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    Bridgerton: O que é real e o que é ficção na série da Netflix?

    Produzida por Shonda Rhimes, série é estrelada por Regé-Jean Page e Phoebe Dynevor.

    Um dos recentes fenômenos da Netflix é Bridgerton, série produzida por Shonda Rhimes e baseada nos livros de Julia Quinn. A trama é ambientada nos 1800 no Período de Regência em Londres. Para tornar o universo da produção o mais historicamente preciso possível, os criadores chamaram a consultora histórica Hannah Greig, que também trabalhou em A Favorita e A Duquesa. Mas, ainda assim, os roteiristas tomaram algumas liberdades criativas para atrair um público contemporâneo.

    "Mesmo que estejamos no século 19, queríamos que as coisas parecessem identificáveis. Queríamos que o público se visse nesses personagens", disse Chris Van Dusen, o criador do programa, ao Daily Express. "Bridgerton não é uma aula de história, não é um documentário. Na verdade, não existiam Bridgertons reais no Período de Regência de Londres de 1813, pelo que eu sei. Honramos a história, é claro, mas não estamos em dívida com ela. É um mundo reimaginado, e o que estamos realmente fazendo é casar a história e fantasia de uma forma que considero realmente emocionante."

    Bridgerton: Conheça os protagonistas Regé-Jean Page e Phoebe Dynevor

    A série acompanha Simon Basset, duque de Hastings (Regé-Jean Page) e Daphne Bridgerton (Phoebe Dynevor), filha de uma influente família da alta sociedade londrina durante a Regência Britânica. Diante das pressões da sociedade (e das fofocas), ele finge que a corteja, afastando as solteiras obcecadas, enquanto atrai a atenção de possíveis candidatos para a moça. Só que, aos poucos, a atração entre eles deixa de ser uma mentira. Leia a crítica do AdoroCinema.

    Confira abaixo fatos que são verdade e os que são ficção em Bridgerton.

    O que é real em Bridgerton?

    A Rainha Charlotte era mesmo miscigenada?

    Embora os produtores da série tenham optado por um elenco diversificado, a escolha de escalar a atriz negra Golda Rosheuvel como a rainha Charlotte pode ter sido mais historicamente precisa do que os espectadores podem imaginar. A pesquisa genealógica feita pelo historiador Mario De Valdes indica que a monarca era, na verdade, de herança negra. "A Rainha Charlotte, esposa do rei inglês George III (1738-1820), era descendente direta de Margarita de Castro y Sousa, um ramo negro da Casa Real Portuguesa", escreveu Valdes para PBS' Frontline. Ele também apontou como um médico usou uma frase racista para descrever sua aparência e como os retratos da Rainha a retratam com um tom de pele mais escuro e cabelo encaracolado.

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    O Rei George III era mesmo doente?

    Embora não haja informações suficientes para compreender adequadamente a extensão dos problemas de saúde mental do Rei George III, está amplamente documentado que ele sofria de alucinações e delírios, portanto, na época era considerado "louco". O período da Regência — de 1811 a 1820 — é assim chamado porque o príncipe George IV governou no lugar de seu pai doente e agiu como "regente", com sua mãe, a rainha Charlotte, servindo como rainha consorte do Reino Unido. Dado que as Guerras Napoleônicas estavam ocorrendo desde 1803, foi uma época de grandes mudanças políticas, sociais e econômicas para a Grã-Bretanha. Mesmo assim, com o interesse e patrocínio de George IV e Charlotte pelas artes, foi também um período de realização e refinamento cultural no Reino Unido, que permitiu que as estruturas sociais típicas de Londres passassem por mudanças massivas. Vale notar que o George III é o mesmo rei que aparece no musical Hamilton.

    Mulheres podiam trabalhar e ter seu próprio negócio na época

    Netflix

    Uma das personagens de Bridgerton é Genevieve Delacroix, a modista local responsável por todos os vestidos femininos. Mas muitos espectadores questionaram se uma mulher seria capaz de administrar seu próprio negócio em uma época em que as mulheres tinham muito pouca liberdade. E, de fato, algumas ocupações foram assumidas por mulheres no século XIX, especialmente limitadas a serviços como professoras, costureiras, empregadas domésticas e escritoras, como Jane Austen e Mary Shelley. Foi somente depois da Revolução Industrial que as mulheres receberam ofertas de trabalho além das tarefas domésticas.

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    A "fofoca" era realmente publicada nos jornais em 1800

    Netflix

    Uma parte importante de Bridgerton é Lady Whistledown (voz de Julie Andrews), que serve como narradora do programa por meio de seus pseudônimos da Society Papers, um resumo semanal das fofocas da cidade. Na vida real da Regência de Londres, a fofoca impressa enchia nos jornais e as páginas semanais de escândalos. Segunda a historiadora Hannah Grieg, o jornal diário The Morning Chronicle publicava uma coluna regular chamada "inteligência da moda", que descrevia as idas e vindas do mundo das celebridades de Londres. Porém, vale a pena notar que, em Bridgerton, Lady Whistledown revela os nomes completos, enquanto nas folhas de escândalo originais da Regência havia alguma tentativa de disfarçar os alvos apenas listando suas iniciais. O conceito de Lady Whistledown ecoa uma figura da vida real conhecida como "Sra. Crackenthorpe", que foi a autora anônima por trás de Female Tatler, publicada de 1709 a 1710. Embora a coluna tivesse a real intenção de educar mulheres e não ser fonte de fofocas, certamente é possível fazer um paralelo.

    O consumo de fofocas já era volumoso, mas com a invenção da imprensa a vapor em 1811 e sua eventual adoção pelos principais jornais de Londres em 1814, a disseminação de informações ocorreu 10 vezes mais rápido e muito mais barata, tornando esses tipos de publicações mais prolíficas e facilmente acessíveis. O fato de que os ricos eram muito ricos e os pobres muito pobres fazia com que parecesse pura ficção para as classes mais baixas que liam sobre a aristocracia.

    O que é ficção em Bridgerton?

    Bailes eram comuns, mas as músicas eram outras

    Netflix

    Como rotina social, não era incomum assistir a dois bailes por semana durante "a temporada" — um período de seis meses entre novembro e julho, quando os aristocratas desciam de suas propriedades rurais para Londres para garantir seu status trabalhando seus contatos, formando lealdades, comprando e vendendo propriedades. Essas reuniões determinavam quem estava "dentro" e quem estava "fora", já que as pessoas tinham que ser convidadas por uma anfitriã da moda — ou mamas da moda, como Bridgerton as chamava — para poder comparecer, e as listas eram muito exclusivas. Bailes certamente tinham muitas funções nos negócios e na política, mas, como a série mostrou, serviam para o "mercado do casamento". Ou seja, garantir casamentos para debutantes que, de fato, uniriam famílias poderosas.

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    É impossível subestimar seu poder. Fazer um bom casamento abriu portas infinitas, não apenas para o marido e a esposa, mas também para todos os seus parentes, garantindo o status futuro de uma família por gerações. Fazer um casamento ruim ou, pior de tudo, deixar de se casar destruiria as chances de uma família. As apostas eram terrivelmente altas toda vez que um herdeiro bonito e a beleza da sociedade se apresentavam para dançar", disse Greig. Além dos bailes, as principais anfitriãs também davam festas noturnas semanais, programando no calendário para não coincidir com outra. Se houvesse uma briga, uma Lady provavelmente planejaria sua noite para confrontar propositalmente o evento de sua "inimiga".

    No entanto, Bridgerton tomou a liberdade criativa de adaptar algumas canções modernas, do século XXI para 1800. No primeiro episódio do drama de época, vemos Daphne e Simon dançando em um grande salão de baile ao som da versão instrumental do Vitamin String Quartet de "thank u, next." de Ariana Grande. Isso era exatamente o que o showrunner Chris Van Dusen queria. "A música para nós foi uma espécie de evolução que encontramos ao fazer o show conforme os cortes estavam chegando", disse ele a The Oprah Magazine. "A ideia de fazer isso é realmente parecer diferente de seus outros programas de época. Seja a música ou o mundo da série, os roteiros, os cenários, os figurinos; tudo se resume a infundir as coisas por meio de nossas próprias lentes modernas exclusivas e fazer as coisas parecerem compreensíveis para quem está assistindo."

    O compositor vencedor do Emmy, Kris Bowers (When They See Us, Greenbook e Mrs. America) foi o responsável por montar uma variedade de covers instrumentais de 40 músicas atuais, além de criar a partitura orquestral original da produção com 19 faixas, com muitos dos músicos gravando as próprias canções por causa da pandemia.

    Espartilhos não existiam na época

    Netflix

    Um dos elementos que mais chama a atenção na série da Netflix é a moda e os figurinos. A primeira cena mostra Prudence Featherington lutando com um espartilho apertado demais (e posteriormente desmaiando na frente da Rainha). Mas esse foi um dos muitos detalhes que a produção errou (ou tomou liberdades criativas) sobre a moda da era Regência, já que os espartilhos com cordões de osso eram mais comuns no final da Era Vitoriana.

    Em vez disso, as mulheres normalmente vestiam uma roupa íntima muito mais confortável, conhecida como "stays", usada mais para embelezar os seios. Dado que a "silhueta Empire" estava na moda na época, simplesmente não havia necessidade de um espartilho restritivo. Segundo Hilary Davidson, uma historiadora do vestido e autora de "Dress in the Age of Jane Austen", os primeiros espartilhos apareceram no século 16 em resposta à transformação da moda feminina mais rígida e mais "geométrica".

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    Netflix

    Mas, o tempo todo, essas roupas íntimas eram apenas "peças normais de roupa" As mulheres teriam uma variedade no guarda-roupa, assim como as mulheres de hoje "têm um espectro de possibilidades, desde o sutiã esportivo até o Wonderbra". Aquelas que simplesmente ficam pela casa usariam seus espartilhos mais confortáveis, enquanto outras que vão a um baile podem "usar algo que dê uma linha mais bonita". Mesmo as mulheres trabalhadoras usariam algum tipo de roupa de apoio com laços como essas — desmentindo a ideia de que colocar um espartilho induzia imediatamente ao desmaio. Para Davidson, o mito de que as mulheres "andavam por aí nessas coisas desconfortáveis ​​que não podiam tirar, por causa do patriarcado" realmente irrita. "E elas aguentaram por 400 anos? As mulheres não são tão estúpidas", disse ela.

    Vale notar que muitos filmes, históricos e fantasiosos, têm cenas semelhantes. Pense na Scarlett O’Hara de ...E o Vento Levou agarrada em uma coluna da cama; Elizabeth Swann em Piratas do Caribe amarrada com tanta força em seu espartilho que ela mal consegue respirar; Rose do Titanic em uma cena quase idêntica; Bela no remake live-action da Disney de A Bela e a Fera declarando que sua personagem é muito independente para usar um espartilho. Cada uma dessas cenas representa que os personagens que sofrem com a dor não têm controle sobre suas próprias vidas; em cada cena, uma figura de autoridade (as mães de Prudence e Rose, o pai de Elizabeth) lhes diz o que devem fazer. 

    A figurinista Ellen Mirojnick, de Bridgerton, foi responsável pelas mais de 7.500 peças de moda que foram usadas para criar a sensação de grandeza pelo qual a série se tornou famosa. Outra liberdade que ela tomou foi através do uso de cores e estampas que não eram típicas da época.

    A primeira temporada de Bridgerton está disponível na Netflix.

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