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    As maiores bilheterias do cinema religioso brasileiro

    A fé move montanhas e lota cinemas.

    Quando o assunto é cinema nacional, a fé pode mover montanhas e operar verdadeiros "milagres". Nada a Perder – Contra Tudo. Por Todoschegou aos cinemas brasileiros batendo recordes. Nunca antes na história deste país um filme comercializou tantos ingressos em pré-venda — mais de 4 milhões. A cifra é tão alta que já garantiu ao longa-metragem distribuído pela Paris Filmes a maior bilheteria do cinema nacional de 2018 até então e a maior estreia de um filme nacional em todos os tempos.

    Levando para os cinemas a trajetória do bispo Edir Macedo, empresário que é o proprietário do Grupo Record e líder espiritual e fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Nada a Perder chega dando sinais de força para impactar as bilheterias nacionais de forma contundende.

    Outra produção ligada à Record e à Igreja Universal, Os Dez Mandamentos - O Filme (2016), se tornou a maior bilheteria do cinema nacional em todos os tempos após superar Tropa de Elite 2 (2010). A adaptação da novela da emissora vendeu mais de 11,3 milhões de ingressos no país, mas o número de pessoas que realmente compareceu aos cinemas para assistir o filme é objeto de controvérsia. Na época do lançamento do longa-metragem, houve reportagens que mostraram que pessoas ligadas à Igreja Universal teriam comprado ingressos (as vezes milhares) para distribuir para fiéis. Entretanto, houve relatos de que sessões esgotadas do filme foram realizadas com boa parte das poltronas vazias.

    Teria a Igreja Universal investido em peso para conseguir bater o recorde faraônico de Tropa de Elite 2 e estaria a igreja repetindo a tática em Nada a Perder? A instituição nega. Em nota oficial, a IURD acusa a "mída" de espalhar "fake news" sobre "espetacular bilheteria" do filme com a "edificante história de vida do Bispo Edir Macedo". "A Universal não comprou, nem comprará entradas de cinema. O que existe é a mobilização espontânea de grupos e de membros da Universal, que se organizaram para que o maior número de pessoas tenha chance de assistir ao filme", diz a nota.

    Polêmicas à parte, o fato é que os filmes ligados à Universal não são as primeiras produções de cunho religioso a arrebatar multidões para as salas escuras. E não é difícil entender os motivos. No Brasil, 8 em cada 10 pessoas são adeptas de alguma religião. O país também tem a maior população católica em termos absolutos do mundo e também a maior população espírita do planeta. Além disso, uma crescente população evangélica (que representava 9% da população em 1991 e 22,2% em 2010) e as tradições religiosas de matriz africana fazem do país um verdadeiro caldeirão de crenças.

    Ainda assim, levou um tempo para que obras cinematográficas explicitamente religiosas caíssem no gosto do público. O primeiro filme nacional de cunho religioso a levar mais de um milhão de espectadores aos cinemas foi o obsucuro A Vida de Jesus Cristo, dirigido por William Cobbett e lançado em 1971. A marca só seria superada três décadas depois. Paradoxalmente, o longa-metragem de Cobbet chegou numa época em que o brasieleiro era ainda mais religioso, mas que um dos gêneros cinematográficos mais populares na cinematografia nacional era a pornochanchada (junto com a sempre presente comédia, como atestava o sucesso dos filmes dos Trapalhões).

    Nesta matéria, classificamos como "filmes religiosos" produções que sigam a definição do pesquisador Luiz Vadico no livro Cinema & religião: Perguntas e respostas, como ser reconhecido socialmente como tal, buscar despertar emoções típicas do mundo religioso, associação com algum tipo de teologia, participação de consultores religiosos na produção, entre outras características. 

    Sendo assim, ficam de fora do levantamento filmes que tangem o discurso religioso, mas não são explicitamente confessionais, como o clássico O Auto da Compadecida (2000), dirigido por Guel Arraes, ou o antológico O Pagador de Promessas (1962), obra fundamental do cinema brasileiro que aborda a intrincada religiosidade do país.

    Sendo assim, as cinco maiores bilheterias do cinema religioso brasileiro são:

    • Os Dez Mandamentos - O Filme (2016): 11,3 milhões de espectadores
    • Nosso Lar (2010):  4,06 milhões de espectadores
    • Nada a Perder – Contra Tudo. Por Todos (2018): Pelo menos 4 milhões de ingressos comercializados em pré-venda
    • Chico Xavier (2010): 3,4 milhões de espectadores
    • Maria - Mãe do Filho de Deus (2003): 2,3 milhões de espectadores

    Assim que os números oficiais do primeiro final de semana em cartaz de Nada a Perder forem divulgados esta notícia será atualizada. De qualquer forma, é certo que o filme sobre Edir Macedo vai assumir, no mínimo, o segundo lugar neste ranking, visto que a obra ainda ficará em cartaz por mais algumas semanas antes de ser disponibilizada na Netflix. O filme também conta com já tem uma sequência confirmada, Nada a Perder - Parte 2, que chegará aos cinemas no dia 18 de abril de 2019 e certamente fará um rebuliço nas bilheterias.

    Apesar do sucesso dos filmes ligados à igreja neopentecostal, filmes voltados para o público evangélico no Brasil ainda são raros. Com diálogos em inglês, a coprodução Brasil-EUA Três Histórias, Um Destino estreou no país em 2012 baseado em um livro de R. R. Soares, outro televangelista neopentecostal, fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus. O filme levou 288 mil pessoas aos cinemas.

    Ainda em 2018 estreia A Palavra, filme evangélico sobre os profetas do Antigo Testamento com Tuca Andrada, Oscar MagriniKarina BarumLuciano Szafir no elenco. "Tem muito filme evangélico importado, muita coisa amadora, mas nada 100% brasileiro", afirmou Zitah Oliveira, produtora do longa-metragem, em entrevista à Folha de S. Paulo.

    Nos Estados Unidos, país com o maior número de protestantes do mundo, filmes evangélicos de orçamentos modestos têm atraído seu nicho de público nos últimos anos, vide as lucrativas bilheterias de O Céu é de Verdade (2014), Deus Não Está Morto (2014), Quarto de Guerra (2015) e Milagres do Paraíso (2016).

    Outra coisa interessante no ranking é força dos filmes com temáticas espíritas. O Brasil têm 3,8 milhões de seguidores da doutrina de Alan Kardec, segundo o IBGE, o que não confere uma percentagem alta de fiéis autodeclarados em um país com mais de 200 milhões de habitantes. Entretanto, o que pode ter feito a diferença no sucesso de filmes que abordam esta temática são os 30 milhões de simpatizantes que a religião tem no Brasil, segundo a Federação Espírita Brasileira.

    Além do sucesso Nosso LarChico Xavier (sobre a vida de um dos líderes religiosos mais carismáticos que o país já viu), outros sucessos de público do cinema espírita são As Mães de Chico Xavier (2011), com 512 mil espectadores, Bezerra de Menezes: O Diário de um Espírito (2008), com 443 mil espectadores, e E a Vida Continua... (2012), com 378 mil espectadores.

    Maria - Mãe do Filho de Deus permance como o principal filme católico em número de espectadores já lançado no Brasil. O longa-metragem traz Giovanna Antonelli como Maria e Luigi Baricelli como Jesus Cristo e conta com a participação especial do popular Padre Marcel Rossi. Um ano depois do lançamento desse filme, o clérigo participou de Irmãos de Fé (2004), outro filme religioso que conta com Thiago Lacerda como o Apóstolo Paulo. O filme de Moacyr Góes quase bateu a marca de um milhão de espectadores e levou 966 mil pessoas aos cinemas.

    Maria - Mãe do Filho de Deus (2002), de Moacyr Góes | Público: 2,3 milhões de espectadores

    Chico Xavier (2010), de Daniel Filho | Público: 3,4 milhões de espectadores

    Nada a Perder - Contra Tudo. Por Todos (2018), de Alexandre Avancini | Pelo menos 4 milhões de ingressos vendidos em pré-venda

    Nosso Lar (2010), de Wagner de Assis | Público: 4,06 milhões de espectadores

    Os Dez Mandamentos - O Filme (2016), de Alexandre Avancini | Público: 11,3 milhões de espectadores

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