Minha conta
    Reis e Ratos
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Reis e Ratos

    DELÍRIO SATÍRICO E HISTÓRICO

    por Roberto Cunha

    Sátira política e histórica, homenagem aos dubladores ou uma simples comédia? O espectador que comprar as primeiras opções, já senta na poltrona com uma vantagem e tanto sobre os que esperam morrer de rir. A explicação é que o riso não vem fácil e nem parece ser esse o caminho escolhido pelos realizadores. O que não significa que a diversão não esteja garantida, pois trata-se de uma ideia diferente e bem realizada.

    A história se passa na época da Guerra Fria, quando Estados Unidos e União Soviética eram inimigos mortais e a espionagem era muito mais do que ficção no cinema. Troy Somerset (Selton Mello) é um agente infiltrado da CIA nascido no Estados Unidos, apaixonado pelo Brasil e sem a menor vontade de voltar para a terra natal. Sempre ao lado do Major Esdras (Otávio Muller), militar brasileiro, traíra da "pátria amada, idolatrada, salve, salve", o capitalista-mor (em crise existencial) participa de movimentos conspiratórios para desestabilizar o país no período que antecede o golpe militar de 1964. Mas as maracutaias costuradas nos bastidores de uma sapataria e auxiliadas por mequetrefes de quinta categoria podem colocar tudo a perder.

    Escrito e dirigido por Mauro Lima (Meu Nome Não é Johnny), Reis e Ratos é ousado sob vários aspectos. Vai desde o uso do preto e branco em boa parte do filme, passando pelo fatos reais em total conluio com uma interpretação propositalmente cínica de alguns personagens, que falam como se estivessem dublando/tirando um sarro de uma produção gringa. Aos que encontrarem traços parecidos em programas da tv (Casseta & Planeta/Rede Globo ou Hermes & Renato/MTV), a brincadeira é mais antiga que essas produções e o mérito, na verdade, está em realizá-la com qualidade, como acontece nesta obra.

    Contaminado por referências e citações (filmes noir, Orson Welles, Jim das Selvas, Victor Mature, entre outros), a força da produção, caprichada já nos créditos iniciais (com caracteres russos), está nos muitos diálogos inspirados e cheios de sacadas políticas. Mas o que é bom para uns, pode ser ruim para outros. E algumas brincadeiras, usando expressões em inglês (sem legendas), podem falhar solenemente. Por outro lado, deve atrair correligionários a presença de famosos, como o galã Rodrigo Santoro (bem desconstruído no asqueroso Rony Rato), e Cauã Reymond interpretando Hervé, locutor de rádio com poderes mediúnicos e sexualidade longe de ser única.

    Ainda no elenco, vale destacar a presença de Oberdan Júnior (Clay Benitez), o menino de várias novelas da década de 1980, Kiko Mascarenhas (Skutch Sanders), Orã Figueiredo (Esmeraldo Carvalhal), além de Hélio Ribeiro (Embaixador), dono da conhecida voz de Robert De Niro e Steve Martin por aqui e seu companheiro de profissão Élcio Romar (Presidente), conhecido "auditivamente" como Michael Douglas e Woody Allen, entre outros.

    Num esquema de ação entre amigos na hora do "vamo vê" (leia-se cachê), o longa foi rodado em apenas 17 dias, aproveitando o set de O Bem Amado (2010) e a brincadeira funciona na tela branca da sala escura. Bem humorado até nos nomes dos personagens, o final inconcluso (para alguns) será a única pedra no sapato, mas o desconforto pode nem ser sentido por muitos que vão viajar no delírio satírico e histórico, com trilha de Caetano Veloso. Ou não.

    Quer ver mais críticas?

    Comentários

    Back to Top