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    Jogos Vorazes: Como a saga deu certo em uma época de tantas adaptações ruins?

    Dissecamos a fórmula por trás das adaptações de sucesso da franquia de Suzanne Collins.

    No ano de 2001, quando Chris Columbus assumiu a cadeira de direção para Harry Potter e a Pedra Filosofal, adaptar uma franquia infanto-juvenil com tantos volumes como aquela ainda parecia algo praticamente impensável. Há quase duas décadas, afinal, as estratégias comerciais dos grandes estúdios no que dizia respeito a adaptações de best-sellers eram quase exclusivas de romance e terror. 

    Contrariando diversas das expectativas, o filme estrelado por Daniel Radcliffe e inspirado nos bem sucedidos volumes escritos por J.K Rowling acabou rendendo sete continuações para os cinemas ao longo de dez anos e acabou sendo retroalimentado pelos próprios lançamentos posteriores da J.K, rendendo assim um ciclo lucrativo de dar inveja a qualquer produtor executivo.

    Consequentemente, estava montado o cerco para que vários estúdios passassem a investir em novas franquias adaptadas de sucessos infanto-juvenis, porém sem antes pensarem direito na estrutura. A Warner e o próprio Columbus fizeram parecer tão fácil — mas na realidade agradar um público já consolidado pelas obras originais era um trabalho bastante complicado, que envolvia a escalação certa, as decisões corretas no que mudar e no que manter, o timing ideal... difícil. 

    Passeamos por fracassos tão grandes que até hoje não foram continuados ou concluídos, a exemplo de Percy Jackson e Divergente, frustrando bastante seus respectivos fãs. Até que, em 2012, já sem trazer muita esperança, chegou aos cinemas a primeira adaptação de Jogos Vorazes e, inesperadamente, a aclamação foi rápida. Mas por que?

    O PODER DA ESCALAÇÃO

    Na época nós ainda não sabíamos, mas o elenco de Jogos Vorazes já estava recheado de pessoas que não apenas cumpriram muito bem o papel de retratar personagens já consolidados nos livros, mas que também mostrariam-se extremamente premiados ao longo dos anos seguinte. Jennifer Lawrence, por exemplo, venceu um Oscar apenas no intervalo entre o primeiro e o segundo filme.

    Woody Harrelson, que também viria a ser indicado por seu papel em Três Anúncios Para um Crime, interpretou um excepcional Haymitch e capturou muito bem a essência do personagem, o que foi um ponto em comum entre o elenco inteiro, praticamente. Imaginar outro Peeta senão Josh Hutcherson é difícil, e o mesmo vale para Donald Sutherland, o impassível Presidente Snow. 

    Até mesmo os menos recorrentes, como a Effie Trinket receberam uma pitada de peculiaridade, a exemplo de Elizabeth Banks, que recebeu certa permissão para trabalhar nas características da Effie, o que nos leva ao próximo ponto da matéria.

    A LIBERDADE DA ADAPTAÇÃO

    Geralmente, as adaptações falhas possuem dois pontos comum: ou não conseguem ser fidedignas o suficiente à obra original e se distanciam demais, ou acabam se prendendo tanto ao material de origem que não conseguem encontrar o próprio espaço para inovar quando é necessário. Em Jogos Vorazes, foi possível perceber certas liberdades criativas que trabalharam em prol do bom funcionamento.

    Transmitir um cenário de instabilidade política e caos em meio à elite "fashion" dos jogos parecia ser uma tarefa difícil, até pela descrição nem sempre exata dos livros, e foi essencial que a direção e o estúdio responsável tivessem a possibilidade de trabalhar com a estética futurista ao próprio gosto. Era uma aposta no escuro, mas Jogos Vorazes serviu também para mostrar que uma boa adaptação nem sempre é a que copia melhor os detalhes do livro.

    A RELEVÂNCIA NO MERCADO

    No primeiro Jogos Vorazes, poucos nomes eram muito conhecidos, como o próprio Sutherland, que ainda aparece pouco como Snow. Ao longo do tempo, a franquia foi ganhando elogios de público e crítica, e consequentemente trouxe também a possibilidade de expansões orçamentárias e de elenco. À época da chegada do terceiro filme, tudo estava tão expansivo que agentes de artistas grandes no mercado se interessaram.

    Julianne Moore, por exemplo, apareceu sem brilhar muito, mas deu vida à ambígua líder Coin, enquanto outro nome de peso, Phillip Seymour Hoffman, marcou o filme em sua carreira, especialmente por ter sido seu último papel antes de falecer. 

    AFINAL... QUAL É O SEGREDO?

    Ao final das contas, desvendar o segredo que explica o sucesso de Jogos Vorazes mediante a uma época de tantas adaptações ainda é um tema subjetivo. Primeiro, a temática do filme que mistura o sucesso dos reality shows, a desigualdade social e o caos político consegue atingir diversas camadas dentre os espectadores, o que o coloca num bom patamar para uma bilheteria concisa. 

    Segundo, a liberdade em realizar uma adaptação que seja fiel nas características dos personagens mas que tome suas próprias decisões na retratação da Capital ganha força dentro desta equação, assim como o casting muito bem feito e a consistência das sequências. Talvez os filmes só tenham vindo no momento certo, assim como os livros, mas o ponto é que se um dia pareceu fácil emplacar o próximo Harry Potter, hoje parece difícil emplacar o próximo Jogos Vorazes.

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