Babygirl
Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Babygirl

Nicole Kidman brilha com um dos seus papéis mais ousados em Babygirl, suspense erótico provocativo e divertido

por Bruno Botelho dos Santos

O subgênero dos suspense erótico foi muito popular nos anos 80 e 90, com sucessos como Atração Fatal (1987) e Instinto Selvagem (1992). Na época, eles tiveram um impacto importante na quebra de tabus sobre sexo. O problema é que, geralmente, esses filmes eram feitos por homens, com uma perspectiva masculina sobre sexo. É por isso que, em Babygirl, a roteirista e diretora Halina Reijn propõe um novo olhar para o suspense erótico, com Nicole Kidman entregando uma das atuações mais poderosas e destemidas da sua carreira.

Qual é a história de Babygirl?

Diamond Films

Em Babygirl, uma empresária bem-sucedida coloca sua família e carreira em risco em nome de um caso com seu estagiário bem mais jovem. Romy (Nicole Kidman) é uma executiva que conquistou seu posto como CEO com muita dedicação. O mesmo se aplica a sua família e o casamento com Jacob (Antonio Banderas). Tudo o que construiu é posto à prova quando ela embarca em um caso com seu estagiário Samuel (Harris Dickinson), que é muito mais jovem. A partir daí, ela anda na corda bamba de suas responsabilidades e nas dinâmicas de poder que envolvem suas relações.

Nos suspenses eróticos dos anos 80 e 90, era bastante comum uma representação problemática de mulheres, especialmente como femme fatale – arquétipo de mulher sedutora que leva o protagonista masculino à ruína. Babygirl subverte isso, com a liberdade da protagonista explorando sua sexualidade.

Libertação sexual e dinâmicas de poder: Um novo olhar para o suspense erótico em Babygirl

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Babygirl começa com uma cena de sexo de Romy com seu marido Jacob. Ela finge um orgasmo e sai escondida para um quarto, onde se masturba assistindo pornografia. É uma abertura bastante representativa sobre as discussões da trama. A protagonista é considerada socialmente uma "mulher modelo”, CEO de uma empresa e com uma família construída, mas isso cria uma casca na personagem na qual ela reprime o que realmente quer, nessa imagem de perfeição.

Por isso, Babygirl é uma história da personagem interpretada por Nicole Kidman abraçando seus desejos quando ela conhece Samuel, de Harris Dickinson. O roteiro escrito por Halina Reijn trabalha as complexidades nesta busca por emancipação sobre suas vontades e interesses em meio à construções sociais, que envolve libertação sexual e dinâmicas de poder.

O que mais chama atenção na condução da diretora é como ela trabalha de uma maneira bem humorada as situações em Babygirl, particularmente como uma comédia de costume, proveniente da sua experiência anterior em Morte Morte Morte (2022). Isso dá uma característica natural para o relacionamento entre Romy e Jacob, enquanto descobrem juntos essa dinâmica de dominação-submissão – por mais que isso acabe se tornando um tanto repetitivo ao longo da produção.

O mais interessante é como Halina Reijn não cai na armadilha de julgamentos simplistas e condenação moral sobre a personagem de Nicole Kidman. No final das contas, é realmente uma história sobre a liberdade feminina, o prazer que muitas vezes é negado para as mulheres em uma sociedade patriarcal.

Nicole Kidman brilha em Babygirl com um dos papéis mais ousados e desafiadores da sua carreira

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Aos 57 anos, é difícil encontrar algo que Nicole Kidman não tenha feito ou conquistado em uma das carreiras mais celebradas de Hollywood, vencedora do Oscar de Melhor Atriz por As Horas (2002) e com mais outras quatro indicações no currículo.

Mesmo assim, Babygirl apresenta um dos maiores desafios na carreira de Nicole Kidman, visto que ela se entrega de corpo e alma em uma atuação corajosa e destemida como Romy. Isso aparece não só nas cenas de sexo, mas também na forma como a atriz transita entre nuances da personagem, entre seu lado mais poderoso, em sua posição de CEO, assim como suas fragilidades além disso.

Por mais que existam cenas de sexo intensas no filme, é nítido o cuidado de Halina Reijn em filmar esses momentos de intimidade, de forma autêntica e real, sem explorar a atriz e sua personagem – como a própria Nicole Kidman afirmou.

É uma produção erótica, mas o foco está mesmo no desenvolvimento psicológico da protagonista, assim como sua dinâmica de poder com o estagiário. Falando nele, Harris Dickinson funciona perfeitamente no papel de Samuel, especialmente pelo lado mais sedutor e ousado, mas o que chama mais atenção é sua química natural e crescente com Nicole Kidman em momentos mais íntimos. O melhor exemplo aqui é uma das cenas mais icônicas de Babygirl, quando ele dança a música "Father Figure", de George Michael.

Vale a pena assistir Babygirl?

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Halina Reijn disse que Babygirl é "uma resposta para De Olhos Bem Fechados", clássico de Stanley Kubrick onde a personagem de Nicole Kidman conta para seu parceiro Tom Cruise sobre uma fantasia sexual que teve com outro homem, o que o coloca em uma espiral de paranoia. A diretora quer que as mulheres explorem suas fantasias como uma liberdade das pressões e dos papéis impostos pela sociedade.

Comandado por uma atuação ousada e desafiadora de Nicole Kidman, que deve lhe render mais uma indicação ao Oscar, Babygirl discute sobre as complexidades da libertação sexual e dinâmicas de poder de forma profunda e bem humorada.

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