Dirigido por Julius Onah (The Cloverfield Paradox), Capitão América: Admirável Mundo Novo (2025) é o quarto filme solo do herói, mas o primeiro estrelado por Anthony Mackie como Sam Wilson no papel principal. Longe de ser apenas mais um blockbuster de super-heróis, o filme mergulha em questões políticas contemporâneas, explorando temas como nacionalismo, identidade racial, e o legado da América como símbolo global.
O Peso do Manto: Sam Wilson como um Capitão América Negro
Sam Wilson (Anthony Mackie) assume oficialmente o escudo após os eventos de The Falcon and the Winter Soldier (2021), mas sua jornada não é sobre superpoderes, e sim sobre legitimidade.
O filme questiona: O que significa ser "Capitão América" em um país dividido?
Enquanto Steve Rogers era um símbolo de patriotismo ingênuo (um homem branco dos anos 1940), Sam é um veterano negro no século XXI, lidando com a desconfiança de ambos os lados do espectro político.
Isso ecoa Frantz Fanon (Os Condenados da Terra), que discute como o colonizado internaliza a identidade imposta pelo opressor. Sam não só carrega o escudo, mas também o peso de representar um país com um passado racista.
O filme poderia ter explorado mais a reação da sociedade à ideia de um Capitão América negro. Em Falcon and the Winter Soldier, isso foi abordado, mas aqui parece mais contido.
O "Admirável Mundo Novo" e o Controle Governamental
O título do filme é uma referência direta ao livro Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, que retrata uma sociedade controlada por um governo autoritário sob a ilusão de harmonia.
O filme apresenta o Soro do Super soldado como uma arma de controle estatal, distribuído secretamente para criar uma nova geração de soldados leais.
Isso lembra Michel Foucault (Vigiar e Punir), sobre como o poder se exerce através do corpo e da biopolítica.
Também dialoga com Noam Chomsky (Manufacturing Consent), mostrando como a mídia e o governo manipulam a opinião pública para justificar intervenções militares.
A trama do soro poderia ter sido mais desenvolvida. O filme toca no tema, mas não mergulha fundo nas implicações morais.
O Vilão como Espelho do Herói
O principal antagonista é Isaiah Bradley (um super soldado negro esquecido pela história), agora radicalizado e liderando uma rebelião contra o governo.
Bradley representa o que Sam poderia se tornar se perdesse a fé no sistema.
Isso lembra *W.E.B. Du Bois (The Souls of Black Folk), sobre a "dupla consciência" do negro americano: lutar por justiça dentro de um sistema que historicamente o oprime.
Também evoca Malcolm X vs. Martin Luther King Jr.: Bradley é a revolução violenta; Sam, a mudança dentro do sistema.
O conflito entre Sam e Bradley poderia ter tido mais peso emocional. Suas cenas juntos são poderosas, mas o roteiro não as explora o suficiente.
Anthony Mackie entrega uma atuação sólida, mostrando a vulnerabilidade de Sam.
As cenas de ação são bem coreografadas, especialmente os combates aéreos com as asas do Falcão.
O filme não tem medo de ser político, algo raro no MCU pós-Vingadores: Ultimato.
O ritmo é irregular—algumas cenas políticas são interessantes, mas outras parecem apressadas.
O CGI em algumas sequências é questionável (um problema recente da Marvel).
Falta um vilão memorável; Bradley tem potencial, mas não é tão carismático quanto Killmonger ou Zemo.
Um Filme Necessário, Mas Imperfeito
Capitão América: Admirável Mundo Novo é um dos filmes mais corajosos do MCU recente, abordando temas como racismo, militarismo e identidade nacional com uma franqueza que lembra Pantera Negra (2018). No entanto, sofre com alguns problemas de roteiro e execução.