Em um momento ou outro de suas carreiras, muitos autores acabam caindo na doce armadilha de fazer uma história sobre o poder das histórias. Seja para sair de um marasmo criativo, reconectando-se com aquilo a que dedicaram suas vidas, ou para processar alguns problemas pessoais que, consciente ou inconscientemente, acabam permeando o resultado final.
É um terreno um tanto complicado, é claro, deixando algo que pode pender para o lado da autoindulgência, mesmo que o autor em questão sinta uma espécie de catarse. Mas, às vezes, acaba sendo um dos momentos em que mais consegue se conectar com o público, compartilhando um entusiasmo inimaginável pelas histórias. Poucos títulos foram tão bem-sucedidos quanto Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas.
Histórias maravilhosas
Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas é um dos filmes de Tim Burton mais lembrados com carinho pelo público, sendo o favorito de muitos em uma carreira que também inclui grandes pilares culturais, como Edward Mãos de Tesoura. O diretor coloca muitas experiências pessoais nessa fantasia que comemora 20 anos de seu lançamento nos cinemas agora em 2023 (no Brasil o filme foi lançado em fevereiro de 2004).
Billy Crudup interpreta um homem que volta para casa quando seu pai, interpretado por Albert Finney, está em seus últimos momentos de vida. O relacionamento entre os dois nunca foi dos melhores, especialmente porque o pai sempre o atraía com histórias malucas que, para ele, não passavam de contos de fadas. Histórias que misturavam realidade e fantasia, que o filho agora terá de desvendar para realmente entender como era a vida de seu pai, que em sua juventude assume a aparência de Ewan McGregor.
O livro Peixe Grande - Uma Fábula de Amor Entre Pai e Filho, do escritor Daniel Wallace, se espalhou como fogo no final dos anos 1990, e rendeu uma adaptação muito agradável. Steven Spielberg esteve perto de adaptá-lo, mas acabou voltando sua atenção para outros projetos. Burton conseguiu se comprometer com o filme, pois ficou comovido com a história, que o tocou profundamente após a morte recente de seus pais.
Fantasia gótica
Columbia Pictures
Burton não se sentia particularmente próximo de seu pai, como o protagonista da história, portanto, essa maneira de encontrar a conexão através da fantasia e das histórias é carregada de muita força emocional. Talvez seja aí que o filme começa a cativar o público, que pode se emocionar ao ser explicado como as histórias acabam contendo muita verdade sobre quem as está contando.
Sua estrutura de vinhetas nem sempre dá o melhor resultado, mas o sensacional trabalho de McGregor e Burton, aqui mais influenciado por uma estética gótica sulista, dão elementos suficientes para ser cativado pela história. Provavelmente um dos últimos filmes verdadeiramente surpreendentes do diretor, antes de ser consumido por tendências rotineiras em que ele parece ter realmente esquecido como contar histórias com prazer.
Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas pode ser alugado em plataformas como Prime Video, Google Play Filmes, YouTube e Apple TV.
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