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    Irmã Dulce
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Irmã Dulce

    Filme de atrizes

    por Renato Hermsdorff

    Irmã Dulce é um filme de atriz. Ou melhor, de atrizes. Não só porque o elenco principal é majoritariamente feminino, mas porque trata-se um divino (com trocadilho) trabalho corporal e de fala das artistas que dão vida à protagonista: Bianca Comparato (Somos Tão Jovens) e a veterana Regina Braga.

    A mais nova, em especial, parece mimetizar (sem nenhum demérito) a freira que, tendo dedicado sua vida ao trabalho de assistencialismo aos miseráveis, foi chamada de “O Anjo Bom da Bahia”, indicada ao prêmio Nobel da Paz e beatificada pela Igreja Católica. Para quem não tem nenhuma referência do gestual da religiosa – afetado por uma doença pulmonar incurável – as imagens de arquivo exibidas ao final não deixam dúvida: Bianca Comparato é Irmã Dulce.

    À essa primeira fase do roteiro corresponde um frescor da vida da missionária que pouca gente tem conhecimento. A jovem Dulce é vivaz na defesa dos oprimidos, a ponto de surpreender já em uma das primeiras cenas do filme quando, acuada por um marginal, o pede para que arrombe uma casa abandonada a fim de alojar ali uma criança necessitada.

    Irmã Dulce enfrentou o machismo (estamos nos anos 1940 neste primeiro momento), o descaso de políticos e a resistência dentro da própria Igreja apegada a dogmas seculares. A produção dirigida por Vicente Amorim (Corações Sujos, Um Homem Bom) não foge às polêmicas com o catolicismo, mas põe a vilania na conta de personagens fictícios (a Madre Fausta de Malu Valle que comanda a Ordem a que pertence Irmã Dulce e a Madre Provincial de Irene Ravache, em pequena participação). Figura real e conhecida do grande público Dom Eugenio Salles (Luiz Carlos Vasconcelos) também aparece (pouco), mas para apresentar uma solução.

    Os mesmos conflitos, bem definidos na primeira fase, no entanto, se repetem quando Regina Braga assume o papel (entre as décadas de 1960 e 1980). A despeito da ótima interpretação da atriz (e da unidade em relação à sua antecessora) a segunda metade de Irmã Dulce mostra a freira enfrentando a mesma miríade de problemas, após engatar um ato heroico depois do outro, de modo que a história não anda. (Também não contribui o estranhamento causado pelo fato de alguns atores serem substituídos com a passagem de tempo e outros não. Não há cabelo branco que faça Gracindo Júnior, apenas quatro anos mais velho que Regina Braga, parecer pai da atriz).

    Ao final, a insistência pela repetição de clipes de boas ações (geralmente emperrados por alguma doutrina católica) direciona o filme para a composição de uma imagem imaculada da freira - e só. É a tentação da idealização.

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