Desde sua concepção, O Brutalista parece ter sido planejado para ser um candidato natural às grandes premiações. Com um tema denso e contemporâneo, abordando o pós-guerra e a jornada de um imigrante em busca do chamado "sonho americano", o filme toca em questões sociais relevantes e de grande impacto. Além disso, o longa conquistou o Leão de Prata no Festival de Veneza, consolidando Brady Corbet como um diretor de peso. No entanto, se por um lado o filme busca entregar uma experiência artística única, por outro, sofre com escolhas estilísticas que o tornam excessivamente rígido, introspectivo e, por vezes, monótono. Corbet, ao invés de simplesmente contar uma história, impõe uma estética que busca reproduzir o próprio movimento brutalista de forma visceral, o que pode afastar grande parte do público.
Corbet não quer apenas que O Brutalista seja compreendido, mas sim sentido. A frieza e rigidez do movimento arquitetônico são transportadas para a tela de maneira quase experimental. O filme não se contenta em apenas usar o brutalismo como pano de fundo narrativo, mas sim aplicá-lo em sua própria estrutura. A forma como a câmera é posicionada, sempre remetendo a ângulos imponentes que simulam a ascensão de um prédio, os cortes abruptos na edição e a fotografia que privilegia tons de concreto e cinza fazem com que a experiência do espectador se assemelhe à contemplação de uma obra arquitetônica fria e intransigente. A proposta é sem dúvida ambiciosa, e em muitos momentos funciona. As sequências em que o protagonista projeta suas construções, a forma meticulosa como cada elemento é planejado e o impacto visual da arquitetura na tela são pontos altos. Quando o filme se debruça sobre a grandiosidade do brutalismo, há uma verdadeira imersão estética. Entretanto, o problema surge quando Corbet aplica essa mesma rigidez à narrativa.
A trajetória do protagonista, vivido por Adrien Brody, é um prato cheio para uma narrativa envolvente. Como imigrante tentando se estabelecer em uma nova terra, enfrentando dificuldades e preconceitos, o personagem tem um arco que poderia carregar facilmente um drama poderoso. E Brody entrega uma performance excelente, reforçando sua capacidade de se transformar para papéis intensos e complexos. Seu desempenho é um dos grandes trunfos do filme, dando vida a um personagem que carrega nos olhos o peso de sua luta. No entanto, a narrativa se mostra fragmentada e sem um real desenvolvimento coeso. A primeira parte do longa estabelece bem o contexto e tem um ritmo envolvente, mas após a pausa de 15 minutos, a trama se arrasta em um ritmo estagnado. Mesmo com passagens de tempo e mudanças na vida do protagonista, o filme transmite uma sensação de imobilidade – o que pode ter sido uma escolha consciente para refletir a solidez do brutalismo, mas que, na prática, resulta em um desgaste para o público. Diferentemente de outros filmes longos que conseguem manter o espectador imerso, O Brutalista torna suas três horas perceptíveis e, em muitos momentos, cansativas.
Além disso, o longa introduz debates sobre imigração, adaptação cultural e luta por reconhecimento, mas nunca os desenvolve com profundidade. Corbet parece mais preocupado com a estética do que com a substância da narrativa. O filme começa com grande impacto, mas aos poucos vai se tornando repetitivo, perdendo a força inicial. E quando a história tenta assumir uma nova direção, misturando elementos de vingança e redenção, a mudança soa abrupta e desconectada do que foi construído até ali.
O Brutalista é uma obra visualmente impressionante e conceitualmente ambiciosa, mas que sofre por suas escolhas narrativas. Corbet claramente quer que o público viva a experiência do brutalismo na tela, e isso se reflete em cada aspecto técnico do filme. O problema é que, ao se prender tanto a essa estética, ele sacrifica o ritmo e o desenvolvimento da história, tornando o filme mais uma experiência artística do que um drama envolvente. Adrien Brody brilha no papel principal, entregando uma atuação digna de reconhecimento, mas até seu talento tem dificuldades para sustentar o filme por completo. No fim, O Brutalista é uma obra que impressiona pelo rigor estético, mas que pode frustrar pela falta de dinamismo narrativo. É um filme que exige paciência e que pode conquistar alguns espectadores pelo impacto visual, mas que, para muitos, se tornará um exercício cinematográfico excessivamente árido e impessoal.