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    Jogos Vorazes - Em Chamas
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Jogos Vorazes - Em Chamas

    Agora sim!

    por Lucas Salgado

    O primeiro Jogos Vorazes é um bom filme, principalmente se compararmos com outras franquias adolescentes que chegaram aos cinemas nos últimos tempos, mas é seguro dizer que não se trata de uma produção empolgante. Ao final, deixava uma sensação de curiosidade com o que estava por vir, mas o espectador não ficava realmente interessado com o futuro.

    Pois bem, a situação mudou. Ao final de Jogos Vorazes - Em Chamas, o público não está apenas curioso, mas afoito para ver o que está por vir. Se tivéssemos escolha, a opção seria emendar as quase duas horas e meia do novo longa com o distante Jogos Vorazes - A Esperança: Parte 1 numa sessão única.

    Após sobreviver à última edição dos jogos e de quebra salvar o amigo Peeta (Josh Hutcherson), Katniss (Jennifer Lawrence) se torna um símbolo da revolução dos distritos contra a Capital. Sem querer problemas, o presidente Snow (Donald Sutherland) decide usar o falso romance entre Peeta e Katniss para distrair a população e, ao mesmo tempo, abalar a imagem da jovem. Sem conseguir controla-la, o déspota decide realizar uma nova edição dos jogos com vários antigos ganhadores. Assim, o "casal" se vê de volta à arena, agora tendo que enfrentar verdadeiros assassinos.

    Em Chamas se beneficiou muitíssimo da troca de roteiristas com relação ao primeiro filme. A contratação de Michael Arndt (Toy Story 3Pequena Miss Sunshine) e Simon Beaufoy (Quem Quer Ser um Milionário?) foi fundamental para transformar uma aventura em algo mais. O segundo longa é muito mais do que "X pessoas em uma arena tentando se matar". Enquanto o original era basicamente uma versão americana do japonês Battle Royale - sem tudo o que faz deste último um grande filme -, o novo investe pesado na história política e na construção de um clima para a iminente revolução.

    É claro que o mérito da história também é da autora Suzanne Collins, mas sem bons condutores muitos livros se perderam nessa viagem até a tela grande. O diretor Francis Lawrence, que assumiu após o abandono de Gary Ross, se mostrou uma escolha acertada. Ele já havia se saído razoavelmente em Constantine e Eu Sou a Lenda, mas aqui realiza seu melhor trabalho como cineasta. Lawrence cria bem o clima de tensão e mesmo fora da arena deixa sempre um mistério no ar diante do que vai ocorrer. O diretor ainda se sai bem ao unir cenas de ação, que não escondem a violência do ambiente, com outras de certa contemplação. São diversos os momentos em que paramos para observar a beleza do local, seja na floresta ao lado do distrito em que todos lutam para sobreviver, seja nos jogos em que o objetivo é matar a pessoa ao seu lado.

    Após trabalhos interessantes em Menina Má.com30 Dias de Noite, o diretor de fotografia Jo Willems é outro que realiza aqui seu melhor trabalho. Mais uma vez vemos os distritos como ambientes cinzentos, enquanto que a Capital é o lugar das cores e dos fogos de artifício. No entanto, através da fotografia, o filme dá dicas de que a situações está para mudar, como destacar o pôr do sol no distrito ou trazer os protagonistas sempre em tons sóbrios quando em meio às festas da Capital. Neste sentido, também é interessante notar a importância do fogo, que ao mesmo tempo que ascende as esperanças de uns, queima a situação privilegiada de outros.

    The Hunger Games - Catching Fire (original) é sim voltado para o público jovem, mas tem o mérito de não tratar este público como idiota. Não é uma mera aventura adolescente com um triângulo amoroso e situações de "perigo". O longa oferece uma crítica social bem interessante, promovendo uma boa reflexão sobre a sociedade em que vivemos hoje em dia. A obra expõe de uma vez só as mazelas do culto à personalidade, onde um relacionamento pode ser usado para apaziguar uma situação de opressão, e também a superficialidade e fragilidade dos reality shows.

    Ainda que realizada pelo mesmo James Newton Howard, a trilha sonora desta continuação é bem mais interessante que a anterior. Aqui, a trilha cumpre sua função de dar ritmo ao filme e conduzir algumas situações, mas sem querer roubar a cena. Quem assistir aos créditos finais ainda poderá conferir a bela canção "Atlas", da banda Coldplay.

    Bem superior ao original, o filme, como já dito, deixa a sensação de "quero mais", algo muito importante em capítulos do meio em grandes franquias. Jogos Vorazes 2 também é bem sucedido na apresentação de novos personagens. Além das voltas de Liam HemsworthElizabeth BanksWoody HarrelsonStanley TucciLenny Kravitz, temos novidades como Sam ClaflinJena MaloneJeffrey Wright. A introdução dos antigos vencedores dos jogos é feita de forma elegante, unindo o treinamento de Katniss e Peeta com a cobertura televisiva da competição. Assim, o longa evita parecer muito didática e ainda cria situações divertidinhas como as envolvendo Johanna (Malone) e Finnick (Claflin).

    O filme tem tudo para agradar aos fãs dos livros de Collins, mas o melhor é que isso não é pré-requisito (e nem deveria ser) para se aproveitar. Quem não leu uma linha sequer também terá muito com o que se entreter. E talvez fique até com vontade de procurar a obra literária, afinal estamos diante de uma história complexa e criativa.

    Vencedora do Oscar, símbolo sexual e tudo mais, Jennifer Lawrance se consolida como um dos maiores nomes de Hollywood da atualidade. Isso com apenas 23 anos. A atriz entrega uma personagem nada ordinária, que sofre com dilemas sérios, como tentar proteger sua família, dizendo com todas as letras que não tem tempo para o amor. Katniss não é a típica mulher indefesa que o cinema hollywoodiano gosta de produzir e sua preocupação com Peeta, Gale e até com pessoas que acabou de conhecer mostra que ela é a figura central da história, não pelo fato de estar presente em mais linhas do roteiro, mas pelas atitudes que toma. Neste sentido, Jogos Vorazes pode ser considerada uma franquia feminista. Para a mulher, não basta o amor do mocinho.

    Ainda que tenha alguns momentos óbvios e ainda sofra para convencer o espectador de que a vida da protagonista está mesmo em perigo, Em Chamas cumpre bem seus objetivos e ainda deixa várias portas para serem exploradas. O mais interessante é que, por mais que a história seja dividida em vários "núcleos", o público não perde interesse em nenhum deles. O fato do romance ser deixado um pouco de lado, por exemplo, só aumenta a incerteza (e a curiosidade) sobre o que irá acontece. E o mesmo vale para a revolução e para a vida de vários importantes personagens. Além disso, oferece momentos de verdadeira emoção, como quando Katniss e Peeta honram a morte de tributos dos jogos anteriores. Agora, é esperar até novembro de 2014 para conferir o próximo.

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