roteiro fornece uma rede tão esparsa de motivações que muitos conflitos soam injustificáveis em tela, e por isso, dificultam a empatia do espectador.

    Através do trailer brasileiro, os distribuidores forçam uma relação com a obra-prima A Separação, embora o filme não compartilhe o mesmo diretor, elenco nem produtor. Nahid - Amor e Liberdade talvez seja prejudicado por essa comparação, por estar longe do aprofundamento e da excelência do roteiro escrito por Asghar Farhadi. Mesmo assim, constitui uma obra digna e consciente, dotada de méritos próprios que justificam a atenção do espectador brasileiro.

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