Veja só o que é o preconceito. Você nem conhece algo e já realiza diversos pré-julgamentos, sem nem ao menos dar uma oportunidade do execrado se defender. Rota de Fuga pode não ser um filme primoroso - na verdade ele é mediano e se confunde com as próprias ambições – mas serviu para me mostrar que a melhor forma de assistir qualquer filme é sem nenhum conceito pré-estabelecido, de cabeça bem aberta, pronto para absorver as qualidades – por menores que elas sejam- e aprender com os erros – por mais numerosos que eles sejam.
É obvio que não fui assistir ao novo filme do diretor Mikael Hafstrom – alguns trabalhos anteriores interessantes como O Ritual e Fora de Rumo – após ler a resenha do filme, apesar de que a história de um cara que ganha a vida fugindo de prisões não seja de toda mal. Eu resolvi assistir o filme depois que vi o elenco deste. Sim, Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger. Qualquer garoto que cresceu na década de 80 sempre terá eterna admiração por estes dois. Rambo, Rocky, Exterminador do Futuro, Conan, todos estes grandes clássicos do cinema de ação sempre estarão no imaginário dos hoje adultos que cresceram querendo ser fortes como os dois protagonistas de Rota de Fuga. Assim, ver mais uma vez um crossover de dois dos caras mais bad-ass da história do cinema já vale o ingresso.
O enredo do filme é bem simples. Conta a história de Ray Breslin (Sylvester Stallone), cujo trabalho é entrar em prisões consideradas de segurança máxima, fugir delas e depois prestar uma consultoria para deixa-las melhores. Só nessa brincadeira já foram 17 prisões que sofreram com as habilidades de Breslin, que sempre segue um protocolo rígido para ter sucesso em suas empreitadas: conhecer a planta do lugar, conhecer a rotina e ter ajuda de dentro ou de fora. Porém a coisa muda de posição quando lhe oferecem a entrada em um tipo de prisão inovadora, meio que clandestina. Na verdade tudo não passa de um plano para ferrar o personagem de Stallone. Porém o que nenhum dos responsáveis pela cadeia-conceito esperava é que lá dentro ele conheceria Emil Rottmayer (Arnold Schwarzenegger). E aí, como esperado, o bicho pega.
Uma coisa que chama a atenção é que, por mais que pareça o contrário, a produção do filme tentou tirar um pouco a atenção do filme da dupla de protagonistas e tentou fazer uma história um pouco mais intricada e complexa - afirmo sem nenhuma dúvida que é um filme mais elaborado do que Os Mercenários, que se apoia apenas na presença e no nome dos atores envolvidos. Porém tentar não significa conseguir e o enredo acaba se complicando com as situações complexas que tenta criar, abrindo brecha para diversas falhas de continuação e situações absurdas.
A primeira fuga apresentada no filme é bastante forçada e mal explicada. As solitárias, aliás, já foram mais assustadoras. Tudo que Breslin precisou estava disponível, numa sequência de coincidências absurda. E a própria explicação da fuga para o diretor da prisão após o incidente é feita de forma muito rápida, provavelmente para tentar esconder as falhas no enredo
. Quando o personagem entra na prisão principal do filme, a coisa aparenta melhora com relação às improbabilidades dos acontecimentos, porém só aparenta.
Por mais que algumas partes soem mais natural e os personagens utilizem objetos comuns e acessíveis para criar ferramentas importantes, no melhor estilo McGyver – a criação do aparelho para ler as estrelas é um bom exemplo disto – no restante do tempo as coisas continuam sendo forçadas e absurdas. Breslin precisa de um objeto perfeitamente redondo de metal? Rottmayer vai pegar o ralo escondido na sala do diretor Hobbes sem problema nenhum, pois ele já sabia que existia algo tão específico ali. O passeio do personagem de Stallone após fugir da solitária é outro grande exemplo de “coisas certas na hora e no lugar certo”. Como alguém que não faz ideia de onde está consegue se movimentar de forma tão rápida e tão precisa por determinado lugar pela primeira vez? Só deus explica. Fica fácil fazer um enredo intricado quando você pode colocar qualquer objeto à sua disposição na hora que precisar
. A trilha sonora do filme é tão fraca que se torna engraçada. A música que toca quando Breslin chega na prisão principal lembra Indiana Jones chegando à Arca Perdida. Combinou muito bem no segundo, mas no primeiro ficou bastante tosco. Por ultimo, para se divertir um pouco mais com alguns acontecimentos “fantásticos” do filme, fique de olho
na cena final de resgate de helicóptero. Começa pela distância que Breslin sai do navio após passar por uma descarga no melhor estilo vaso sanitário e finaliza com a escada de resgate que se quebra com um tiro, se conserta do nada e se quebra novamente. Clássico!
A dupla de protagonistas é um caso à parte. Sylvester Stallone é um cara especial. Ele é um ator tão tosco que acaba virando um clássico. A mesma voz grossa de sempre, que não te deixa entender quase nada do que ele fala – sim, antes que me execrem eu sei que ele teve problemas de paralisia facial quando era criança. O mesmo estilo bruto de sempre. Eu tenho a impressão que ele sempre faz o papel dele mesmo em todos os seus filmes. E o melhor é que ele sabe que faz sucesso assim e não quer mudar. Ele tem consciência de suas limitações e sabe que a fase áurea de Rocky já passou. E que continue assim. Arnold Schwarzenegger apresenta uma atuação um pouco melhor do que de Stallone. Fico feliz que tenha desistido da política e retornado a fazer filmes. Jim Caviezel se destaca por uma atuação fria e consciente. Por último, uma menção honrosa à atuação de 50 Cent. Ops, escrevi honrosa? Desculpe pelo erro, eu quis dizer menção horrorosa.
Rota de Fuga pode não ser brilhante. Porém mesmo sem conseguir tenta não ser apenas um filme que pega dois nomes consagrados do cinema e joga na película sem nenhum enredo pelo menos tolerável. E acho que isso é uma qualidade, sim. Para quem vai assistir esperando ver apenas Stallone e Schwarzenegger distribuindo porrada, acaba sendo um grata surpresa. É um filme indicado apenas para fãs destes dois, aliás. Eu, como grande fã, me diverti.