Um dos filmes mais aguardados de 2021, Matrix: Resurrections fez sua estreia nos cinemas em dezembro do ano passado; e entre críticas mistas, prejuízo na bilheteria e uma ação judicial, o longa tem causado grande dor de cabeça aos executivos da Warner Bros, que precisarão pensar com cuidado seus próximos passos em Hollywood.
Se isso não fosse o suficiente, nos últimos dias, a internet reviveu uma declaração um pouco polêmica do aclamado quadrinista Grant Morrison. Famoso por sucessos da Marvel e DC/Vertigo, como: Grandes Astros Superman, Os Novos X-Men e Asilo Arkham (1989), de acordo com ele, uma das maiores franquias de ficção científica da história do cinema, Matrix, é fruto de plágio de um trabalho seu: a HQ Os Invisíveis (1994).
Durante uma entrevista, em 2003, para o livro Anarchy for the Masses: A Disinformation Guide to The Invisibles, de Patrick Neighly e Kereth Cowe-Spigai, Morrison criticou a maneira com que suas ideias por trás de Os Invisíveis atingiram o mainstream, afetando — segundo ele — de maneira bastante superficial o gênero da ficção científica e tornando o mesmo repetitivo, sem a profundidade necessária.
“De repente senti meu território invadido. Isso era coisa que ninguém estava fazendo nos quadrinhos ou na cultura pop. Sempre esteve lá no submundo, porque foi de lá que eu saí. Mas de repente [a temática] estava em toda parte; você meio que sente que as gazelas chegaram ao seu bebedouro e estão bebendo da sua água. Então, para mim foi o fim de Os Invisíveis; uma espécie de adeus a isso e tentar avançar para uma maneira diferente de pensar, uma maneira diferente de trabalhar. Porque a partir daí o quadrinho se tornou um conjunto de clichês - você sabe, o grupo que se opunha às forças estranhas de outras dimensões. Os iniciados que estão entre nós e o lado negro. Muitas dessas coisas começaram a aparecer. Edições de Os Invisíveis estavam no set [de Matrix]. As pessoas que estavam lá me contaram. [As Wachowskis] São fãs de quadrinhos. Elas eram fãs da Vertigo em particular”, afirmou Morrison.
Vale lembrar que, anos atrás, o escritor Harlan Ellison processou James Cameron por situação semelhante, alegando plágio por parte do diretor no filme O Exterminador do Futuro. Ellison acabou entrando em acordo com o cineasta, ganhando uma quantia em dinheiro e sendo adicionado nos agradecimentos dos créditos finais do longa. Diferentemente da situação anterior, Morrison nunca entrou com um processo contra as irmãs Wachowski, mas, certamente, apreciaria um reconhecimento maior em torno de sua obra.
Matrix e 6 outros filmes com temática cyberpunk que irão explodir sua cabeçaQUAIS SÃO AS SEMELHANÇAS ENTRE MATRIX E OS INVISÍVEIS?
Um dos grandes pontos discutidos pelos fãs das duas obras começa no figurino parecido de ambas. Com couro preto predominante, óculos de sol, piercings e todo o já conhecido estilo cyberpunk, Os Invisíveis influenciou importantes aspectos da moda gótica, alegando, Morrison, que exemplares de sua criação chegaram a ser distribuídos no set de filmagem de Matrix para referência visual.
Além disso, o enredo das Wachowski realmente apresenta grandes semelhanças com o Volume 1 de Os Invisíveis, incluindo a ideia de uma população adormecida que precisa urgentemente acordar. Apesar de nos quadrinhos a realidade não ser simulada por máquinas, o escritor também cria uma narrativa baseada em um grupo secreto de combatentes pela liberdade que opera em diversos planos da realidade, tentando fazer com que a humanidade desperte para o que realmente está acontecendo. E assim como Neo, um dos personagens principais da HQ também é referido como “The One”, fazendo, da mesma forma, analogia a uma figura religiosa. Se o personagem de Keanu Reeves representa a alegoria do Messias, em Os Invisíveis, Jack Frost é a reencarnação de Buda.
As similaridades não param por aí: um dos pontos mais importantes das jornadas de Neo e Jack Frost se dá quando uma figura mentora (Morpheus em Matrix) pede que eles participem de um ritual para abrir seus olhos para a verdade metafísica do mundo ao seu redor. Além disso, assim como a influência alegórica da pílula vermelha é um dos pontos chaves do longa-metragem, ela serve do mesmo propósito do mofo azul ao qual Jack Frost é oferecido em Os Invisíveis. Os espelhos também apresentam grande importância em ambas as séries, e um grande momento de teste iniciático para os personagens principais de ambas as histórias acontece quando eles são convidados a pular de um arranha-céu.
Ou seja, sem entrar na questão de ser plágio ou não, é certo que Grant Morrison merecia um pouco mais de reconhecimento por uma das melhores obras já feitas para a ficção científica.
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