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    A Lenda de Tarzan
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    A Lenda de Tarzan

    O super-herói africano

    por Bruno Carmelo

    A Lenda de Tarzan não mente ao espectador. Os fãs do icônico personagem encontrarão tudo que se espera da história: balanços entre as árvores da floresta, o potente grito vindo da selva, a paixão por Jane, um vilão perverso que despreza a natureza; momentos de perigo e redenção, discursos sobre o humanismo e sobre a ecologia. Para uma grande produção, o filme também não frustra expectativas: o orçamento de US$180 milhões está devidamente estampado na tela com muitos efeitos visuais e cenas de aventura.

    Entretanto, o resultado não satisfaz totalmente. Se por um lado a linguagem cinematográfica está atualizada ao século XXI, por outro lado, a visão de mundo parece datar da época de publicação da obra de Burroughs. Ou seja, nesta época de imagens velozes e culto ao espetáculo, o filme empenha-se em criar reviravoltas frenéticas, mesmo quando não servem muito à narrativa, enquanto o diretor David Yates recorre às câmeras lentas para, supostamente, prolongar o efeito do conflito. Isso faz sentido num filme contemporâneo, mas esteticamente falando, não cria nenhuma cena particularmente memorável: o conjunto traz o mínimo que se espera de um projeto desta proporção.

    Tarzan (Alexander Skarsgard) não se torna um protagonista cativante porque o espectador não presencia sua ascensão. Quando conhecemos o “filho das selvas”, ele já possui uma fama que atravessa continentes e se comunica com animais selvagens apenas pelo olhar. Ora, sem ver a progressão dessas habilidades, o espectador não pode compartilhar o mérito do personagem, nem a admiração dos outros por ele. Fala-se o tempo inteiro sobre Tarzan, sobre sua história e suas façanhas, mas elas permanecem distantes da imagem. Por isso, o ator pode até se esforçar na linguagem corporal animalesca, mas o homem Tarzan não tem a menor chance de competir com o mito Tarzan.

    A estrutura da trama bebe na fonte dos lucrativos filmes de super-herói. O Tarzan de 2016 é mais forte que todos os outros, sendo capaz de lutar de igual para igual com gorilas, pular de centenas de metros de altura, correr mais rápido que os bichos, além de ser dotado de uma inteligência sobre-humana e de um apetite sexual adequado à virilidade exacerbada. O homem da selva não faria feio entre os Vingadores, ou na Liga da Justiça. Os demais personagens cumprem papéis mais ou menos previsíveis: Christoph Waltz faz pela enésima vez o vilão perverso e carismático, Samuel L. Jackson funciona bem como alívio cômico, e Margot Robbie se esforça para trazer determinação a Jane.

    Os efeitos especiais ostensivos cumprem seu papel em momentos de contemplação, mas parecem artificiais quando a correria toma conta da história - vide a cena do trem e a corrida nos cipós. Ao contrário de Mogli - O Menino Lobo, ou de Planeta dos Macacos - O Confronto, A Lenda de Tarzan não consegue integrar a natureza digital aos personagens humanos sem um efeito de estranhamento. Por querer se exibir demais, a tecnologia acaba chamando atenção para si mesma, soando artificial.

    A ideologia desta história, como dito acima, merece ser questionada. A obra de Burroughs foi muito criticada pela visão imperialista do personagem branco transformado em líder do continente negro. Cem anos se passaram, mas o roteiro de Adam Cozad e Craig Brewer não trouxe modificações à representação: Tarzan ainda é um lorde britânico, rico e branco, que parte à África para liderar os homens negros que não podem sobreviver sozinhos. Além disso, precisa salvar a eterna donzela em perigo e garantir a procriação da espécie. Paternalismo, colonialismo e machismo são alguns dos elementos que atravessaram o século e se mantiveram na nova versão da história.

    Por isso mesmo, A Lenda de Tarzan é uma produção datada, mas não ineficaz. Ela demonstra um inegável senso de espetáculo, e deve agradar uma parcela considerável do público que estiver em busca de sensações ao invés de reflexão - um tipo de experiência que também possui sua validade, afinal. Mas o conteúdo ganharia maior relevância, cinematográfica e política, se pensasse o mundo com olhos mais progressistas.

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    Comentários

    • Rapha W.
      A falta de reinvenção e uma visão política mais atual fizeram falta no filme. É cansativo ver mais uma vez o homem branco e rico liderando a África. No mais as atuações estão razoáveis e a cenas de ação convincentes, mesmo que um pouco artificiais.
    • Samuel Marins
      Marli, com todo respeito, serei obrigado a discordar do teu comentário. Não só a população americana como também grande parte dos roteiristas de filmes como este, possuem uma visão imperialista e eurocêntrica. Não te surpreende o fato de que 90% dos super-heróis da Marvel, assim como da DC comics, sejam brancos e tenham seus olhos azuis piscina? E que poucos são os super heróis negros que obtém destaque em um determinado papel? Isto está estampado em nossas caras, e só não vê quem não quer. Comece a observar os filmes novos que saem todos os meses em cartaz. Histórias novas, novos personagens, novas aventuras, novos roteirista, nova ideolo... opa pera lá, a Ideologia eurocêntrica continua a mesma. O mundo evoluiu,a sociedade evoluiu, o pensamento se destrancou das barreiras que o limitava, e ainda somos obrigados a assistir um filme onde um cara branco, sai da Europa, vai pro congo, lidera os macacos, lidera os Índios, salva a princesa, e volta pra casa como REI ???
    • Arthur Augusto Bastos Bucioli
      me desculpe discordar, mas o filme do demolidor foi uma bela bosta... Não por causa do Dunkan que era um ótimo ator, mas sim um roteirinho fraco e sem sal.
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