Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Vai que Cola - O Filme

Cidade partida

por Francisco Russo

Programas de humor, em todo lugar, tendem a colocar uma lente de aumento em estereótipos para provocar o riso fácil, mesmo que isto resulte em distorções preconceituosas. Vai que Cola, série de sucesso da TV por assinatura que chega agora aos cinemas, é um destes casos emblemáticos por investir pesado na satanização do subúrbio carioca e na glorificação – ou seria ostentação? – da zona sul maravilha no Rio de Janeiro. Se funciona? Depende.

É claro que o verdadeiro Méier não é a desgraça mostrada nem o verdadeiro Leblon é um oásis, mas a forma como são retratados pinta a imagem intencional do inferno/paraíso, o que facilita – e muito – o trabalho dos roteiristas. Por outro lado, tal preconceito embutido é minimizado por uma característica de Vai que Cola, seja na TV ou no cinema: não se levar nem um pouco a sério. Se o próprio Paulo Gustavo, protagonista do filme, tira sarro de si mesmo por não ter o perfil do personagem que interpreta, o que dizer de todo o restante?

É justamente esta capacidade de rir de si mesmo um dos maiores trunfos do longa-metragem. São várias as piadas envolvendo uma certa metalinguagem, onde Paulo Gustavo brinca com o fato de estar dentro de um filme e até mesmo conversa com o público, alertando sobre o que vem por aí. A quebra da quarta parede e a autoironia, uma exclusividade do ator no longa-metragem, resultam em cenas divertidas onde o público pode rir com gosto. Por outro lado, Vai que Cola também possui problemas sérios, especialmente em relação ao restante do elenco.

Se Catarina Abdalla se sai bem como a sempre simpática Dona Jô e Samanta Schmutz convence na pele da fogosa Jéssica, o elenco coadjuvante possui dois atores péssimos: o equivocado Emiliano D'Ávila e a inexpressiva Fiorella Mattheis, completamente sem função na história. Quem também está deslocado é Fernando Caruso, relevado a uma historieta sem graça que se passa à parte da trama principal. Já Cacau Protásio está presa a um personagem histriônico (e histérico), mal aproveitado no filme, e Marcus Majella repete o personagem clichê do gay exagerado, cheio de faniquitos. Ainda assim, ele consegue estrelar alguns (poucos) bons momentos, ao lado de Paulo Gustavo e Oscar Magrini (também estereotipado).

Diante de tantos personagens, o maior problema de Vai que Cola acaba sendo a irregularidade do roteiro. Muito devido à necessidade de abrir espaço para tantos atores, mas também ao fato de nem todos os personagens serem bem aproveitados (ou ao menos bem interpretados). Se na série de TV é possível alternar o destaque dado a cada episódio, aqui a necessidade de criar subtramas para cada um deles acaba sendo um tiro no pé. O resultado é um filme bastante irregular cujo brilho maior fica com Paulo Gustavo, nem tanto pela história de seu personagem mas pelo tom debochado, típico de seu humor, e as brincadeiras que faz envolvendo a consciência de estar dentro de um filme.