Desde seu primeiro material promocional, Canina não inspirou muita confiança. O trailer parecia vender um filme estranho e sem propósito, destacando apenas a transformação de Amy Adams em um cachorro sem contextualizar direito a história ou os temas que o filme abordaria. Para uma atriz com uma carreira tão respeitável, mas que vinha de escolhas duvidosas nos últimos anos, tudo indicava que essa seria mais uma decisão equivocada. No entanto, ao assistir ao filme, a impressão inicial se revela enganosa – Canina não é a bagunça completa que o trailer sugeria, mas também não é uma obra de grande impacto.
Dirigido por Marielle Heller (Poderia Me Perdoar?), com roteiro baseado no livro de Rachel Yoder, Canina surpreende por abordar temas mais profundos do que se esperava, como maternidade, pressão social e identidade feminina. O filme acompanha a protagonista, interpretada por Amy Adams, uma mãe que se sente exausta e perdida na rotina doméstica. Ela ama o filho, mas não se sente naturalmente inclinada à maternidade, e esse conflito interno permeia toda a trama. Adams entrega uma atuação convincente, mas não chega a ser um dos grandes destaques de sua carreira – sua performance segura é prejudicada por um roteiro que, embora traga boas reflexões, não se aprofunda tanto quanto poderia.
O tom do filme mistura drama e comédia, com alguns elementos de terror. Em certos momentos, a relação entre mãe e filho traz cenas leves e até divertidas, contrastando com sequências mais intensas e simbólicas, especialmente as que envolvem a transformação da protagonista. Essa metamorfose pode ser interpretada tanto como realismo mágico quanto como uma metáfora para a gravidez e o processo de autodescobrimento, mas o filme não explora isso de forma muito profunda. A sensação que fica é que a narrativa flerta com ideias interessantes, mas tem medo de mergulhar nelas de verdade.
Visualmente, Canina tem momentos interessantes, especialmente nas cenas em que explora a transformação da protagonista, mas, no geral, a direção de Heller é funcional e sem grandes ousadias. O roteiro também não se arrisca muito, preferindo explicitar suas mensagens em vez de deixar espaço para interpretações mais sutis. Isso faz com que o filme pareça um pouco didático demais, algo que pode funcionar para quem busca uma experiência mais acessível, mas que pode frustrar quem espera algo mais elaborado.
No final, Canina se destaca mais pelo que tenta fazer do que pelo que realmente entrega. É um filme que tem boas intenções e até momentos de impacto, mas que poderia ter ido além. Ainda assim, é uma experiência válida, especialmente para quem se identifica com os dilemas da protagonista. Não chega a ser uma grande surpresa positiva, mas está longe de ser a bomba que o trailer sugeria. Um filme mediano, que funciona dentro de sua proposta, mas que não vai muito além disso.