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    O Homem que Cuida
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    O Homem que Cuida

    O homem obediente

    por Francisco Russo

    É tão raro ter a oportunidade de assistir a um filme feito na República Dominicana que, de imediato, vem a curiosidade sobre como seria sua visão de cinema - que, obviamente, reflete também a própria sociedade local. Coprodução brasileira, O Homem que Cuida responde parcialmente esta pergunta, desvendando um cenário até bastante parecido com o que ocorre no Brasil: o da exploração das classes trabalhadoras pela elite econômica.

    Tal situação é apresentada a partir de Juan, que dedica a vida a cuidar da casa de praia de um ricaço local. Mais do que manter tudo arrumado e resolver os problemas inevitáveis causados pelo tempo, Juan cuida do local com extremo rigor e como se fosse seu, ao ponto de até mesmo comprar briga com amigos que tentam se aproveitar das dependências. Da mesma forma, ele próprio se exclui de possíveis benesses, de forma a manter tudo brilhando, ao gosto do patrão.

    Tamanha submissão é posta à prova quando o filho do patrão chega ao local, juntamente com um amigo e uma garota que conheceu pouco antes. Eles, brancos; ela, negra - assim como Juan. A divisão econômica a partir da cor da pele é imediatamente estabelecida, com a elite branca que manda e a classe trabalhadora negra que obedece. Karen, a intrusa, também se adequa ao contexto. Interessada em aproveitar o local, ela oferece o que tem à disposição: o próprio corpo. É o início de uma ciranda entre os personagens onde, cada vez mais, fica nítido o preconceito existente, seja ele de gênero, de cor ou de classe social.

    De certa forma, O Homem que Cuida lembra bastante o brasileiro A Frente Fria que a Chuva Traz, dirigido por Neville D'Almeida. O discurso odioso do preconceito é o mesmo, ambos possuem uma mulher que se sujeita ao menosprezo para usufruir do universo da elite. A diferença é que, neste caso, há uma aceitação tácita impressionante, que incomoda pela extrema passividade. Serviçal ao extremo, Juan não reage. Seu comportamento rude faz com que, ele próprio, despreze sua própria gente, em uma situação bastante semelhante à do personagem de Samuel L. Jackson em Django Livre. Não há mocinhos nesta história, nem mesmo justificativas: o mundo é assim e é preciso aceitá-lo, sem contestações. Simples assim.

    Diante deste panorama, O Homem que Cuida funciona apenas como retrato de uma realidade sócio-econômica arrogante e preconceituosa, sem ir além. Sem conflito ou questionamentos, o filme segue passivo até o derradeiro desfecho. Se até funciona como incômodo, o filme fracassa não só pelo desenvolvimento da narrativa mas, também, pelas atuações ruins. Do inexpressivo Héctor Aníbal, intérprete de Juan, ao filho do patrão (Yasser Michelen), o longa entrega um punhado de atores limitados que se atém a estereótipos. A única exceção é Julietta Rodriguez, intérprete de Karen, que ainda assim é desperdiçada devido ao mal aproveitamento de sua personagem dentro da história.

    Filme visto no 27º Cine Ceará, em agosto de 2017.

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