Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Menos que Nada

Triângulo antropológico

por Francisco Russo

Menos que Nada começa com uma cena curiosa: o pequeno Dante é impedido pela mãe de brincar com Berenice, uma garota de idade mais ou menos igual à sua. "Deus castiga!", ela pensa, insinuando que há entre eles algo além do que as aparências indicam. Salto no tempo e Dante (Felipe Kannenberg) retorna, já adulto, em um hospital psiquiátrico. De aparência animalesca, tem constantes delírios sobre algo aprisionado em sua mente que ninguém mais compreende. Seu destino é viver ali, dopado pelos remédios, aguardando a morte chegar. Até que, um dia, chega ao hospital Paula (Branca Messina), uma médica residente. Após presenciar um dos surtos de Dante, decide tomá-lo como seu paciente. É o início de uma jornada investigativa sobre quem ele é e o porquê de estar ali.

A proposta de Menos que Nada não chega a ser inovadora. Filmes de detetive existem aos montes, sejam eles com o profissional de fato ou com versões alternativas, como uma médica querendo ajudar o paciente. Entretanto, o que atrai na trama do filme é seu viés psicanalítico, realçado pelo contraste entre a rigidez da ciência e a importância do lado emocional. É através deste caminho, investigando o passado de Dante a partir de entrevistas com as pessoas que tiveram contato com ele e explorando exercícios com o próprio paciente, que aos poucos é montado o quebra-cabeças sobre o que realmente aconteceu.

Ao longo deste percurso a história tende para um triângulo amoroso inusitado. A jovem Berenice retorna, já adulta e casada (Maria Manoella), proporcionando que Dante faça uma descoberta arqueológica nos terrenos da família. É através dela que ele enfim consegue manter contato com René (Rosanne Mulholland), uma bela pesquisadora pela qual ele tem uma queda. O trio logo se envolve, com cada uma apresentando as armas que têm para conquistar Dante. Se Berenice traz o elo do passado, René sabe usar o sexo para obter o que deseja. Dante, entre as duas, vira mera marionete.

Apesar de possuir problemas de ritmo no andamento da história e de personagens mal construídos, especialmente o marido de Berenice, Menos que Nada consegue prender a atenção justamente pelo inusitado de ter temas como arqueologia e psicanálise em meio a uma típica história de detetive. A mistura é rara de ser vista no cinema brasileiro, que tanto foge do rótulo de filme de gênero, e é apresentada de forma satisfatória pelo diretor Carlos Gerbase. Chama também a atenção o desempenho de Felipe Kannenberg, destaque absoluto em um elenco apenas morno.