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    "Vamos matar o Papai Noel", pensou Fábio Porchat para novo especial de Natal do Porta dos Fundos (Entrevista Exclusiva)
    Lucas Leone
    Lucas Leone
    -Redator | Crítico
    Lucas só continua nesta dimensão porque Hogwarts ainda não aceita alunos brasileiros. Ele até tentou ir para Westeros ou o Condado, mas perdeu a hora do Expresso do Oriente. Hoje, pode ser visto escrevendo no Central Perk mais próximo.

    Este ano, o programa deixou de lado a temática religiosa para apostar no terror – ou melhor, em um "filme de vingança", como descreve Porchat.

    "Vamos matar o Papai Noel." Foi o pensamento que Fábio Porchat teve no início deste ano. Não é que lhe falte espírito natalino, mas ele buscava uma ideia inusitada, algo que o Porta dos Fundos nunca tivesse feito. Esquete, Antigo Testamento, Novo Testamento, animação, falso documentário – tudo isso já fora usado no especial de Natal que virou tradição do grupo. Para a nona edição, Porchat queria fugir da temática religiosa, dar um respiro para aqueles personagens, evitar as mesmas piadas.

    Ele chegou à conclusão de que só o Porta seria capaz de liquidar o Papai Noel como presente de Natal para o público. "Achei que daria um bom thriller", conta Porchat em entrevista exclusiva ao AdoroCinema (veja o vídeo na íntegra aqui). E não foi o único a cogitar o fim drástico do bom velhinho.

    "Quando conversei com Jhonatan Marques, o outro roteirista, ele me falou: 'Fábio, tive uma ideia. E se a gente matasse o Papai Noel?' Eu falei: 'Jhonatan, estamos na mesma página. Todos nós queremos matar o Papai Noel.'"

    Paramount+
    Cena de O Espírito do Natal.

    Mas a trama não parava por aí: "E se o Natal resolvesse se vingar?", sugeriu Porchat na época. "Fala-se tão mal do Natal, do encontro em família, do panetone. Imagina se o Natal não gostasse de você também?"

    Assim nasceu O Espírito do Natal, um "filme de vingança" que estreia nesta quarta-feira (21), na Paramount+. Além de corroteirista, Porchat atua ao lado de Evelyn Castro, Antonio Tabet, Thati Lopes, Raphael Logam, João Pimenta, Rafael Portugal e Gregório Duvivier.

    A seguir, confira mais da conversa que tivemos com o humorista:

    Depois de tudo o que o Porta dos Fundos passou por causa dos especiais de Natal – censura, violência, incêndio na sede no Rio, processos –, o que esse projeto virou para vocês? É tipo um xodó, um filho protegido?

    Fábio Porchat: "Para gente, o especial de Natal é bem especial mesmo, desde sempre. Quando a gente fez o primeiro, em 2013, no formato de esquetes, já foi um tour de force, porque a gente queria fazer com qualidade. O primeiro foi sobre Cristo, de época, todo um dinheiro que a gente gastou para ficar bacana. Então a gente sempre tratou o especial como um xodó, um filhote mesmo.

    "Aos poucos, ele foi tomando essa cara, e o público começou a se perguntar o que o Porta faria naquele fim de ano. Até que a gente ganhou um Emmy de Melhor Comédia do Ano. Isso também é bastante representativo. Mostra que a gente apostou certo, está no caminho certo."

    Fábio Porchat e outros humoristas se pronunciam após atentado contra o Porta dos Fundos

    Além de atuar, você é corroteirista do especial, que dessa vez aposta em um formato clássico de terror: um grupo de pessoas preso em uma casa isolada enquanto eventos sobrenaturais acontecem. Claro, sem perder o humor. Como surgiu a ideia e quais referências você usou no projeto?

    "Quando a gente teve a ideia de matar o Papai Noel, e de ele se vingar depois, a gente pensou: 'Vamos fazer de terror? O Porta nunca fez nada de terror, seria ótimo poder experimentar esse gênero diferente.' Para mim, isto é o legal do Porta: a gente tem liberdade total de fazer o que a gente quiser, do jeito que a gente quiser. A gente resolveu então pegar o terror clássico.

    "Não chega a ser uma sátira, não é 'Todo Mundo em Pânico'. Mas a gente se aproveitou de todos os clichês do terror: a trilha sonora, achar que tem alguém ali quando não tem, o grito, o sangue, a cabana, o grupo de jovens que vai para lá, a tensão sexual entre eles… A ideia era brincar com tudo isso trazendo humor. A gente quer que as pessoas deem risadas, claro."

    Paramount+
    Cena de O Espírito do Natal.

    Hoje se fala muito no humor como ferramenta para o oprimido rir do opressor. E o humor também vendo sendo impactado pelo “politicamente correto” e pela “cultura do cancelamento”. Diante disso, você acredita que o humor tem limite?

    "Essa pergunta é sempre curioso, porque ninguém questiona os limites da poesia, do drama, da ficção científica, do terror… A verdade é que o limite é a Constituição. O que é considerado crime, não pode ser feito. O que ela diz que pode, então pode. O limite do humor é o limite da liberdade de expressão de cada um."

    Sua percepção do humor mudou depois desse último governo, da pandemia? Tivemos quase 700 mil mortes no Brasil – entre elas a de Paulo Gustavo –, a volta da fome, o desmonte da educação, da saúde, da cultura. Você leva mais em consideração o que seus projetos podem representar?

    "Só reforça como a gente precisa do humor, como a gente precisa rir, precisa desopilar, desanuviar a cabeça. O humor tem uma função muito importante na sociedade: jogar luz em determinados assuntos e sombra em outros para a gente poder dar risada. Afinal, rir é um ato de resistência porque só nos resta rir."

    Paramount+
    Cena de O Espírito do Natal.

    Quais são suas maiores referências no humor atualmente?

    "Eu assisto de tudo. 'Fleabag', por exemplo, me fez rir muito. 'Modern Family' também. Aqui no Brasil, Regina Casé, Fernanda Torres e Pedro Cardoso são a minha santíssima trindade do humor. Mas claro que bebi na fonte de muita gente da minha geração. Marcelo Adnet, Paulo Vieira, Dani Calabresa, Paulo Gustavo, o pessoal do Choque de Cultura."

    Você chegou a um ponto da fama em que não dá mais a mínima pra hater? Recentemente viralizou um vídeo seu comendo carne com pó de ouro no Catar, e as pessoas te chamando de "esquerda caviar" nas redes sociais. Qual o limite que você estabeleceu para isso na sua vida? Esse ódio todo às vezes vira material de trabalho?

    "Depende do tipo de comentário que está sendo feito. Se é um comentário maluco falando de socialismo, comunismo, aí nem adianta entrar nessa discussão, porque são pessoas que não querem ter uma conversa, e sim xingar, gritar e bater. Se é alguém apontando um equívoco meu, apontando algo errado que eu fiz ou falei, aí não é nem hater. São pessoas te criticando, te ouvindo."

    Para assistir ao papo na íntegra, é só clicar aqui ou dar play abaixo:

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