Neste domingo (20), o Brasil se despediu de Preta Gil, aos 50 anos, vítima de um câncer no intestino, contra o qual lutava há mais de dois anos. Dona de hits como Sinais de Fogo e Vá Se Benzer, a querida artista multifacetada era sinônimo de coragem e liberdade, qualidades que marcaram sua trajetória artística e inspiraram fãs por todo o país.
O que muitos não sabem é que Preta também teve uma carreira como atriz, atuando em novelas da Globo e da Record. Sua estreia na televisão aconteceu em 2003, no mesmo ano em que lançou seu primeiro e icônico álbum Prêt-à-Porter. Na época, com apenas 29 anos, ela interpretou Vanusa em Agora é que São Elas, novela das seis da TV Globo. A personagem era filha de Dinorá (Joana Fomm) e cúmplice do vilão Rodrigo (Thiago Fragoso).
Sua estreia na teledramaturgia coincidiu com o auge da repercussão de seu nome, impulsionado pelo ensaio nu que estampava a capa do disco e causou grande burburinho. Uma das músicas gravadas por Preta, Espelhos D’Água, foi incluída na trilha sonora da novela.

Após o sucesso em dose dupla, veio Caminhos do Coração (2007), a primeira fase da trilogia Os Mutantes, na Record. Na trama, Preta Gil deu vida à vilã Helga, em um período de dificuldades financeiras. “Eu tive que aceitar por causa da grana. Eu lia o roteiro, olhava meu extrato bancário e chorava”, contou a artista em sua autobiografia Preta Gil – Os Primeiros 50.
Ao longa da história, a personagem se envolvia amorosamente com dois irmãos, Eric (Tuca Andrada) e Ramon (Alexandre Barillari); um enredo muito ousado para a época.
"Foi o primeiro trisal, acho que a Record nunca entendeu isso. Nem sabia o que era e eu estava fazendo. Lembro que era uma loucura gravar, porque eles gravavam com uma roupa verde para fazer os efeitos especiais depois. Eu, em pânico", relembrou a artista em entrevista ao De Frente com Blogueirinha, em 2023.
Quando eu aceitei [o papel], eu falei: 'Tem tudo pra dar errado'. Os efeitos especiais, imagina, gente, aquela coisa tosca. Eu li a sinopse da novela e falei: 'Não vai dar certo'. Mas o dinheiro era bom
Depois de fazer uma participação especial em dois capítulos da segunda fase da novela de ficção científica, em 2008, Preta atuou no episódio piloto da série Ó Paí, Ó, da Globo, onde interpretou Magda. Dois anos depois, estrelou um dos episódios da série As Cariocas.
Preta Gil também apareceu como ela mesma em diversas produções, incluindo Caminho das Índias (2009), Ti-Ti-Ti (2010), Cheias de Charme (2012) e Pé na Cova (2013). Sua última personagem na TV foi Flor de Liz, no humorístico Vai que Cola (2015), do Multishow.
Mesmo focada na carreira de cantora e empresária, Preta chegou a demonstrar vontade de retornar às telinhas: “Às vezes sinto saudades da época em que eu virava noites gravando, das externas, de tudo. É uma parte da minha história”, disse ao jornal Extra, em 2021.
Mas, apesar de não interpretar personagens em frente às câmeras, não pense que ela abandonou seu lado atriz. No cinema, Preta dublou Stella em Os Sem-Floresta (2006) e participou de Crô em Família (2018) e Filho da Mãe (2022).
Queridinha da televisão
Seja por seu carisma ou talento indiscutível, Preta sempre marcava presença na TV, fosse interpretando alguma personagem ou em suas inúmeras participações em programas. Sempre foi um nome querido entre os brasileiros, assim como seu pai, o grande Gilberto Gil.
Em 2004, ela comandou seu próprio programa, o Caixa Preta, da Band, exibido nas noites de sábado. Sem qualquer experiência como apresentadora, Preta se jogou no desafio. "Tento não me censurar tanto para não me travar, mas também não me liberar muito para não escrachar e a Band ter que tirar meu programa do ar", disse ela em entrevista à Folha de S. Paulo na época.

O programa, dirigido por Marlene Mattos, ficou apenas três meses no ar pela baixa audiência. Depois disso, Preta teve aparições marcantes em atrações como Criança Esperança, Mais Você, Vídeo Show, Programa do Jô, Domingão com Huck, entre muitas outras. Nos últimos anos, também comandou o TVZ, no Multishow.
Preta deixa familiares, amigos e fãs por todo o Brasil em luto, mas será eternamente lembrada por sua espontaneidade, originalidade e, claro, por seu imenso talento.