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    Alma de Cowboy
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Alma de Cowboy

    Entre a tradição e o contemporâneo

    por Barbara Demerov

    A cultura dos cowboys está tão presente no DNA norte-americano a ponto de ter gerado um gênero cinematográfico completamente identificado com o tema, o western. Elementos como honra e heroísmo costumam dar o tom nesse tipo de história, e também se fazem presentes em Concrete Cowboy. A produção troca as paisagens dos cânions e estradas de terra do Velho Oeste pelas casas precárias e as ruas asfaltadas de um bairro da zona norte da Philadelphia contemporânea. É lá que um grupo de pessoas dedica a vida a cuidar da criação de cavalos em uma condição não totalmente aprovada pela lei, mas que funciona há anos devido ao carinho pelo qual exerce tal função.

    É neste cenário que desembarca o protagonista Cole (Caleb McLaughlin, de Stranger Things), após ser dispensado pela mãe, cansada dos problemas de comportamento dele. O adolescente se vê abandonado na porta da casa do pai (Idris Elba, também um dos produtores do filme), com pouco mais do que a roupa do corpo e um relacionamento a ser reparado.

    Enquanto a aprende a limpar a sujeira dos animais e conhece os colegas do pai, Cole também retoma o contato com um antigo amigo (Jharrel Jerome). Nessa reaproximação, tem um vislumbre do que pode se tornar sua vida caso não passe a endireitar seu rumo: o envolvimento com gangues violentas e o tráfico de drogas. A métafora é simples, até mesmo óbvia. Assim como os cavalos dos estábulos à sua volta, o protagonista também precisa ser domado. Porém, o longa diz pouco sobre as motivações de Cole. Não se sabe, por exemplo, de onde vem a raiva capaz de fazê-lo tomar atitudes que levaram sua própria mãe a abandoná-lo. Ou, também, por que sua relação com o pai sempre foi tão difícil.

    Estreante em longas-metragens, o diretor Ricky Staub procura compensar a falta de profundidade do texto abusando de recursos como imagens em câmera lenta ou cenas de movimentação frenética com a câmera na mão. Como consequência, Concrete Cowboy acaba por nunca encontrar seu verdadeiro tom. Como o filme se apoia tanto em elementos conhecidos do cinema norte-americano e não na história do jovem protagonista (que possui um estilo coming of age), ele acaba entregando um emaranhado de temas e assuntos que não possuem tanta força.

    Curiosamente, uma das partes mais interessantes surge apenas nos créditos. É quando revela-se que muitos dos atores em cena até então são, na verdade, personagens reais, parte do clube Fletcher Street, grupo de cowboys urbanos que existe até hoje na Philadelphia. Com isso, fica a impressão final de que estas histórias poderiam render muito mais do que o drama formulaico criado para ser a espinha dorsal do filme.

    Filme visto durante o Festival de Toronto, em setembro de 2020.

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