Pela primeira vez em quase 40 anos, Woody Allen pode não conseguir manter sua tradição de lançar um filme a cada 12 meses. E dessa vez, a situação é completamente diferente da época em que ele distribuiu Memórias (1980) e Sonhos Eróticos Numa Noite de Verão (1982) com um hiato de dois anos: segundo informa o Page Six, a Amazon estaria considerando a hipótese de cancelar o lançamento de A Rainy Day in New York, mais recente projeto do realizador, em decorrência do ressurgimento da controvérsia em torno de Allen, acusado de abuso sexual por sua própria filha, Dylan Farrow.
De acordo com as fontes da reportagem, "A Rainy Day ou não será lançado ou será 'largado' pela Amazon sem nenhum tipo de aviso ou de lançamento nos cinemas'. Ainda, outro indicativo de que Allen pode ter seus dias contados na companhia comandada por Jeff Bezos seria o fato de que ele não estaria conseguindo escalar atores para o seu projeto seguinte - o realizador, como de costume em sua carreira, inicia a escalação de suas produções futuras antes mesmo de finalizar o filme no qual está trabalhando. A Amazon ainda não se pronunciou oficialmente sobre a problemática.
Ainda que a informação venha de um jornal que não tem 100% de credibilidade, a possibilidade do cancelamento de A Rainy Day in New York já foi aventada por outras publicações de maior prestígio no mundo do entretenimento, como a Vulture. E a julgar pelos recentes acontecimentos - entre eles o fato de que inúmeros colaboradores de longa data de Allen retiraram seu apoio ao diretor e doaram cachês para fundos de apoio às vítimas de assédio sexual -, a hipótese de que A Rainy Day in New York realmente seja embargado não pode ser descartada.
Por mais que indícios de molestamento não tenham sido encontrados pelo Departamento do Bem-Estar Infantil de Nova Iorque e por uma junta de médicos especializados em abuso de menores, as alegações de Dylan Farrow - negadas por Allen - voltaram a ganhar força em meio ao movimento que abalou as estruturas de Hollywood. Após a revelação das décadas de abusos sexuais cometidos pelo ex-produtor Harvey Weinstein, inúmeras vítimas de assédio na indústria decidiram quebrar o silêncio e denunciar predadores - e, logo, o caso Allen-Farrow voltou à baila.
Ainda de acordo com a reportagem do Page Six, executivos, distribuidores e curadores de Festivais ao redor do mundo, incluindo Cannes, já estariam analisando um possível cenário onde A Rainy Day in New York não seja distribuído. Para uma fonte ligada à mostra francesa, o longa de Allen poderia vir a ser exibido no festival europeu, onde o realizador é uma figura querida há anos - entretanto, ainda seria necessário aguardar o posicionamento oficial da Amazon. O Velho Continente, aliás, poderia representar uma saída para o cineasta: "Ele continuará fazendo filmes, talvez na Europa ou com desconhecidos", apostou um executivo da indústria estadunidense.