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    Baixo Centro
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Baixo Centro

    A alma encantadora e perigosa das ruas

    por Taiani Mendes

    Grande vencedor da Mostra Aurora do Festival de Tiradentes 2018, Baixo Centro compõe com A Cidade Onde Envelheço (Melhor Filme do Festival de Brasília 2016) e Estado Itinerante (Melhor Filme da Semana dos Realizadores 2016) uma consistente trinca de obras sobre a vida urbana em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Periferia, violência, relacionamentos fraternos e amorosos, fugir e se encontrar são tópicos das produções anteriores que reaparecem no filme de Ewerton Bélico e Samuel Marotta.

    Notoriamente mais “rueiro” e liberto de padrões narrativos do que os outros, Baixo Centro não tem uma trama principal, mas sim personagens flâneurs que vivem diferentes experiências em avenidas iluminadas por lâmpadas alaranjadas, praças vazias, jardins secretos, vielas silenciosas, casas sombrias e ônibus raros. É interminável noite, a música é o hip-hop e as aglomerações são imóveis. Só os personagens principais estão sempre circulando, desgarrados e ansiosos. Expõem de maneira lacunar traumas, passagens do passado recente e certa intimidade, mas permanecem do início ao fim desconhecidos, como estranhos com quem nos acostumamos, sem escolha, a esbarrar.

    Essa distância emoldurada em planos fixos deixa o público em posição de testemunha pouco estimulada a se importar, apesar dos problemas extremamente conhecidos que os protagonistas enfrentam. Igualmente frustrante é o fato do drama quase documental ter empolgante primeiro ato com enérgico rap feminino, singelo nascimento de uma história de amor e imagens sem movimento (fotografias) e depois abandonar totalmente a experimentação em formato – nada inédito, mas bem usada na breve iluminação. Faria a diferença.

    Às vezes musical, às vezes compilação de isoladas sequências de impacto visual, Baixo Centro é composto por relações frouxas e incertas, marcadas por falhas de comunicação e desaparecimentos. Gu (Renan Rovida) e Luisa (Barbara Colen) se encontram no abandono, Robert (Alexandre de Sena) e Teresa (Cris Moreira) têm fugas em comum e o Djamba de Marcelo Souza e Silva, o “Doidinho da câmera”, se divide entre a busca do registro e o resguardamento por opressão. Dotado de importância maior na trama, o segundo “conto” acaba sendo o pior, por todo o potencial inexplorado em termos raciais e sociais e a terrível performance de Moreira.

    Vidas soltas planam ao som de sinfonia desafinada de tom mórbido, em região secretamente cercada pela polícia assassina de pretos e pobres. A noite no centro nunca foi para os caretas e agora não é recomendada a ninguém. Apesar dos gritos reais e alguns temas fundamentais, no entanto, a desconexão pulula no presente reconhecível de Baixo Centro. Fácil se perder por ali, difícil aqui encontrar de verdade essas pessoas.

    Filme visto no 7º Olhar de Cinema, em junho de 2018.

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