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    Cannes 2013: Cineasta brasileiro fala sobre seu filme na competição e o novo projeto

    Ele é baiano, radicado em Curitiba, mas seu destino é o mundo. Prova disso é que Aly Muritiba está aqui na festa mundial do cinema com o curta Pátio, segunda obra da 'trilogia do cárcere". Nós batemos um papo com ele sobre a obra, a estreia no evento e os próximos projetos. Veja como foi!

    por Roberto Cunha, de Cannes

    Sem longas na competição oficial, o Brasil marcou presença no Festival de Cannes 2013, representado pelo curta Pátio. Segundo filme da trilogia idealizada pelo cineasta baiano Aly Muritiba e iniciada com o premiado curta A Fábrica (pré-selecionado para o Oscar), ele foi exibido na competição oficial da Semana da Crítica neste sábado, 18. O AdoroCinema estava lá e aproveitou para bater um papo com diretor, logo após a sessão, apesar da chuva que insistia em molhar muiiito as pessoas.

    Essa é a sua estreia em Cannes. Qual a sensação dessa primeira vez?

    Está sendo ótimo. Fazia ideia de que era grande, mas é impressionante o tamanho da estrutura aqui. Sabia que seria importante para meu filme, mas não que iria repercutir tanto. O foco ficou na gente (tem dois curtas em Cannes e nenhum longa) e a repercussão está sendo fenomenal. Minha impressão sobre o festival está além do que eu imaginava.

    De onde veio a ideia de ser tornar cineasta, uma vez que você revelou depois ter sido um agente penitenciário?

    O mais estranho é como eu me tornei agente, porque sou historiador de formação, dava aula de história, ia me mudar para Curitiba desempregado... Aí fiz o primeiro concurso público que apareceu, porque eu precisava me manter. Virei agente penitenciário. Lá dentro sobrava tempo, vi um vestibular para Cinema e, pra ocupar meu tempo, fui estudar. Na faculdade percebi que o negócio era bacana e, ao começar a produzir, não parei mais.

    Quando você resolveu fazer o primeiro curta ele já surgiu como parte de uma trilogia?

    Não. O universo ali dentro é muito amplo. Quando a gente começou a desenvolvê-lo, percebi que era impossível abarcar um universo com tantas variáveis e histórias com apenas um curta. Decidi que seriam três filmes, com três pontos de vista diferentes, já durante “A Fábrica”.

    E os três temas surgiram de estalo?

    Dois temas estavam definidos, que era o tema do agente penitenciário, porque eu era um deles, era importante falar daquelas pessoas, de mim, daquele momento...

    E ele acabou virando um longa?

    Sim. Ele demorou mais para ficar pronto. Durante a execução é que surgiu a ideia de fazer a abordagem do Pátio, porque eu sabia que seria sobre os presos, mas não como seria. Aí veio aquela coisa da função do agente, já pensada no longa e surgiu a ideia da vigília, do posicionamento da câmera. Fiz o curta, enquanto rodava o A Gente.

    Algumas pessoas que assistiram o curta A Fábrica pensaram que ele daria um bom longa. Em algum momento você pensou nisso e desistir de fazer o terceiro?

    Não. A ideia sempre foi fazer três. Existem filmes que se resolvem bem no fomato curta. Ele nasceu assim e tinha que ser um curta. Em momento algum me deu vontade de fazer dele um longa.

    A Fábrica é ficção e em O Pátio você optou por uma pegada diferente. Por que?

    Ele é um documentário. Eu não queria me repetir, o outro já tinha feito muito sucesso e eu estava no mesmo ambiente. Se eu repetisse a fórmula, pareceria um exercício preguiçoso. Então me desafiei a fazer algo diferente sobre o mesmo tema, com outra linguagem. Ao mesmo tempo, queria provar para mim ser possível fazer um filme com um dispositivo muito rígido, capaz de comunicar uma ideia e contar uma história. Daí eu botei a câmera fixa e a história foi sendo contada na banda sonora, com começo, meio e fim, de um cara que vai sair da penitenciária. Eu vejo muitos filmes assim, mas acho eles vazios, então queria fazer um assim que tivesse conteúdo.

    E com relação a recepção do público sobre essa mudança, alguma preocupação em não ser entendido...

    Na verdade, me preocupa. E o dia que eu deixar de me preocupar vou começar a fazer o mesmo filme. E espero que alguém me diga “você está fazendo o mesmo filme sempre. Para!” O verdadeiro sentido de fazer desse jeito é poder me reinventar, sabendo que estávamos correndo risco, mas o dinheiro era nosso e a gente tem que arriscar.

    E o que você pode contar sobre o longa A Gente?

    Ele fala um pouco da burocracia, é um filme do homem contra o sistema. Eu passei sete meses dentro da prisão, filmando com o pessoal que eu trabalhava (como agente) e eu era a minha, porque tinham as questões de segurança etc. Ele é uma experiência, um híbrido. Eu trabalhei com gente de verdade vivendo seus próprios papéis. Várias situações foi o acaso e eu não tinha o controle. Mas outras eram propostas e roteirizadas por mim, junto com os caras.

    Então ele é ficção e...

    Ele não se assume nem como ficção e nem como documentário. Quem assistir sem saber disso que nós estamos falando agora, vai pensar que é uma ficção. Mas tem muitas situações que são documentais, enquanto as roteirizadas tem o seu arco dramático. Tem começo, meio e fim. Começa e termina do mesmo jeito, e documentário nem sempre é assim. A narrativa é de ficção. É como se você pegasse A Fábrica e fundisse com O Pátio.

    E quanto aos atores?

    São os próprios presidiários...

    Lembra o recente "César Deve Morrer"?

    Eu não me pretendo a tanto (rindo), mas a mecânica é a mesma.

    Imagem de A Gente

    E A Gente já tem distribuidor?

    Ainda não. Ele está sendo mixado agora e foi selecionado por esse programa da Ancine que exibe os filmes para curadores internacionais. A gente adoraria estrear em um festival internacional, como Veneza ou Locarno. O Festival do Rio e de Brasília também são janelas maravilhosas, e aí eu imagino que distribuidores e compradores venham procurar a gente. Já acontece um pouco. Por conta do sucesso do A Fabrica, O Pátio ter sido selecionado aqui, as pessoas querendo saber como acabaria essa trilogia... Mas ainda não tem nada acertado.

    Outro projeto após o fim?

    Eu vou rodar um longa no segundo semestre chamado O Homem que Matou Minha Amada Morta, que é um filme de amor bastante dramático. É a história de um homem que perdeu a esposa e está tentando superar o luto, cuidando dos filhos pequenos e seguindo adiante com a vida, esquecendo a dor.

    E como foi com a questão da grana?

    Ele foi contemplado no Sundance Institute com uma verba destinada, uma vez por ano, para realizadores considerados promessas no cinema mundial. Juntando com o dinheiro do fundo setorial, a gente começa nos próximos meses.

    Com ele você se despede do universo carcerário?

    Encerrei a trilogia e não pretendo voltar pra cadeia (risos).

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