Tom Cruise salva o mundo em despedida épica e dramática no último filme de Missão: Impossível
por Bruno Botelho dos SantosQuando o primeiro Missão: Impossível chegou aos cinemas em 1996, dirigido por Brian De Palma e inspirado na série de TV exibida entre 1966 e 1973, ninguém poderia imaginar os rumos e a grandiosidade que a franquia iria alcançar ao longo dos anos. As continuações, cada vez maiores e mais ousadas, refletiam não apenas o período em que foram lançadas, mas também as necessidades e ambições de Tom Cruise em se provar como a verdadeira estrela de ação de Hollywood.
Ethan Hunt começou sua jornada nas telonas em uma escala menor, mas não menos tensa, com a cena clássica na qual ele invade o cofre da CIA, mas progressivamente colocou sua vida em risco ainda mais nos anos seguintes, escalando o Burj Khalifa, mergulhando em um tanque de água, pendurando em um avião, pilotando helicóptero, saltando de paraquedas, entre várias outras sequências de tirar o fôlego.
Missão: Impossível – O Acerto Final (2025) carrega a responsabilidade de encerrar essa história de quase 30 anos no cinema envolvendo Ethan Hunt e Tom Cruise, sequência de Missão: Impossível 7 - Acerto de Contas Parte 1 (2023) – que foram planejadas originalmente como uma conclusão, em duas partes. Um adeus cheio de falhas, mas com muito do coração e das ambições que fizeram essa franquia tão querida.
Nos eventos de Acerto de Contas, Ethan Hunt (Tom Cruise) e sua equipe da IMF tentaram impedir as consequências trágicas da Entidade, uma inteligência artificial desonesta e autoconsciente, no sistema global de computadores. Agora, em Missão: Impossível – O Acerto Final, eles correm contra o tempo para encontrá-la, evitando que a Entidade molde o destino da realidade que conhecemos hoje e destrua a humanidade.
Os filmes de Missão: Impossível sempre captaram muito bem o espírito de seu tempo e O Acerto Final reflete as ansiedades na era da pós-verdade em que vivemos, com a disseminação de fake news, controle e manipulação de informações. O roteiro escrito por Erik Jendresen e Christopher McQuarrie se aproveita disso para construir tensão e paranoia pela ameaça global da Entidade instaurando um caos mundial e assumindo o controle de diferentes nações, criando um cenário apocalíptico na narrativa.
O filme se assume como uma tragédia bíblica, o que fica claro em diversas referências e simbolismos, e coloca Ethan Hunt como uma figura messiânica, salvador da humanidade na batalha contra a inteligência artificial. Desta forma, o próprio Tom Cruise está fazendo também seu manifesto em defesa do cinema.
Em um momento onde o uso de IA no cinema é um tópico cada vez mais discutido e controverso na indústria, um dos principais assuntos na greve de atores e roteiristas que paralisou Hollywood em 2023, o ator tem como missão provar que a atividade humana é insubstituível na era do streaming e dos algoritmos – assuntos que ele já havia explorado anteriormente em Missão: Impossível 7 e Top Gun: Maverick.
Missão: Impossível – O Acerto Final estabelece a maior ameaça da franquia em relação aos riscos se tratando da Entidade, uma vilã manipuladora, invisível, onipresente e onisciente. Levando isso em conta, o filme assume para si uma carga bastante melodramática, com o peso do mundo nas costas de Ethan Hunt.
Ele precisa não apenas salvar a humanidade em uma escala global nunca vista nos filmes anteriores, mas também a vida de sua equipe e seus amigos Benji (Simon Pegg), Luther (Ving Rhames) e Grace (Hayley Atwell). Essa espécie de drama familiar sempre esteve presente ao longo da saga, mas ganha consequências mais dramáticas do que nunca, o que funciona pelas dinâmicas e relacionamentos que acompanhamos há anos. Ethan Hunt sempre foi uma imagem de herói e a tragédia sempre esteve ao seu lado. O fardo de todo seu passado e suas escolhas estão refletidos aqui.
“Vivemos e morremos nas sombras pelos entes queridos e pelos que nunca conhecemos”
Ao mesmo tempo que isso cria um senso de tensão e gravidade importante para a dramaticidade da produção, ela acaba se levando a sério demais em alguns momentos – deixando um pouco de lado um tom mais descontraído e cômico que a maioria dos filmes da franquia sabem aproveitar bem, caindo às vezes em sentimentalismo barato.
O grande problema de O Acerto Final é que ele tem muitas ideias e assuntos para comentar, além de ser apresentado como um capítulo de encerramento, então sofre com explicações excessivas e recapitulações de eventos anteriores que travam a trama. Com 2 horas e 49 minutos de duração, a primeira parte praticamente não tem cenas de ação, reservada para diálogos expositivos sobre a ameaça que eles estão enfrentando. É algo que seu antecessor soube lidar muito melhor, mantendo uma tensão e adrenalina constante encaixada naturalmente com suas temáticas.
Grandes diretores passaram pela franquia Missão: Impossível, como Brian De Palma, John Woo, J.J. Abrams e Brad Bird, mas Christopher McQuarrie foi o que conseguiu construir a parceria mais sólida com Tom Cruise ao entender, e aproveitar ao máximo, da fisicalidade do ator e sua ânsia para se superar como astro de ação.
Missão: Impossível - Nação Secreta (2015), Missão: Impossível - Efeito Fallout (2018) e Missão: Impossível 7 - Acerto de Contas Parte 1 (2023) elevaram o patamar da franquia. Apesar do enorme desafio, Missão: Impossível – O Acerto Final corresponde às expectativas com duas cenas de ação que estão entre as mais impressionantes e tensas de Ethan Hunt, na água e no ar, uma dele mergulhando para encontrar o submarino Sevastopol e outra do protagonista pendurado em um avião.
São as sequências mais arriscadas que Tom Cruise fez em sua carreira e ele arriscou sua própria vida nas filmagens, mas o resultado é de tirar o fôlego. O público vai sentir uma montanha-russa de emoções, tanto pelo silêncio e angústia com Ethan debaixo d'água, quanto pela adrenalina e tensão do protagonista lutando em um avião. Essas cenas mostram o nível que Missão: Impossível alcançou e, de certa forma, conseguem provar o ponto de Cruise sobre a força da experiência cinematográfica.
Missão: Impossível - O Acerto Final foi lançado como o capítulo final de Ethan Hunt em uma jornada que acompanhamos desde 1996. Apesar de Tom Cruise já ter comentado que gostaria de continuar na franquia, a história do oitavo filme é construída como uma despedida do personagem, o próprio tom melancólico prova isso – ainda que tenha brechas para sua continuação.
Temos o capítulo mais dramático da franquia, com Ethan Hunt carregando a responsabilidade de salvar o mundo e seus amigos. É uma das suas aventuras mais inconsistentes, demorando para engrenar e lotado de explicações e recapitulações que atrapalham seu ritmo. Mas, como vimos ao longo de décadas, não tem nada mais empolgante do que o Tom Cruise arriscando sua vida com cenas de ação e, aqui, temos as mais impressionantes e tensas de sua carreira.
No final das contas, Tom Cruise e Ethan Hunt salvaram o mundo – pelo menos um pouco – com suas missões impossíveis no cinema.