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    Ilustrador brasileiro de O Poderoso Chefinho fala sobre os bastidores do filme: “’Inception’ para crianças” (Entrevista Exclusiva)

    Ennio Torresan Jr. também comenta a onda das adaptações de animações clássicas para versões live-action: “No final das contas, a cara do ator é o que vende”.

    Mezzo brasileiro, mezzo norte-americano. Apesar do nome italiano, o ilustrador carioca Ennio Torresan Jr., de 52 anos, trabalha há mais de duas décadas em Hollywood. Desde de 2003, pelo menos, não lhe falta trabalho na prestigiosa DreamWorks Animation, braço animado da empresa fundada por Steven Spielberg que é responsável por sucessos como ShrekComo Treinar Seu Dragão e Kung Fu Panda.

    Como operário, ele trabalhou em produções de peso, como a franquia Madagascar, Megamente, Turbo; como patrão, estreou na direção de um longa-metragem com o independente Até que a Sbórnia nos Separe (2013), ao lado de Otto Guerra, que recebeu prêmios nos Festival de Gramado, Mostra São Paulo e Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.

    Agora, Ennio volta aos cinemas nacionais (na verdade, de todo o globo terrestre) como “head of story” de O Poderoso Chefinho. Head of o quê? A função que Ennio exerce é equivalente à chefia do departamento de storyboard. Cabe a ele tentar imaginar, a partir do roteiro, como será a forma final do filme. “Mais ou menos uma mistura de cinematógrafo e vidente”, ele brinca, em entrevista ao AdoroCinema, por telefone, direto de Los Angeles.

    Divulgação Fox

    Em cartaz, The Boss Baby (no original) é uma piração só. Misturando técnicas diferentes de animação, o filme do diretor Tom McGrath (Madagascar) conta a história de um garotinho de sete anos que vê seu “reinado” (a.k.a. a atenção integral que recebe dos pais) ameaçado quando ganha um irmãozinho. Acontece que o bebê chega de táxi, usa terno, carrega uma maleta e tem planos mucho locos para a nova família. “Tipo um Inception [A Origem, de Christopher Nolan] para crianças”, resume Torresan Jr.

    Confira abaixo os melhores momentos da entrevista, em que ele comenta a onda das adaptações de animações clássicas para versões live-action e revela qual o próximo projeto na DreamWorks.

    Divulgação

    AdoroCinema: Quais são as peculiaridades técnicas de O Poderoso Chefinho?

    Ennio Torresan Jr.: É como se fosse um filme dentro do outro. A gente dizia aqui, internamente que é tipo um Inception para crianças. Nós fomos meio que entrando em "Alice no País das Maravilhas". Esse é o filme mais próximo do conto tradicional do [autor] Lewis Carroll que a DreamWorks já fez. As técnicas de animação e as cores ajudam muito você entrar nessa viagem. Mas no storyboard, a gente teve que inventar artifícios para que as pessoas pudessem entender que filme nós estávamos fazendo. A gente sempre apresenta os filmes para os produtores, chefes, companhias e tal… E eles precisam entender por que filme estão pagando. Então, isso foi muito difícil.

    Como foi, conceitualmente, conceber essa “viagem”?

    Muito do que os meus filhos falam para mim foi colocado no filme. Eu tenho um menino de oito anos e uma menina de seis. Eles tinham quatro e dois anos na época [do início do projeto], e era mesmo a viagem das crianças. Tipo “de onde vem os bebês?”. Tem a história da cegonha e tal, mas nem falamos em cegonha. Perguntei mesmo para elas, e elas responderam que eles vinham de uma caixinha. E por aí vai. Eles começam a inventar...

    Você se interessa mais por investir em projetos autorais, como Até Que A Sbornia Nos Separe ou estar inserido dentro desse universo de um grande estúdio?

    Eu gosto dos dois e, por sorte, sempre acabei caindo em projetos que eu meio que escolhi fazer. Como foi esse, que lembra muito a minha experiência no Bob Esponja, e Turbo também, que foi um filme completamente diferente do que a DreamWorks já fez. Eu já me interessava por esses projetos que eram diferentes, com cara de independentes, sabe? Filmes como Shrek são mais seguros para o estúdio fazer. Eu sempre gostei muito de entrar no risco.

    Hoje a gente está vivenciando quase que uma obsessão pela transformação de animações clássicas em versões live-action. O que você acha sobre esse, digamos, movimento?  

    Eu só sei que, cada vez mais, as coisas se misturam. Os filmes da Marvel, com atores, são produzidos como animações. Chamam esses filmes de híbridos. Gravidade, por exemplo, foi todo feito em 3D, e só depois os atores foram inseridos. Uns três meses antes do lançamento, eles não sabiam como o filme ia ficar. Hoje, essas produções vão da animação para o live-action de uma forma muito mais fácil. Elas pulam dos estúdios de animação para os de efeitos especiais e, depois, para o live-action. Eu acho um processo natural, até porque, no final das contas, a cara do ator é o que vende.

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    E qual o seu próximo projeto na DreamWorks?

    Esse eu posso anunciar, porque geralmente a gente tem que fazer segredo, por causa da concorrência e tal. Mas estou trabalhando no Everest, que vai estrear em 2019. É uma viagem do Abominável Homem das Neves que se passa na China. Dirigida pelo Tim Johnson, de Os Sem-Floresta, e pelo Todd Wilderman, que trabalhou com ele em Cada Um Na Sua Casa.

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