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    Festival de Gramado 2016: Sônia Braga critica o golpe, Kleber Mendonça cita vilões "como Eduardo Cunha e Donald Trump"

    Cinema e política se misturaram na coletiva de imprensa do filme Aquarius.

    Edison Vara / Pressphoto

    "Ih, vim toda vestida de preto! Se eu soubesse que o fundo era branco, teria colocado outra roupa. Talvez algo laranja. Posso voltar e mudar de roupa, vocês preferem?".

    A entrada de Sônia Braga na coletiva de imprensa do festival de Gramado foi triunfante. A atriz brincou com os fotógrafos, com os organizadores, com os jornalistas. Após ter apresentado seu novo filme, Aquarius, rasgou elogios ao diretor e roteirista Kleber Mendonça Filho: "Foi o melhor roteiro que li em toda a minha vida. Ele tinha todas as palavras que eu queria dizer".

    Ela também elogiou a escolha do cineasta em trabalhar com alguns atores não profissionais no filme: "Eu não sou uma atriz, sou uma pessoa. Não fui à escola, não sou uma atriz acadêmica. Não sei ler script". Ela ainda minimizou a repercussão na mídia de seus próximos projetos em Hollywood, afirmando ter apenas um dia de filmagem no drama com Julia Roberts - e provavelmente nem vai contracenar com ela - além de um único dia de filmagem no spin-off de O Grande Lebowski, estrelado por John Turturro.

    Edison Vara / Pressphoto

    "Faria tudo de novo"

    Enquanto a coletiva com Sônia Braga foi curiosamente desprovida de questões aos jornalistas - o mediador nunca passou a voz à imprensa - a coletiva com toda a equipe de Aquarius cumpriu as expectativas.

    Além de Sônia Braga, Kleber Mendonça Filho, Maeve Jinkings, Humberto Carrão, Zoraide Coleto, a produtora Emilie Lesclaux, o diretor de arte Juliano Dornelles e o diretor de fotografia Pedro Sotero responderam às perguntas mais variadas, que foram de elogios a questionamentos estéticos e políticos.

    Nos aspectos cinematográficos, o cineasta afirmou que a heroína de Aquarius possui semelhanças com grandes figuras femininas do cinema clássico italiano, como Anna Magnani, e defendeu a divisão da história em três partes livres ("O Cabelo de Clara", "O Amor de Clara", "O Câncer de Clara"), porque os títulos literários instigam a imaginação do espectador.

    Edison Vara / Photoshop

    Numa questão sobre o vilão Diego, interpretado por Humberto Carrão, Kleber Mendonça Filho afirmou que este personagem lhe parecia verossímil pois os vilões reais eram muito mais perversos do que o fictício. "Se eu tivesse escrito o Donald Trump, tivesse escrito o Eduardo Cunha, reclamariam do roteiro, diriam que essas figuras não existem. E Cunha não estaria solto".

    Esta foi a deixa para questões de ordem política. Sônia Braga reafirmou, com todas as letras, a sua leitura da atual situação brasileira: "É golpe, e criar um precedente desses no país é crime". Zoraide Coleto completou: "Ainda bem que meu pai morreu antes de ver o que está acontecendo agora".

    O diretor defendeu novamente sua manifestação em Cannes, quando levantou placas com os dizeres "Existe um golpe de Estado no Brasil". "Faria tudo de novo", afirmou, categórico, diante dos aplausos dos jornalistas. "A democracia ainda é a melhor forma de viver em sociedade". 

    Entre as perguntas e respostas, ecoavam na sala gritos de "Fora Temer".

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