Um final para uma história como a de Jogos Vorazes, que se consagra filme após filme como uma das maiores franquias de Hollywood, carrega consigo grandes responsabilidades. Dentre elas, duas se destacam: suprir as expectativas do público, que se manteve fiel durante os 4 anos e a esse ponto quer resoluções convincentes; e minimamente ser coerente – não 100% fiel - à história original, que é a do livro.
Quanto a Jogos Vorazes: A Esperança – O Final, as duas questões são sanadas. O filme não sacrificou seu ritmo em função de “espetacularizar” o seu grand finale, tampouco a história lida pelos fãs. A própria roupa vermelha da heroína Katniss, por exemplo, observada em pôsteres de divulgação não teve vez nas cenas de ação. O que se vê na tela é uma protagonista sóbria, teimosa (como sempre), por vezes apática e vendo na vingança sua única possibilidade de auto-redenção.
Fugindo dos clichês de finais de franquias, que geralmente se importam em dar desfechos super estabelecidos para cada núcleo, como que numa função de finalizar história por história, “O Final” ganha pontos no momento em que resolve por manter sua essência de thriller político, ainda que obscuro e silencioso em alguns momentos.
Se por um lado, sobra consistência e regularidade pelo roteiro – fato que gera controvérsias, já que todo espectador assíduo de trilogias vai com muita sede ao pote assistir ao último filme da série - por outro fica uma sensação de previsibilidade em relação às reações da protagonista e ao destino das demais personagens.
Seja pelo excesso de intimidade com as personagens principais – o que é um ponto positivo da saga como um todo - ou por falta de resguardo do roteiro, é muito fácil adivinhar o que vai acontecer. O ponto que contrasta com essas disfunções é exatamente a habilidade dos protagonistas em fazer valer a leve dose de clichês que qualquer blockbuster fenômeno mundial deve ter em sua composição.
Jennifer Lawrence e sua Katniss que em um minuto sofre calada e no outro está na linha de frente é a personificação da heroína que o cinema e os jovens precisavam assistir. Josh Hutcherson (Peeta) se supera junto com seu personagem chegando ao limite.
No mais, todos os defeitos da obra – como o maniqueísmo típico do gênero, a falta de profundidade na questão política tão rica ou até mesmo o triângulo amoroso mal conduzido – podem ser facilmente esquecidos pelo espectador que se permitir mergulhar nesse desfecho suficientemente bom, ainda que controverso aos olhos do público que esperava que a linha “pessimista” do filme se estabelecesse até a última cena.
Convincente e pertinente, Jogos Vorazes: A Esperança – Final não desmerece a trajetória de seus personagens, é realista como poucos blockbusters jovens e, sem dúvidas, o fim ousado, surpreendente e justo que a franquia merecia.